Aposto que você conhece a minissérie que dá título ao artigo e não, não foi uma tentativa de explorar qualquer aspecto fetichista que alguém pode achar que esse anime infanto-juvenil queira ter, quis mesmo foi zoar com o nome e a nacionalidade (quantas brasileiras a gente vê em animes mesmo?) da nova personagem que se destacou nesse episódio.

Aliás, que boa apresentação a dela, hein? A garota agregou bastante a perspectiva de evolução do time com seus comentários afiados e foco no sucesso esportivo. Anita é forte como o estereótipo bom da mulher brasileira e saiba que estou puxando sardinha sim, nesse caso, não vejo problema. É hora de Major 2nd no Anime21!

Gostei de como a cena inicial já trabalhava com uma ideia que pode sim andar lado a lado com a igualdade de gênero dentro do esporte, a percepção do sexo oposto, no caso da cena, do irmão que nota “curvas” devido ao desleixo da irmã. Uma coisa não anula ou prejudica a outra, afinal, o time da Fuurin é misto, achar o equilíbrio entre as coisas é importante.

Digo, não deixar que esse elemento pegue o público desprevenido quando for acessado e ele vai ser acessado eventualmente, é natural que seja. A princípio com a Sakura que tem sentimentos por um companheiro de time, mas não seria incomum que outra garota ou garoto visse um(a) colega com outros olhos com a convivência, né?

Inclusive, pensei que a cena do Daigo conversando com a Sakura no final fosse dar mais uma palinha nesse sentido, mas não, o foco foi dado ao que realmente importava, mostrando que sim, há equilíbrio entre o que quer ser dito e quando, isso sem deixar de reconhecer que as interações entre os jovens, principalmente a partir dessa idade, os 12 e 13 anos, comportam vários aspectos que não eram usuais até essa época.

Enfim, quase tudo que tinha que dar errado meio que deu e essa me parece uma marga registrada de Major (ao menos é do 2nd), a inserção de empecilhos no caminho do protagonista e dos outros jogadores. E é melhor que seja desse jeito, ter um time cheio com um bom técnico e nenhum desafio a ser encarado as pressas minimizaria o potencial da trama.

É desse jeito “torto” que os personagens de Major 2nd brilham, se adaptam a situações adversas. Aliás, a abertura já entregava a configuração do time, eu que pensei que se tratava apenas de opção de apresentação por falta de espaço para aproveitar todos na abertura. Não é isso e, na verdade, nem faz sentido que seja, pois a perspectiva é que todos do time sejam aprofundados em um bom nível.

Uma ideia que considero formidável já que é incomum ver um time esportivo misto com predominância feminina, além da ideia de desequilíbrio entre homens e mulheres, por favorecimento a eles, já ter começado a ser explorada. Não é como se essas garotas tivessem que provar algo ao público, mas elas vão ter que mostrar do que são feitas nos jogos, né?

E não só isso, com certeza algumas delas já devem ter tido experiências nada divertidas no basebol apenas por serem garotas. Não a`toa a Anita trouxe isso a tona, não para subjugar e se impor perante ninguém, mas para não ser subjugada e só assim perpetuar a igualdade entre os gêneros. Seria idiota não explorar esse aspecto realista do preconceito que mulheres sofrem em praticamente qualquer área apenas por serem mulheres.

Por mais que o esporte no Japão seja levado a sério e o nível de dedicação dos atletas, independentemente da idade, seja alto, isso não impede que essas barreiras existam. Elas existem, o mundo é assim, a sociedade japonesa é assim, mas é com pessoas que lutam contra isso que a sociedade vai gradativamente mudando, e sem precisar desequilibrar as coisas, apenas ajustá-las. Uma personagem como a Anita personifica isso.

Aliás, a apresentação das novatas foi o destaque da vez. Uma é “fofa” e simpática, a Chisato, ainda não deu para conhecer muito bem ela, enquanto a outra, a Anita, é objetiva e “intensa”. O “fofo” aqui traduz a imagem externa, o máximo que deu para perceber, da personagem, enquanto o “intenso” é mais uma característica de personalidade. Nesse episódio já deu para sacar quem é Anita, como pensa e age, e o que quer também.

Ela ser brasileira me pegou de surpresa (foi algo bem aleatório), mas a explicação de que tem pai japonês e ele é da região de Kansai (acho que isso justifica seu jeito diferente de falar japonês, porque ela fala em dialeto de região) contextualizou bem de cara porque uma brasileira havia sido inserida naquele contexto. Inclusive, penso que isso justifica bem sua personalidade mais espontânea, insistente mesmo.

O brasileiro é conhecido por ser um povo caloroso, e assim despojado, tanto que muitas vezes chega a ser ríspido, enquanto a imagem que um ocidental tem do povo japonês não é essa, né, ao menos se não estiverem mentindo para o público otaku ao redor do mundo…

Se não estiverem fazendo isso eu consigo entender não só o tom de pele da garota (japoneses com tom de pele escurecido não são tão comuns, há mais em regiões específicas e não lembro se é o caso de alguma ilha de Kansai), mas também seu jeito de ser.

Sendo assim, o atrito era certo, só faltava saber com quem ele se daria com maior intensidade e foi justamente com a Mutsuko. Imagino que ela forme bateria com a Anita e o Daigo com o novato, acho que seria uma boa forma de ambos “criarem” seus kouhais, além de trazer um ar de competitividade a relação dos dois. Enfim, a Mutsuko perdeu a cabeça e isso foi uma coisa boa.

Se há atrito e não falta vontade e comprometimento, então o que falta é atenção a aspectos que visam a melhora do time. A Anita me pareceu querer a vaga de titular por ter confiança no seu talento, não por vaidade, então foi bom que cobrasse mais dos companheiros. Ao lado de pessoas que não se satisfazem com pouco atletas têm mais chances de se desenvolver, de extrair o máximo de seu potencial, na carreira.

Para quem não está acostumada a ser criticada também entendo a reação da Mutsuko (além dela só ter 13 anos, tem maturidade para algumas coisas e não para outras) e não acho que ela estava “favorecendo” o Daigo por ser homem (muito menos por gostar dele) e sim pensando em sua posição hierárquica.

Se fosse uma amiga sua em posição superior sendo questionada acho que ela a defenderia do mesmo jeito, mas, de toda forma, é bom que a discussão seja jogada em tela. Contestar a fim de saber onde se está pisando é uma atitude sensata e, repito, agrega mais que apenas aceitar ordens sem qualquer justificativa plausível.

Devem haver garotas que “bajulam” garotos, até para “sobreviver” em ambientes costumeiramente muito masculinos, e isso deve ser evitado. A Chisato, por exemplo, me pareceu simpática até demais e talvez ela seja explorada para debater o problema. O importante é que o público veja diferentes formas de lidar com diferentes situações, as não incômodas as pessoas do ambiente, mas principalmente as que incomodam a alguém.

Não esperava menos de Major 2nd que uma caracterização consciente do ambiente incomum (afinal, dois terços do time é formado por garotas) retratado no anime, contemplando não só os aspectos positivos, mas também negativos da convivência e do desenvolvimento no esporte. Os meninos podem ser minoria no time de basebol da Fuurin, mas isso não significa que problemas não vão surgir.

O Nishina mesmo chegou menosprezando o time por ser formado majoritariamente por garotas, quero ver como vão agir garotos, e talvez até mesmo garotas, de outras escolas. A estrada é longa, mas o anime está no caminho certo para o objetivo, que não é só fazer o time disputar os campeonatos e quem sabe vencê-los, mas também entregar uma mensagem edificante através das experiências vivenciadas pelos personagens.

Por fim, a breve conversa do Daigo com a Mutsuko foi bem bacana e mais uma vez reforçou a impressão positiva que ele deixou como capitão. Como capitão ele precisa agir ainda mais pensando no bem do time que em ganho próprio, e ele fez isso, não tumultuando o ambiente com uma disputa que no momento não agregaria em nada. Com o torneio se aproximando imagino que definir logo titulares e reservas passe a ser importante.

Se eles tivessem um treinador o Daigo poderia se focar em ser só receptor, capitão do time e presidente do clube (o que por si só já é muito), como não têm e a conselheira não manja nada do assunto o jeito vai ser ele acumular funções, desempenhando um papel de treinador que tenho convicção que agregará a sua formação como atleta. Ademais, espero treinamento, desconfiança para o lado do Daigo e o surgimento de uma paixão?

Quem sabe… Veremos! O mais importante para mim é que você se divirta com o anime e acompanhe meus artigos, prometo dar meu melhor e tentar melhorar semana a semana (um pouco como os próprios personagens).

Até a próxima!

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