Metrópolis – A revolução é um prato que se come frio
O grande Zigurate. O templo da lua, mecanismo bélico reservado para a adoração e residência do novo Deus de Marduque, que por intermédio do roteiro, tem por alcunha a palavra Duke, ou mais precisamente, Red Duke.
Na cidade de Metrópolis, centro cosmopolita do ápice tecnológico humano, encontramos a trama percorrida pelos detetives Hige, e seu sobrinho, Kenichi. Ambos caçam o cientista Laughton, que fugiu e, posteriormente, foi tanto amparado quanto financiado por Duke.
O seu novo chefe, envolto em sua ambição, tem por norte o controle completo de todos os países do mundo. Através dos robôs que substituem as funções dos humanos, a sociedade enfrenta uma era onde a decadência humana nos apresenta um contraste nítido entre aqueles que detêm o poder, e aqueles que foram descartados à própria sorte.
Metrópolis é o retrato fiel desse quadro social, onde a ganância cega eleva ao limite os conflitos, sejam eles entre os próprios poderosos, sejam entre os revolucionários com rancor e inflados no caminho da revolta pela situação degradante a que estão submetidos.
Perante esse cenário convulsivo, nosso protagonista se depara com a criação máxima do Dr, Laugtom, sua obra prima. Uma humanoide chamada Tima. Na verdade, ela é um robô, mas a considero um ser intermediário entre o que entendemos por máquina e a organicidade em vida.
Rock, outro que foi resgatado e amparado por Duke, o considera como se ele fosse o seu próprio pai, mesmo que este se negue a aceitá-lo como filho, e ainda mais, continua sonhando em trazer de volta a sua falecida filha. Incumbe assim o Dr Laughton, o único capaz de efetivar essa façanha, a construir uma sombra, cópia e sósia da garota.
Tima, ao nascer, presencia, sem compreender, o ataque de Rock, o qual tanto sabota o projeto do Doutor quanto o assassina.
Kenichi e seu tio, movidos pela curiosidade, se encontram no local, e assim Kenichi encontra Tima, para a partir de então e no decorrer de todo o filme, tentar sempre a proteger e a conhecer melhor. Ela não possui memórias ou lembranças, mas aos poucos aprende a se comunicar e enxerga em seu companheiro a figura paterna de um criador. Kenichi, por sua vez, se apega a jovem e toma por missão entender o que está acontecendo nessa cidade.
No percurso da fuga a que ambos são acometidos devido a Rock e seu pelotão miliciano os caçarem, eles se deparam também com o líder revolucionário. Essas são todas as peças principais que compõem esse cenário.
Rock tenta impedir de todo modo que Tima seja encontrada por Duke, Kenichi age como guardião e responsável da mesma, seu tio rastreia o paradeiro do sobrinho ajudado por um robô policial, os revolucionários desejam derrubar o governo e aniquilar os robôs que substituem a sua função na sociedade, os governantes desejam derrubar Duke, pois este está ganhando poder devido ao seu projeto científico sem igual, Duke deseja controlar todos os robôs, para assim ser o soberano da nova era mundial, ou mesmo aniquilar o modo como o mundo está organizado.
É um filme com elementos simples que agem como engrenagens nesse grande mecanismo que é a cidade de Metrópolis.
Os revolucionários acabam sendo suprimidos e subjugados em seu levante. Ao mesmo tempo Duke, com influência e controle sobre a milícia de Marduk, a força armada que regula e monitora as atividades dos robôs, e com o apoio da junta militar da cidade, efetivam um golpe de estado ante ao presidente local, oferecendo assim um contra-ataque fulminante que lhe garante todos os poderes político e militares locais.
O desfecho final dessa trama e a resolução dos conflitos de todos os personagens, acontece depois que Tima é capturada por Duke, e Rock fracassa em seu objetivo pessoal. É uma bela cena o desfecho final do filme, onde Tima, ao perder o controle após ser danificada por Rock, implementa a fusão ante a grande arma Zigurate, e toma poder sobre todos os robôs que se encontram na cidade. Assim como Duke ambiciona, ela efetiva a sua função de ser o centro e núcleo do dispositivo, mas ao contrário do que pretendia, ela não segue as suas ordens.
Metrópolis nos traz inúmeros elementos interessante, para além da ótima animação do filme, uma trilha sonora incrível e uma ambientação impecável, temos o caos de uma sociedade prestes a explodir, onde os robôs são odiados pela população humilde e excluída da sociedade, são caçados e aniquilados sem dó, caso desviem de sua programação, e ao mesmo tempo se apresentam como os personagens mais gentis e carismáticos do filme.
O destaque vai para o robô Fifi, que mesmo aparecendo muito pouco na obra, tem uma presença adorável, ou mesmo para o robô Pero, um detetive que auxilia e explica, ou mesmo se sacrifica, pelo investigador Hige. Esse robô é extremamente inteligente e possui um senso de justiça muito interessante. E por fim, a própria Tima, a qual se destaca cada vez mais conforme ganha tonalidades e personalidade. Sendo retratada como uma criança ingênua que não sabe que é um robô, ela aos poucos se humaniza, e é uma pena que a história acabe antes que possamos presenciar o completo desenvolvimento dela.
O clima retrô, a sensação que a direção passa ao guiar os quadros, cores e movimentos dos personagens, o impacto constante da tensão e a narrativa que flui suavemente por quase duas horas de filme, são o ponto alto da obra. E mesmo que alguns personagens acabem por não ser suficientemente desenvolvidos, que relações sejam apenas pontuadas e que os eventos não esgotem e detalhem a complexidade da situação ou do clímax final, ainda assim é um grande filme.