Gleipnir é um anime de 13 episódios produzido pelo estúdio Pine Jam, o mesmo de Gamers!, que adapta o mangá de Sun Takeda, lançado na revista Young Magazine the 3rd, casa de Demi-chan wa Kataritai.

A série de ação e mistério tem um conceito para lá de interessante; o protagonista, Shuichi, se transforma em um bicho de pelúcia em tamanho real e com poderes, um monstro vazio por dentro.

É nesse vácuo que entra Clair, uma garota pirada que entra no monstro e ao lado de Shuichi luta contra outros monstros por moedas que se reunidas em quantidade podem garantir um desejo inimaginável.

A sinopse começa bem interessante, depois dá uma normalizada, mas é fato que a ideia é boa e garanto que o anime é divertido e melhor do que costumam ser animes similares. Vamos ao que é dois em um!

Shuichi é o típico protagonista bananão que não toma as rédeas da própria vida, o que muitos chamariam de beta. Não gosto do termo, mas de alfa o Shuichi não tem nada e cabe a trama “consertá-lo”.

Para isso a fêmea alfa, Clair, surge. Após Shuichi usar seus poderes para salvá-la, a garota descobre seu segredo e aproveita a oportunidade para entrar no mundo dos monstros, o mundo de sua irmã.

Se Shuichi é a calmaria, Clair é o agito, se ele tem medo de tomar decisões e agir, ela vai para cima com tudo. É com esses opostos que se atraem, e complementam, que uma relação peculiar surge.

É aí que eles são atacados por outro monstro e a trama começa a se desenrolar. Confesso que a ideia de ser um alien a criatura que distribui os poderes não me agradou, mas a ideia da coleta não é ruim.

É até por isso que Gleipnir não chega a ser “trash”, há um jogo mortal rolando, mas não é nada exatamente sádico e sim mais uma disputa por quem consegue o ingresso para um desejo, culpa das moedas do alien.

Inclusive, o alien paga de imparcial e diz que só quer recuperar o que pertence a sua raça, mas seu jeito de falar, agir e sua “imparcialidade” dão toda a pinta de que ele se envolveu de alguma forma, e por alguém…

Ao menos é o que acho, isso não fica claro no anime, mesmo sendo revelado seu envolvimento com o passado nebuloso do protagonista. Aliás, tirando a personalidade dúbia dele quase não há comicidade…

Ou uma tentativa disso. A trama é trabalhada com seriedade, ainda mais porque não falta violência, pessoas morrem em Gleipnir e o sangue também suja as mãos dos protagonistas. Várias vezes.

Tudo isso com uma trilha boa, uma ótima abertura, um belo encerramento e uma animação que aguça o interesse no início, mas decaí durante a exibição e acaba não empolgando tanto quanto poderia.

Ainda assim, há boas cenas de ação, ainda que não tão longas, e também belas cenas com um teor mais dramático, apesar disso se dever mais ao roteiro que uma animação acima da média. Não é para tanto.

Gleipnir poderia ter sido mais bem animado, mas com certeza faltaram recursos e é compreensível, se o comitê de produção tivesse tantos recursos iria atrás de um estúdio melhor para alavancar a obra.

Enfim, a terceira personagem mais importante da trama é Elena, a Suzane Von Richthofen dos animes. Ela matou os próprios pais e só depois justificou com a ruindade deles, mas não parece bem “extrema”?

Extrema até para uma trama violenta como a de Gleipnir, e fica ainda mais evidente sua mudança com a revelação da ligação dela com Shuichi (coincidência, não?) e como era sua personalidade.

Se Clair é corajosa e ousada ao extremo, Elena é obcecada por Shuichi e sua obsessão, inclusive, transparece na transformação dele. Muito por ele ser assim, um alguém vazio, que precisa ser preenchido.

A Clair desejar vingança em um primeiro momento faz sentido e a mudança de objetivo dadas as circunstâncias nebulosas que envolvem os dois, Shuichi e Elena, também, o que pega é o vai e vem…

Há três embates entre a dupla e a irmã, muitos detalhes são revelados, alguns que não fazem muito sentido, e no final ainda restam coisas por revelar. Ao menos o principal é esclarecido, mas isso adianta?

Não vejo Gleipnir tendo segunda temporada, ainda mais em um cenário pós-pandemia em que devem ter vez animes mais rentáveis. Menos mal que o final foi aberto, dando toda a pinta de poder seguir dele.

Enfim, voltando as irmãs, seria cômico se não fosse trágico o fato da irmã mais retraída ser justamente a que mais tem sangue nas mãos, mas também não é como se a Clair fosse santinha, muito pelo contrário.

É sua agressividade e eloquência, além da afeição que surge entre os dois, que incentivam o Shuichi a ir mudando, tanto para também ser capaz de protegê-la, quanto para conhecer melhor seu passado.

Elena quer proteger o garoto da guerra por poder, mas ele já está enterrado nela até o pescoço e os caminhos pelos quais segue a história comprovam isso a medida que também podem ser questionados.

A ideia de se aliar a um grupo maior nâo é ruim, a utilidade prática disso que parece muito conveniente, mas objetivamente pouco útil. O risco de morrer estreita os laços entre eles, mas o grupo se desfaz.

Aliás, desde o princípio a ideia de sair a caçada de moedas com poucos combatentes nunca pareceu muito lógica. Menos mal que uma das habilidades incomuns foi revertida em ganho prático para eles.

A necessidade desse subplot é tão frágil que na primeira oportunidade ele fica de lado, mas o que incomoda mesmo é, repito, o final que não entrega o máximo que o anime podia dadas as circunstâncias.

Há episódioa bem fracos, outros muito bons, e a tal evolução do protagonista regride em momentos que parece prestes a deslanchar, mas, apesar de achar isso questionável, tem uma pontadinha de sentido.

Personagens como o Shuichi demoram a mudar e mesmo quando mudam, ainda assim, não é definitivo, ele tem que passar por baques o suficiente para daí perceber que ou age ou o que quer fracassa.

A Clair não, ela é bem melancólica às vezes, mas na maior parte do tempo suas convicções e instinto a fazem se dar bem, tanto é que do elenco do anime é de longe a melhor personagem, a mais provocativa…

Ela provoca situações interessantes, desfechos emocionantes e momentos fofos, mas também bastante profundos, com seu parceiro. Mais que um amigo, mas menos que um namorado.

A relação dos dois, com todo seu simbolismo e sensibilidade, é talvez o ponto alto do anime. Clair é tão ardilosa que boa parte do tempo pensei que só usasse o Shuichi, mas a certa altura mudei de ideia.

Ela realmente gosta do Shuichi e se não consegue ir além, seja com beijos ou na cama, é por causa da bagunça que se tornou a vida de ambos e do que há de mal resolvido no passado do garoto.

Aliás, não comentei, mas Gleipnir tem um ecchizinho safado que acaba sendo bem palpável dada a “agressividade” da trama e a constante exploração do desnudar da relação em que um preenche o outro.

Além disso, não sejamos inocentes, ecchi atrai, mas com certeza não e só ele que mantém. Gleipnir tem defeitos, mais do que eu gostaria, mas também tem qualidades, mais do que eu esperava.

Dito isto, me despeço indicando um anime que talvez só mereça três estrelas, mas dei um pouquinho mais por ter me divertido. Gleipnir não é nada demais, mas a Clair salva o anime com seu carisma venenoso.

Até a próxima!

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