Stand My Heroes: Piece of Truth – Uma investigação detalhadamente confusa
Nem sempre uma boa base determina um bom desenvolvimento e essa é uma constante nesse anime. Stand My Heroes reunia uma premissa interessante para os padrões do gênero em que se encaixa e tinha tudo para ser muito bom, mas infelizmente ele acabou aquém do que qualquer um esperava. Onde foi que erraram na execução? Eu vou tentar explicar aqui.
O problema desse anime é que a produção acabou não encontrando um eixo a seguir e na tentativa de abarcar tudo que a sua origem tem, em apenas 12 episódios, acabaram deixando o enredo excessivamente expositivo, confuso e monótono para quem acompanhou, fora o desequilíbrio com o elenco – reforçando assim a tradição das animações de games serem ruins.
A obra é baseada num otome game e gacha, dentro de um cenário que envolve investigações, drogas e principalmente, muita gente interligada em crimes e acontecimentos estranhos. Por aqui já temos a impressão de novidade e de uma boa história por se ambientar em algo mais sério, pesado e adulto, saindo um pouco do clichê escolar ou das outras histórias mais “solares”, porém na prática não foi bem assim.
Izumi Rei é a protagonista blasé e sem muita expressividade que norteia a série, mas apesar de possuir essas características mais sem sal, a personagem tem uma certa proatividade e coragem que me agradou – por sair do padrão da mocinha inerte, mesmo cometendo erros -, muito embora eu ache que suas ações poderiam ter sido melhor trabalhadas se a direção soubesse o que fazer com a impulsividade da moça.
Curiosamente, ela possuía uma habilidade única de resistência a drogas, item que lhe dava muita vantagem enquanto investigadora e recrutadora, mas a utilidade disso foi zero, porque esse importante detalhe simplesmente ficou esquecido no churrasco e não contribuiu em nada para o que estava sendo desenvolvido.
No final a Rei foi tão “nerfada” na adaptação, que isso enfraqueceu o papel dela enquanto “cabeça” de tudo e consequentemente prejudicou parte da história. Ela tinha ação, mas não exploravam todas as possibilidades da garota, ainda que tenham preservado outras qualidades nela e a jovem tenha crescido visivelmente do início até o fim – o que a salvou do desastre.
Aproveitando o ensejo, se tem algo que definitivamente marca o ponto fraco do conjunto, esse algo é o número de personagens da obra. Para quem não conhece, o núcleo principal consta de 20 personagens todos homens, claro, somados a protagonista que fecha a conta em 21 – olha a dor de cabeça da staff, para mexer com tanta gente em pouco tempo.
Todos eles tem clichês muito bem estabelecidos, embora alguns deles tenham pequenas nuances que os diferenciam. As aparências por sua vez, variam muito pouco, sendo as cores de cabelo o indicativo mais claro de qualquer distinção – mas dos males a aparência certamente é o menor.
De modo geral acredito que entre os rapazes do núcleo dos Narcóticos, Revel, Família Kujo e por aí vai, só destacaria como indispensáveis apenas sete deles – cada um o centro do seu respectivo grupo investigativo – como o Aoyama, Souma Kujo, Miyase, Hattori, Sosei, Maki e o Makoto Tsuzuki, pois somente esses tem uma interligação verdadeira e útil para com o enredo e a Rei.
Se não perdessem tempo apresentando tanta gente sem função, dando minutos preciosos a figurantes desnecessários – sim, estou olhando para todo o núcleo restante dos narcóticos e afiliados -, o foco que podia ser dado a quem de fato moveu o anime para algum lugar, seria bem melhor.
A questão da STAND, que era a organização secreta que unia esses grupos, também derrapou no decorrer dos acontecimentos por falta de foco, mas como houveram reviravoltas entre os personagens e suas motivações para estarem nela, os mistérios que envolviam a sua formação acabaram ganhando sentido no final.
O começo da série andou muito em círculos, ganhando um fôlego somente em sua metade, depois que de fato introduziu todo o mistério que amarrava o passado dos protagonistas, com as drogas Square e Plus, que eram o alvo de toda a investigação deles e as responsáveis pelos crimes aleatórios.
Quanto a essa parte do enredo, admito que quando a coisa realmente engrenou, eu comecei a me empolgar e ver rumos que a história podia tomar, porém ela nunca fez algo realmente grande em cima disso, apenas correspondendo ao básico necessário para manter o espectador preso ao que estava contando.
Todo o plot das drogas de fato foi interessante e as amarrações criadas tinham uma boa estrutura, mas pela fraqueza da condução, o que podia ter terminado bem redondinho, apenas se fechou como um negócio ok, passável e que ainda deixou brechas, já que nem todos os pontos foram completamente solucionados a tempo.
Tecnicamente o anime se mantém na média sem nada que o destacasse, da animação a trilha sonora, muito embora o estilo dele não exigisse tanto da produção. A direção como eu já falei, capengou em muita coisa – inclusive no possível romance que poderia ter na obra e ninguém viu nem a cor – e o roteiro fez apenas o necessário para que a história tivesse alguma coerência no meio de tanta informação – melhorando um pouco nos episódios finais.
Apesar de apontar vários defeitos, honestamente eu não acho que o anime foi ruim, porém também não posso dizer que ele conseguiu ser legal como devia, apenas se instalando com solidez na posição de mediano, tendo poucos momentos em que soube utilizar o seu potencial para chegar fazer algo mais bacana.
No começo eu estava confuso e me situando na bagunça, mas uma vez que entendi essas fragilidades da adaptação e comecei a tentar ver o que tinha de funcional e bom no enredo, eu consegui extrair algo mais satisfatório e passei a gostar do que estava vendo.
Para quem se interessar eu já deixei as minhas advertências e ponderações, de modo que ninguém vá ficar enganado, porém ainda assim, caso você não seja tão exigente ou rígido do começo ao fim, é possível tirar uma experiência ok, como aconteceu comigo.
Agradeço a quem leu esse artigo até o fim e nos vemos no próximo!