O OVA da semana é Missing Halloween, mesmo embora hoje não seja Halloween, e não sei ao certo quando será, mas convenhamos, no apocalipse constante que a espécie humana protagoniza, qualquer dia é o dia certo, não é mesmo?

Novamente, antes de lerem essa resenha, assistam à animação (Link aqui, cliquem sem medo).

Acompanhamos, através de uma narrativa visual que é preenchida por uma triste, mas agradável, trilha sonora de fundo, o dia das bruxas de um jovenzinho. A primeira coisa que descobrimos é sua empolgação, o calor materno e a estabilidade afetiva do pequeno, que energicamente vai ao encontro de sua melhor amiga. Ele a encontrou.

 

 

A sua melhor amiga, que também não possui um nome, assim como qualquer personagem nessa alegórica jornada, é uma mocinha mal humorada e melancólica, o que contrasta com a hiperatividade do menino, o qual não para quieto, pula e corre, sorri e transborda vida.

A menina o acompanha nesse dia especial, único, captando doces recursos de casa em casa. O anime nos mostra o quando eles se conheceram, no Halloween passado, e como nesse ano anterior o jovem estava triste e solitário, mas o bom coração e amizade entre ambos floresceu, um sentimento de amor, não romântico, mas sim de plenitude empática, se estabelece entre os solitários.

 

 

No ano seguinte o encontro se repete. O menino e garota investigam a vizinhança, mas ao interagirem com os moradores locais, os mesmos ignoram a garota, como se ela fosse invisível. O menino, que sempre é bem recepcionado, consegue muitos doces, e como bom amigo, os divide com ela. Passam o dia inteiro juntos, mesmo que apenas ele lhe ofereça atenção, todas as crianças, ou mesmo os adultos, a ignoram. Vagam para uma colina e ali observam a cidade de longe, suas luzes e sombras.

É uma história que busca demonstrar o laço da infância, o sabor de um momento, de um encontro entre almas solitárias. Não sabemos o quanto esse garoto, que apesar de muito querido e amado, cuja família lhe oferece tudo o que precisa, está ou não sendo abraçado pelo corpo social, pelas pessoas, pelas outras crianças, mas sabemos que ele não é, de modo algum, mal visto ou rejeitado pelos vizinhos. O mistério maior, que se propaga pelo anime inteiro, é o porque essa menina, sombria e contida, é mal vista pelas pessoas da comunidade.

 

 

Uma animação em branco e preto, com traços fofos e arredondados, mas agudos nas pontas, muito agradável e que transmite uma narrativa fluida e constante por momentos descontraídos e, ao mesmo tempo, apreensivos, onde a densidade da atmosfera nos conduz passo a passo junto aos protagonistas pelo mistério revelado.

O garoto é diagnosticado como portador da condição psicológica “amigo imaginário”, lhe é arremessado um fato chocante e impiedoso, sim, um garoto de menos de dez anos de idade, que está desfrutando de sua melhor amizade, de seu afeto e amor, é apresentado, brutalmente, ao fato de que sua melhor amiga, não existe.
Sua solidão criou uma ilusão? Será que na verdade, tudo o que viveu até ali, foi uma mentira. Ele a encontrou, mas esse encontro nunca aconteceu? Ou mesmo nunca foi real? É desolador.

 

 

O que é real? Como pode a realidade usurpar a felicidade de um jovem, e arremessá-lo ao luto. O garoto, ao contrário do que se pode esperar, não abandona a sua ilusão, ou a sua amiga. Para ele, ela é real, mesmo que ela mesmo aparente saber que, na verdade, não é real, tendo consciência de não existe, e exatamente por isso, todo o seu comportamento passa a se justificar. Imaginem que vocês descobrem que, mesmo existindo, não existem. Como iriam se sentir? Como vocês se sentiriam caso fossem invisíveis, e as pessoas ao seu redor não os enxergassem? Onde todos os movimentos, sentimentos, tudo, fosse em vão!

Ele a encontrou, e ainda mais, em sua solidão, ela o encontrou. Unidos por um instante efêmero de contato, eles se encontraram.

O garoto não abandona a sua amiga em momento algum, ele fica ao seu lado, para ele, ela é real, completamente real. Ela o acompanha, faz companhia para ele, mas sabe que deve libertá-lo, ou ao menos, lhe oferecer a verdade.

 

 

Dentre uma floresta preenchida por armadilhas, nos confins de seu núcleo silencioso, o garoto encontra e encara a origem e o fim de sua melhor amiga. Ele a encontrou, ela o encontrou, ambos finalmente se encontraram.

Uma amizade que transcende a matéria, ou mesmo a vida, uma infância perdida, um destino partido, uma alma que vaga pela fronteira do vazio, uma história que culmina no terror de um conto de Halloween que dilacera sem dó a esperança. Finda o desfecho, não há mais palavras, não existem mais sorrisos, todas as fantasias e disfarces dão lugar ao dia comum, ao tedioso dia que nunca termina e nunca começa, onde ninguém encontra ninguém.

 

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