Ok, essa aqui definitivamente é de longe a estreia mais absurda e nonsense que eu já vi nos últimos tempos, mas de uma forma positiva. Quem vem comigo descobrir a magia do Hypnosis Mic?

Hypnosis Mic: Division Rap Battle é um projeto multimídia que a envolve a participação de vários dubladores em batalhas musicais de rap, cujo resultado se decide com a votação do público a cada música lançada – o que já rendeu vários CD’s por aí. Confesso que não conheço quase nada sobre o projeto, mas como franquia ele já tem um apelo grande, contando com jogos, mangá e agora, o anime.

Acredito que o ponto alto dessa adaptação inusitada é de longe, o empenho da produção em abraçar a bizarrice e torná-la agradável, tanto para os novatos, como para quem já conhece o “HypMic” – como chamam carinhosamente. Se o plano era chamar a atenção para o jogo e os demais produtos, conseguiram, porque eu me interessei em saber mais sobre ele.

Eu sempre digo que se você tem uma ideia maluca e que não tem pé, nem cabeça, é preciso se jogar e foi o que presenciei aqui. Do visual extremamente chamativo e dinâmico, até os personagens divertidamente clichês, a staff simplesmente mandou ver, sem medo de ser feliz – o que ao meu ver, deve refletir o amor da equipe pela franquia.

A história começa nos mostrando um Japão dominado pelas mulheres, cuja política de desarmamento gera algumas problemáticas, mas no geral traz a paz – ao menos se partimos do princípio de que ninguém vai sair por aí metendo bala nos outros.

Sendo sincero eu pensei que haveria alguma polêmica com o enredo, por conta dessa polaridade homem x mulher – com as mulheres supostamente sendo ditadoras e vilãs -, mas não creio que a intenção da obra seja atiçar nada disso, até porque além da falta de lógica, a própria franquia está direcionada as mulheres.

No mais o que vi nas cenas, é que todos os humanos de modo geral são livres, leves e soltos, com a única restrição unânime de ninguém ter acesso a violência por meio das armas de fogo, sem uma imposição exclusiva ou sexista – então baixemos a guarda nesse sentido.

Não ficou muito claro se o que aconteceu foi uma espécie de intervenção militar ou se uma vitória feminina decidida nas urnas, mas o fato é que as mulheres decidiram por fim a barbárie masculina através do poder das palavras. Embora utópico, achei essa uma proposta interessante e que casa bem com aquele ditado que diz: “A caneta é mais poderosa que a espada” – seria maravilhoso termos essa opção nos dias de hoje.

Em meio aos insatisfeitos e que causam terrorismo, os protagonistas defendem o que foi instituído, porém tive a impressão de que o governo não está completamente alinhado a eles, já que tem uma clara noção do perigo que eles podem vir a representar – por conta das suas habilidades individuais.

Para manter a dúvida e instigar, fica em aberto se a presidente e seu time são vilãs reais, mas ela deixa em suspenso o porque de desejar que eles lutem entre si no futuro. O que eu imagino é que esse seja um possível plano B dela, para neutralizar esses grupos no caso de uma insurgência – o que honestamente não me parece ser a deles, mas vamos ver aonde a história nos leva.

Normalmente quando um anime é muito lotado de gente e decide pincelar um pouco de cada na estreia, ficamos confusos e até entediados pelo excesso de didatismo na apresentação. Esse foi outro ponto que a direção tirou de letra, pois mesmo com vários personagens, tudo foi bem articulado e te diverte, fazendo você querer ver mais desse pessoal.

Falando em gente, temos 4 grupos principais, são eles o Buster Bros, Mad Trigger Crew, Fling Posse e o Matenro. Cada um conta com figuras extremamente clichês, porém minuciosamente misturadas, de modo que a química estranha entre eles e suas diferentes tarefas, tornam os grupos mais interessantes de se assistir.

O que gostei na concepção do uso da música, é exatamente porque elas realmente servem a um propósito, dentro de uma necessidade ou do papel que cada um exerce na sociedade. O modo como as batalhas funcionam também são um bônus nesse quesito, com cada um empregando o seu estilo de vida na própria música.

Um exemplo legal disso que falo é o trio da Mad Trigger – com bandido, policial e um soldado – que usavam seus talentos para resolver crimes como o tráfico, ou mesmo o Matenro, cujo líder estava salvando vidas em um hospital e assim impediram um ataque terrorista no processo.

Enfim, apesar de bizarra, acredito que a série tem muito potencial pela sua criatividade e qualidade técnica – essa que com certeza foi a marca registrada do episódio. A adaptação também se despe de qualquer lógica plausível e rebuscada, o que talvez contribua ainda mais para que a loucura funcione bem.

Eu ainda tenho uma curiosidade de saber como exatamente as melodias afetam cada pessoa, mas vou deixar essa dúvida em suspenso para aproveitar melhor o que virá.

Na parte musical não posso dizer que o rap me convenceu 100%, mas o som não chega a doer os ouvidos, apenas soando diferente mesmo. A animação está ótima, colorida e consistente, incluindo o CG utilizado nas batalhas, que não destoa e mantém a fluidez.

As batalhas de rap em si causam o devido impacto e são um show a parte para quem gosta de todo tipo de pirotecnia e absurdos do arsenal japonês, o que não só deixa a performance incrível, como te diverte com a tentativa de emendar uma ação psicodélica, num bolo que já está lotado de ingredientes.

Pode não parecer, mas para quem esperava um anime comum de “idols masculinos” – como todos os outros -, essa estreia me fez sair da caixinha e pensar que as vezes, diferente do ditado popular, o mais acaba sendo mais.

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