Um dos melhores episódios do anime e com certeza o melhor da temporada. Esse entra para a já vasta galeria de grandes episódios de Re: Zero, que deve ser expandida em 2021. É hora de Re: Zero no Anime21!

O Subaru é detestável e ingrato? De certa forma sim, mas de certa forma você também pode achar que não. É óbvio que ele não pediu pelo poder de Retorno da Morte, mas ao mesmo tempo, se ele aceita que seu “destino” era se encontrar com a Emilia e querer estar ao seu lado, como ele, um frágil humano sem magia alguma, conseguiria sobreviver sem esse poder? O “dom” que ele recebeu pode ser sim uma coisa boa, ao menos se ele…

Ao menos se ele souber como usar. Poder não morrer e manter as memórias é algo fenomenal, mas a sobrecarga psicológica que isso traz é que precisa ser administrada, compartilhada ainda que indiretamente. O Subaru é o tipo de pessoa que elege para si o papel de herói e vítima exceto se alguém se dispõe a ajudá-lo (mais ou menos o que a Rem fez), o que o torna esse herói trágico que não precisa suportar tudo sozinho como vinha fazendo.

É aí que entra o amor fofo da Satella e sua dupla personalidade, ou melhor, seu poder de bruxa. Satella ama Subaru e quer que ele passe a amar mais a si mesmo, ao mesmo tempo em que ela é a bruxa da inveja e a inimiga número um do mundo. O quanto dela é bom e o quanto dela é mal? O quanto a mulher que se colocou a frente daquele ao qual dedica seu amor é a Satella e o quanto ela é a bruxa da inveja, presa em seu próprio pecado?

É interessante analisar a declaração da Satella, porque se ela quer que ele ame mais a si mesmo, é porque seu sentimento não é egoísta, ao menos não prioritariamente, e pensa no que o ser amado precisa antes do que ela mesmo pode querer. O problema é ele não ter percebido que o poder a ele conferido poderia ser usado sem destruir seu “eu”, quando a intenção da Satella ao dá-lo a ele era justamente que passasse a ver o valor que tem.

A autoflagelação do Subaru não é algo estranho e muito menos inesperado, afinal, como não considerar disfuncional um cara que vai parar em outro mundo e sequer para para pensar na família, que aceita um poder louco que o faz voltar a vida infinitas vezes pensando em salvar os outros e nunca a si? Subaru era alguém que vinha definhando em sua vida normal e foi invocado para um mundo de fantasia mantendo todos os seus problemas.

Então é compreensível que sua saúde mental não melhore ao ponto de ser capaz de enxergar os “buracos” em suas ações. É claro que o encontro com trocentas garotas fofas e a vivência de aventuras quase diárias dão a ajuda necessária para que ele mantenha seu ânimo, mas acabam apenas empurrando os problemas com a barriga, construindo uma máscara atrás da qual um ser humano inseguro e quase sem amor próprio se esconde.

A colaboração das bruxas não veio para salvar o personagem principal de seus problemas, mas para alertá-lo, acordá-lo para eles. Não acho que elas foram ruins e nem boas, acho que foram sinceras, de certa forma, sim, foram bacanas com ele. A próprio Echidna que queria se aproveitar dele abriu o jogo expondo os pros e contras, para deixá-lo decidir por algo consciente do que a Satella estava falando, mas também do que ele queria.

Re: Zero é a luta de um garoto contra a depressão? Sim, acho que a gente pode entender a história como sendo isso, a luta de um adolescente contra um quadro depressivo que o fez se desconectar completamente do mundo em que vivia com demasiada facilidade e se conectar a um outro mundo sem aceitar que seu “eu” passou a pertencer aquele lugar, aquelas circunstâncias, e como tal mereceria o mesmo valor de qualquer outro.

A recusa do Subaru frente ao pedido da Echidna e sua decisão de reconhecer o próprio valor, ou ao menos tentar fazer isso, foram alguns dos momentos mais bonitos e significativos desse episódio rico em roteiro, mas também elogiável em direção e animação, tudo isso enquanto aprofundava personagens como o Subaru e a própria Echidna, afinal, passamos a entendê-la ainda melhor, além, é claro, um pouco a “apaixonada” Satella.

O medo do mundo exterior é algo com o qual todos nós lidamos em algum momento de nossas vidas, mas precisamos superar essa barreira, romper o casulo, caso queiramos viver a vida em plenitude, com tudo que é bom nela, mas também com tudo que há de ruim. Apesar de saber disso, talvez eu seja um bocadinho como o Subaru e no lugar dele faria parecido, precisando de alguém para me chacoalhar e me fazer perceber isso…

Me fazer perceber que dá para tentar não ser o herói trágico de sua própria história, ainda que ela comporte muitas dores e derrotas, porque com certeza também tem suas alegrias e vitórias. O Subaru é um garoto em processo de amadurecimento que ainda tem uma longa estrada a percorrer, mas após os grandes baques que sofre tende a se reerguer e tentar de novo, sendo esta talvez a sua maior prova de heroísmo nessa história.

Não tem como o pedido da Satella não tê-lo comovido, não tê-lo alcançado, assim como a dor, o desespero, da garota não passou despercebido a esse herói inconstante aficionado por garotas de cabelo prateado, mas que sem sombra de dúvidas declararia que salvaria a Satella mesmo que a cor de cabelo dela fosse diferente. Por quê? Porque é clichê, mas também porque é digno estender a mão para quem está sofrendo na sua frente.

O Subaru vai conseguir salvar a Satella de sua condição horrível, ainda que apenas parcialmente conhecida? Veremos. Ele vai tentar, isso é certo, o que não significa necessariamente que Re: Zero vai cair no clichê dos battle shounens que convertem seus vilões para o bem, porque não é o caso, ou ao menos não parece ser. Significa sim que existe mais que uma versão para a mesma história e uma não necessariamente está errada.

E se não duas versões, duas histórias que se cruzam, mas também se separam em algum momento, afinal, a Satella parece tudo menos feliz na situação em que se encontra. A Emilia é sósia dela? A Emilia é filha dela? A Emilia é irmã dela? A Emilia é clone dela? Veremos. Só o que eu sei é que por mais falho e “feio” que o herói dessa história possa parecer, não consigo deixar de apreciar a beleza desajeitada em seu desejo de querer salvar alguém.

Enfim, quer dizer que a Patrasche é tsundere? Foi o que pareceu quando o Subaru acordou. Sei que quebrar uma linha de raciocínio com uma besteira não é a melhor forma de dar prosseguimento ao texto, mas eu queria quebrar o gelo e mudar o foco, porque o que se segue fora do mundo das bruxas também é importante. Inclusive, provém a dose certa de desespero, mas também de esperança capazes de manter o Subaru nos trilhos.

Um Subaru que está cansado, mas ainda se encontra na linha de largada, precisando conferir em primeira mão aquilo que pode se tornar e que deve combater com unhas e dentes caso não queira fracassar em salvar qualquer um, sejam os outros ou a si mesmo. Porque a revelação do Roswaal é a demonstração inequívoca de como o Subaru pode acabar se seguir pelo caminho da insanidade, a qual o atinge quanto mais ele sabe das coisas.

O plano macabro do Roswaal (e ele enterpretei mal, é bem pior do que eu esperava, mas ao mesmo tempo também não sou capaz de simplesmente demonizá-lo) é combustível suficiente para a convicção do Subaru? Veremos na segunda parte desse arco, mas uma coisa é certa, a conversa dos dois e as coisas reveladas pelo Roswaal foram chocantes, mas não exatamente inesperadas, afinal, fazia sentido que fosse ele por trás daquilo.

Ainda assim, não deixa de ser intrigante, até pelo que revela sobre a profundidade de sua relação com a Echidna e o problema que o Subaru terá que resolver e pode estremecer sua relação com a Emilia. Quer uma prova maior de preocupação também consigo mesmo que isso? Agora o herói vai precisar considerar o quadro geral, ainda que desagrade algumas partes pelo caminho, um que o inclua como alguém a ser beneficiado no fim.

O Subaru já vai ser um grande herói se conseguir não se tornar um Roswaal da vida no final de Re: Zero e para isso é imprescindível que note como não está sozinho, que é justamente o contrário, pois se a gente puxar pela memória, ele fez mais e melhor quando contou com a colaboração de outras pessoas, quando dividiu o peso de seus anseios, mesmo que quem o apoiasse não soubesse exatamente pelo que ele estava passando.

O Subaru não está sozinho e aquele doce final em que o Oto o soca e briga com ele veio para lembrá-lo disse, que mesmo que o mundo seja um poço sem fim de escuridão e sangue, ainda assim, existem pessoas que podem ajudá-lo a se reerguer e lutar (ao menos enquanto ele conseguir voltar da morte) e existem mais possibilidades do que sua visão limitada por seu complexo o permitem enxergar. Sozinho ele não alcançara nada.

Deve ser uma dor imensurável saber que em tantas outras linhas do tempo ele deixou várias pessoas para trás chorosas e realmente tristes com suas mortes violentas e precoces, mas também é uma dor tremenda para aqueles que ficam para trás. Tratar a própria vida como uma simples ferramente pode não ser a melhor forma de tentar salvar aqueles ao seu redor, afinal, a morte dele também as machuca, porque seu valor não é = 0.

Para evitar tanta dor e sofrimento para si e para os outros o Subaru precisa usar a cabeça, os recursos que tem disponíveis e as relações que criou com várias e diferentes pessoas. O caso da Beako ficou para o próximo cour, aliás, tudo mais ficou, mas ao menos agora existe um norte, uma luz que pode iluminar o caminho do Subaru e esclarecer de uma vez por todas para ele que sua vida tem valor e é possível concilia-la com o todo.

Até a próxima!

Comentários