Moriarty: O Patriota – ep 4 – O jardim dos nobres
De acordo com que essa história avança muitos elementos diferentes podem surgir. Assim como estão surgindo nesses últimos episódios. Então posso até mudar de ideia sobre alguns pontos. Mas não, o anime não está sendo nada incrível. Bem longe disso na verdade. Mas pelo menos não posso reclamar da diversidade de pontos para comentar.
Ainda assim começarei com um velho conhecido. A nobreza está ainda mais artificial aqui do que nos episódios passados. Esses nobres desagradam até pelo seu pobre vocabulário, visto em suas frases que em geral se limitam a duas: “nobre isso” e “nobre aquilo”.
Quando não falam uma dizem a outra. Mas já reclamei demais desse ponto e tenho certeza que assim continuará até o final do anime. Então o assunto morre por aqui e dele não se fala mais.
O nobre da vez faz uma comparação sobre as plantas e como as raças raras só brotam de sementes raras. O próprio visconde percebe e se encanta com o fato disso representar sua própria sociedade.
Mas assim como a estufa está aos cuidados do jardineiro a sociedade está com o povo. A plebe que hoje garante o florescimento dos nobres amanhã pode arranca-los da terra com raiz e tudo. E sabemos bem quem gostaria de fazer isso.
O pobre casal e sua história é algo a ser destacado. Convenhamos, faz sentido que após tudo que sofreram eles nutram todo aquele ódio pelo visconde. A confusão do marido sobre o que fazer, a culpa pela sua inação, sua tristeza pela condição da esposa e por fim o ódio pelo que ele também sente.
Mas principalmente a condição psicológica da esposa é algo para se destacar. Todos esses fatos podem fazer você acreditar que tivemos algum aprofundamento psicológico não é mesmo? Na realidade nem tanto.
O problema está em como todos esses fatos se relacionam. O anime tem um grande problema em lidar com o pessoal e o social, ele mesmo se perde em identificar qual é qual. O específico e o genérico se misturam e não conseguem se harmonizar.
E não acho que o anime vá alguma vez sequer acertar isso. Seja como for, o anime perde uma grande oportunidade de contar histórias muito ricas em motivações e sentimentos. Contudo, ainda deve narrar histórias elogiáveis em diversos outros pontos, pelo menos é o que eu espero.
As ações e falas do Moriarty também é algo a ser comentado. Conversando com o jardineiro ele diz sobre uma oportunidade de trabalho no jardim botânico de Londres, mas o homem nega pois está preso para sempre àquela terra. Sim, eles estão presos por não conseguirem superar seus passados, isso é verdade. Mas também por não conseguirem vislumbrar uma vida além daquela.
Mudança e progresso não combinam com uma sociedade aristocrática, pelo menos não por meio de ascensões sociais. Mas essa ideia de uma vida melhor, de mudar e de progredir soa meio burguesa. É a ideia de uma plebe cada vez mais proletária servindo essa nova e dominante classe chamada burguesia.
Mas esse não é o caso. O Moriarty não é um burguês e sua causa também não é a do proletariado. Não é nem um socialista e nem um capitalista, apenas um revolucionário. Essa é a sua ideologia, ele é apenas um utopista.
E ele encarna o ideal revolucionário pelo fato de seu próprio ideal ser um ideal de oposição. Por isso não é estranho ele se considerar um consultor criminal. Sua justiça visa a destruição da injustiça aristocrática, e não um ideal de justiça propriamente dito.
E o mesmo vale para o individual. Aqui destaco algo que sempre se repete, que é o Moriarty induzindo as pessoas a tomarem suas próprias decisões após uma conclusão pensada por elas mesmas.
É quase como se seu ideal fosse fruto daquela sociedade, como se fosse um desejo recalcado presente no inconsciente coletivo daquela classe dominada. Mas calma, até aqui estamos na escala individual ainda. E até agora estou achando isso bem interessante. O anime pode acertar nesse ponto, mas veremos.
A cena da morte do visconde foi bem estranha. A forma como ela aconteceu, sem ser um assassinato mas sendo um assassinato é bem estúpida. Se fosse para assassinar, assassinasse. Se a ideia foi não deixar evidências então também falhou.
Eu pergunto, aquilo foi um crime perfeito? Nem de perto, as evidências saltam, se esperneiam, gritam e ainda apontam para o Moriarty. Se gostei de algo foi do fato dele pesquisar antes de pensar no plano. Mesmo gênios precisam fazer pesquisas, o próprio Sherlock em suas histórias faz diversas pesquisas quando julga necessário. Coisa que acontece com frequência.
E por fim, acho que já podemos pensar sobre o que é esse anime e para onde ele irá. O primeiro episódio parece uma “investigação-policial reversa” por sinal bem interessante. O segundo e terceiro apresentam os personagens e seu ideal utópico. E agora esse mostra que o Moriarty nada mais é que um servo da justiça, da justiça como ele a compreende.
Na verdade não há “reverso” na investigação do episódio um, pois a justiça está sendo cumprida como em qualquer história dessas. Justiça essa que está completamente ligada ao ideal utópico do episódio dois e aos personagens apresentados nele.
Pois esses jovens são quem trarão a luz para esse mundo repleto de trevas, e a forma como farão isso é com a justiça. Nesse sentido o Moriarty se coloca no papel de Deus, ele se torna aquele que diz o que é o bem e o mal, ele é o juiz que julga uma sociedade inteira.
Em parte essa ideia de “deus do novo mundo” se apresenta em Death Note. Isso é verdade. Mas já falei em artigos passados que Moriarty: O Patriota erra em uma coisa que Death Note tanto acerta. Só não repetirei aqui, porque disse que não tocaria mais nesse ponto. Enfim, vamos ver para onde essa história irá. Até mais.