Golden Kamuy 3 – ep 9 – O futuro é o presente do passado
A questão linguística em Golden Kamuy sempre me agradou bastante, porque em anime todo mundo fala japonês, mas não é assim aqui, é tudo bem realista quando o assunto é comunicação. Inclusive, usam essas diferenças linguísticas e culturais para contar a história, tanto é que foi ao aprender o japonês que o Wilk e o Kiroranke vivenciaram uma tragédia que separou seus caminhos do da Sophia e pode ter sido a “origem” de um “mal” que a Asirpa tem a enfrentar na caçada pelo ouro. Tudo está interligado, não tem como não considerar Golden Kamuy uma obra do destino desse jeito, né?
Não acho que possa comparar o que o francês era antigamente com o que o inglês é hoje por diversas diferenças entre as épocas e como as línguas se inserem dentro de seus contextos sociais, mas uma comparação é possível, até para mais fácil compreensão, a popularidade que o inglês tem hoje é mais ou menos a mesma do francês há mais de um século atrás. Por quê? Porque os Estados Unidos virou uma superpotência do mundo moderno, tomando parte do lugar antes ocupado pelo francês. Ainda assim, o francês é uma das línguas mais faladas no mundo todo.
Lembro que havia aprendido isso em alguma aula de história há muito tempo atrás, mas só lembrei recentemente ao ouvir um podcast sobre serial killers, nem de história exatamente era, para a gente ver como atualmente conhecimento pode ser propagado das mais diversas formas, Já na época do anime não era assim, então o trio dependia do Hasegawa-san para aprender japonês e rumar para o país, o que ocorreu foi que uma tragédia separou os caminhos deles e de forma extremamente bizarra (e um pouquinho forçada também, por que não?) se ligou a caçada pelo ouro dos ainus.
Eu adorei como esse episódio foi predominante a história de como os três se separaram e, mesmo assim, prendeu a atenção satisfatoriamente, não me fez querer voltar correndo para o presente da trama, até por saber como é importante conhecer o Wilk através de seu passado. O mais “hilário” disso tudo é que deu para conhecer mais da Sophia e do Tsurumi do que do Wilk em si, mas ainda assim não dá para alegar que a experiência não teve seu valor. E tentando raciocinar melhor sobre o Tsurumi ser o Hasegawa-san, não é que faz algum sentido? Se duvidar isso que o levou até o ouro.
Porque antes de toda essa história do ouro existir ele conhecia o Wilk, além de que é passada a impressão de que a tragédia com a filha e esposa o mudou. O mais “engraçado” disso tudo é que na Rússia ele demonstrava uma personalidade calma e contida, mas como Tsurumi ele e um doido varrido, tudo bem que perdeu uns parafusos na guerra, mas é claramente uma pessoa distinta, e penso que não é só por estar em uma situação diferente, mas também pela perda da família, Ao perdê-la ele abraçou seu objetivo, assim como toda a loucura que o acometeu e, de certa forma, ele procurou.
Enfim, o ponto alto do episódio certamente foi a tragédia com a mãe e a filha que traumatizou a Sophia e a fez renegar sua feminilidade (não à toa ela é retratada como um “tanque de guerra” na velhice), além, é claro, do impacto que causou no Tsurumi, que conheceu o Wilk e o Kiroranke no passado e duvido muito não nutrir ressentimento. O Tsurumi do presente da história pode parecer um psicopata, mas o Hasegawa-san não, só um espião de personalidade contida, então é fato que esse conto do passado o humanizou (e me tapeou, não percebi que era ele até a revelação) de alguma forma.
Talvez não o suficiente para justificar tudo que ele é, mas não é como se conhecêssemos o personagem de antes da tragédia, né? Nem do próprio Wilk, o qual é imprescindível saber mais sobre, nós sabemos tudo, então, só posso avaliar o que eu vi e o que eu vi foi uma tragédia que teve um palco razoavelmente bem montado para acontecer (desde a preocupação da esposa a ação em bando da polícia secreta, que eu imagino que você sabia o que era, etc). O que não curti tanto foi o Hasegawa-san ser justamente o Tsurumi, mas não é como se esse tipo de coisa não ocorresse na vida real, né, e a tragédia pode ter influenciado em seu envolvimento.
Por fim, o importante é que a Sophia foi devidamente apresentada, conhecemos um pouco mais do passado do Wilk e do Kiroranke e como ele se cruzou de maneira bastante peculiar com o do Tsurumi, outra figura importante da trama. Próximo episódio é de fuga da prisão e imagino que você também tenha sacado a simbologia com o lobo, mas confesso ainda não ter ideia de como exatamente irão encaixá-la na trama, Aguardarei para ver tendo a certeza de que essa reta final promete não só pelo reencontro cada vez mais provável entre os protagonistas, como também pelo que de lúdico, de belo e de trágico, ela certamente terá a oferecer.
Até a próxima!