Tinha que dar algo de errado no plano ou não seria Golden Kamuy, menos mal que o contratempo fazia sentido e proporcionou mais um desenrolar bizarro, tão característico a essa obra. Dessa vez acho que finalmente podemos determinar o perfil do Wilk e ter uma noção melhor de como será o final dessa temporada. É hora de Wolf Kamuy no Anime21!

Ver a Sophia lutando com um tigre siberiano foi para lá de doido e é isso que nós queremos ver em Golden Kamuy, previsível. Já não dá para dizer o mesmo do gosto do Kiroranke para mulher, traindo a expectativa de seus companheiros e lembrando o contraste entre como era a Sophia e que aparência os anos e seu próprio modo de viver a conferiram.

Além disso, e mais relevante, a princípio o encontro dela com a Asirpa pode não ter levado a mais que o reconhecimento dos traços do pai na garota, mas a esperada história sobre o Wilk veio e ela, ao mesmo tempo em que deu ainda mais forma a quais eram as aspirações do aca da Asirpa, também definiu exatamente sua personalidade.

Pelo que eu entendi a ideia era criar um país formado por minorias étnicas no extremo leste daquela região fronteiriça entre Japão e Rússia, mas essa não é uma ideia um tanto utópica? E isso mesmo com o ouro, porque o maior problema para as duas grandes nações nem acho que seria a econômica, mas o desafio a hegemonia de seus territórios.

Mesmo que não houvessem conflitos entre as minorias, isso não significa necessariamente uma possibilidade real de coordenação para articular algo dessa grandeza, além do Japão e da Rússia (se não tiver visto as aulas de história errado) terem penado para se unir com o mínimo de homogeneidade para prosperar, então não largariam o osso tão fácil, né.

A referência a América foi mais referência mesmo e, de toda forma, o interessante dessa megalomania é como ela contrasta com o perfil traçado para o Wilk. Ele era alguém que equiparava a beleza a força com a convicção de que bondade demais é uma fraqueza, alguém que desejava viver como um lobo branco, de forma imponente, sem exageros em nenhum sentido.

Como alguém racional assim poderia ter o objetivo de criar um país? Não soa contraditório? E o mais legal é que ele morreu ainda distante de qualquer possibilidade de concretizar esse sonho. Aliás, se ele era esse “lobo solitário”, como foi capaz de dar tanto amor e carinho para a filha, contagiar companheiros e ter carisma para propiciar essa corrida pelo ouro?

O Wilk é um personagem fascinante e sequer tivemos a oportunidade de conhecê-lo enquanto era vivo. Mas esse é justamente um dos baratos da aventura, a capacidade de conquistar o público das mais diversas formas, seja dissecando personagens que nem se encontram mais vivos no presente da história ou separando os heroís para depois reuni-los.

Porque esse episódio deixou claro como falta pouco para a Asirpa e o Sugimoto se reencontrarem, mas, por outro lado, também investiu, ainda que com sutileza, na ideia de uma tragédia ao redor deles. Talvez com um dos dois? É claro que não, qualquer indício disso é uma bait, mas já chego lá, antes eu gostaria de comentar algo que achei sensacional.

Os nomes dados ao Wilk em diferentes estágios de sua vida foram uma forma simbólica bem legal de aproximá-lo do lobo branco que tanto admirava. Enquanto criança ele recebeu o nome de lobo na língua do pai, como se em sua infantilidade bastasse querer para ser. Porém, enquanto adulto, ele recebe um nome mais realista de acordo com sua situação.

Porque, por mais que quisesse se aproximar cada vez mais de seu eu ideal e se esforçasse para isso, a aceitação de que nunca atingiria essa perfeição, no máximo se aproximaria dela, é algo condizente com a maturidade, e até mesmo a melancolia, de um adulto. Sua companheira notou isso, que a busca dele por seu eu ideal era constante, o perseguia.

No fim, Wilk morreu como qualquer outro humano, em busca da melhor versão de si, saindo de cena no meio de algo, sem direito a sequer uma despedida. Mas deixou um legado para a filha e certamente não foi o ouro, ou ao menos não só ele, pois ela conhece melhor o pai através de suas histórias, restando a ela levar ou não as coisas boas, e as ruins, para sua vida.

Eu acho que a Asirpa está absorvendo o máximo do que as histórias do pai têm a oferecer, tanto é que ela notou o mesmo que o Sugimoto sobre as tatuagens. Sua cena com cara de quem tinha feito uma grande descoberta sendo observada pelo Ogata ergueu uma death flag em torno da cabeça da garota que a gente sabe que não vai rolar, mas atingirá alguém. Quem?

Porque o Shiraishi escapou fedendo da morte em uma cena tão previsível, quanto prazerosa, a de seu reencontro com o Sugimoto. Esses dois últimos episódios devem ser uma correria só, pois enquanto o Sugimoto vai atrás de se reencontrar com a Asirpa, máscaras devem cair e alguém vai morrer. Alguém do elenco “fixo” da trama? Talvez o Kiroranke? Será?

Não sei, só o que sei é que não dá para não respeitar a filosofia de vida do Wilk, pois, ainda que você a ache rústica ou contraditória, é fato que há beleza na força dele, assim como dignidade em seu jeito de viver. Grandes homens não são necessariamente aqueles que encabeçam grandes feitos, mas certamente aqueles que sujam suas mãos por eles.

Até a próxima!

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