Eis o anime mais bombástico dos últimos tempos, tão diverso e fora do campo mínimo do aceitável que consegue ser surpreendente. Nessa resenha de primeiras impressões tenho a tarefa de demonstrar o quanto esse anime é sincero e cumpre exatamente o que promete.

A um tempo elaborei a seguinte teoria sobre o erro, ou uma máxima, tanto faz, “errar não é errado”, é o que pensei, o erro não carrega o erro, mas sim a vontade de se manifestar, a vontade, espontânea, consciente ou não, de ser o que se é, de se apresentar como se apresenta.

A pergunta que lhes faço é: existe algo errado em errar? Digo, estamos no terreno moral, estamos no terreno do julgamento e do condicionamento da realidade e do certo, e ainda assim, o erro persiste, e não apenas isso, ele é a única coisa que justifica a existência daquilo que é considerado o certo.

Errar faz parte da vida, pois a vida não obriga ninguém a seguir uma verdade que não existe em primeiro lugar, a verdade de que ela é a verdade, a qualidade definidora da neutralidade da existência. Mas e os humanos? Eles fazem isso? A resposta é: eles só fazem isso o tempo inteiro.

 

 

O interessante de Ex-Arm, e talvez o revolucionário nesse anime, é que ele é absolutamente ruim, abaixo do medíocre, completamente inaceitável, sim, completamente inaceitável. No entanto, retomo, porque? Qual a razão de ele ser inaceitável?

Convoco a todos a comparar duas coisas incomparáveis, por exemplo, um quadro impressionista e um cubista. Ambos são arte, ambos são quadros, ambos têm cores e formas, mas são completamente diferentes. Um é bom e o outro ruim? Um é certo e o outro errado?

Agora vamos comparar uma laranja e uma maçã, mesmo joguete, qual a conclusão?

E por fim, uma outra questão, e se quem cometeu o erro o fez de propósito, ele é errado? É ruim? A qualidade é inadequada?

O problema de Ex-Arm não é que ele é ruim, que quem trabalha com o anime deseje entregar um anime absolutamente execrável, mas sim que eles entregaram uma obra tão ruim que transcende, que consegue ser rasa, mal animada e mal feita de um jeito tão bem feito, que se torna sem parâmetros.

Não dá pra analisar, está fora do campo da crítica, é único em si mesmo, e pior, eu adorei o anime exatamente por isso, é surpreendentemente descompromissado, criativo, com um bom ritmo, e entrega exatamente o que promete, um anime ruim, mas que entretém, que mantém o lastro da minha atenção em sua unicidade e personalidade.

O choque, o incômodo, a raiva e o rancor, todos os parâmetros são inúteis, sou obrigado a jogar tudo fora e a adentrar em um universo novo, uma nova forma de expressão que tem suas próprias regras, suas próprias qualidades, quer eu as aceite ou não, quer eu as desvende e escolha quais são, ou não.

 

 

Ex-Arm me faz lembrar do quanto aquele Tomb Raider, aquele Final Fantasy 7 de Playstation 1 eram, na época, feios, e ao mesmo tempo, únicos e plenos, aceitáveis.

E sim, Ex-Arm parece um jogo mal feito de computador do começo dos anos 2000, mas ao mesmo tempo em que é horrendo, ele possui os ingredientes necessários para manter a estrutura da obra, ou seja, é um anime com plot raso, mas funcional.

Hoje em dia aqueles jogos de PS1 estão datados e são graficamente horríveis, mas mesmo o horrível tem seu espaço à luz do sol, como Minecraft.

A pergunta que se faz em relação a Ex-Arm é, ele entrega o que promete? E a resposta é, sim, ele está ali, ele conta a história que escolheu contar com a animação que, de propósito ou não, escolheu apresentar.

Sim, para além de qualquer aceitabilidade, mas isso no campo e no tabuleiro arbitrário de uma crítica que, se levada a sério, e sem ser hipócrita, teria que considerar o Cubismo,

Final Fantasy 7 e Minecraft heresias em relação ao dogma da arte. Isso pelo ângulo da estrutura, o exemplo não abrange comparações em relação ao conteúdo e a dinâmica de cada obra singular.

Ex-Arm em conteúdo ou plot é bem estruturado, já o como isso se apresenta e se desdobra para além do script, nisso o anime segue a coerência de sua animação, ou seja, mantém um fluxo narrativo pobre e tosco.

Moral da história, errar não é errado, e errar de propósito ou por esforço preenchido por fracasso e mediocridade, é ser o suprassumo de uma revolução silenciosa e ingrata que só verá a luz do dia quando criar o seu próprio sol. Ou quando, e por sorte, existirem pessoas que lhes concedam gentileza e compartilhem do seu sol para com eles.

Eu faço isso, eu aceito Ex-Arm e compartilho o meu reconhecimento pelo trabalho e pela inovação em relação a essa obra ser sincera e ruim. Já o que é ruim? Cabe a cada um de vocês escolherem e se agarrarem até o final do abismo.

 

 

O meu ruim é um anime que me divertiu positivamente por superar as ferramentas fúteis de crítica que utilizo para moldar a realidade, e que por mais que ambicione ser o dono de uma verdade humana, sempre irei anacronizar o objeto segundo minha vontade de verdade tola que é tão medíocre quanto qualquer ambição humana no mundo.

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