Qual a chance de uma pessoa normal, decidir reformar uma outra completamente pesada e sem esperança na vida, sem qualquer razão plausível? Normalmente eu acho que quase nenhuma, mas na ficção já não funciona assim, sendo esse anime mais um dos que contemplam essa história meio “cinderelesca” da pessoa que vai do lixo ao luxo.

Tomozaki Fumiya não é o típico perdedor que só se caracteriza desse modo por conta de sua timidez ou medo, ao contrário, ele está ainda mais abaixo na escala humana, mas por motivos extras. O que mais me surpreende no personagem é que embora sua aparência denuncie tudo isso, ele faz o favor de tornar tudo pior, se depreciando de uma forma que te deixa ainda mais surpreso e chateado com ele.

É natural que algumas pessoas se sintam naturalmente acuadas pelo mundo, por não partilharem do modo de vida padrão que a sociedade estabelece, consequentemente se enxergando como alguém de pouco valor se comparada a qualquer outra.

No caso do Tomozaki porém, isso toma proporções exageradas e que não deixam claros os reais pensamentos do rapaz quanto ao ato de viver. Ao passo em que ele parece não ligar para ser popular ou fazer o que todos fazem, ele tem todo um monólogo ácido e carregado que denota o contrário.

Em sua contradição, ele também expressa o desejo de ser reconhecido pelos seus esforços, o jogo dele contra o loiro popular e seu discurso para a própria Aoi – que citarei já já – bem enfatizam que apesar do jeito largado, ele se incomoda com a indiferença alheia.

A Aoi surge como uma luz interessante na história, porque diferente do que a sua figura dócil e bela aparentam, a moça tem a língua afiadíssima e não mede palavras para jogar verdades na cara dele – e convenhamos, necessárias.

Diferente de seu colega, a menina é um prodígio vivo e mantém segura esse título, exceto pelo fato de não ser uma jogadora tão qualificada quanto ele. Achei legal eles terem decidido se encontrar, para criar esse choque de realidades, e por mais grosseira que ela tenha sido, ela não disse nenhuma mentira.

Observando o Tomozaki, conclui o mesmo que a moça, ele parece mais um garoto invejoso e ressentido do que alguém tranquilo com suas escolhas. Se ele realmente estivesse em paz com seu jeito de ser, ele não estaria crucificando o mundo e o que existe nele, então para que ficar naquela constante de auto piedade?

Em compensação a sua sinceridade, me pergunto a legitimidade da intenção dela em querer torná-lo “apto” ao jogo da vida. Como a própria diz, é uma afronta que alguém como ele seja um melhor jogador e inclusive um que ela respeita, por ele próprio não tentar nada e se queixar de tudo.

Considerando isso, ela faz isso por si mesma e seu orgulho ferido, ou faz pela simpatia que parece ter adquirido depois que ele se dispôs a mudar de atitude? Ainda tem outra questão, pelo modo que fala, a Aoi propõe apenas uma mudança superficial, ou ela pretende usar isso para que ele se transforme por dentro no processo?

Bom, não sei de nada, mas estou disposto a descobrir porque a estreia me convenceu que essa jornada da abóbora transformada em príncipe, pode valer a pena. Ainda me preocupa o que ela vá inventar, porém como eu disse, por hora eu estou comprando esse enredo porque a dinâmica entre eles deu certo comigo.

Confesso que no começo me dividi entre sentir nervoso com a chatice do Tomozaki, ou tentar entender o rapaz para digerir melhor o episódio. Quando ele vinha com aqueles pensamentos, eu já torcia para que as coisas corressem e mudasse logo de cena. Ainda assim, não detesto o personagem, só acho que ele podia ser menos dark e já está de bom tamanho.

A Aoi ganhou minha simpatia porque eu gostei do jeito mais direto dela – embora sem filtros – e acho até que pode ser o par romântico que ela mesma sugeriu no final do episódio. O anime indica que talvez aconteça um harém “involuntário”, mas também pode ser que não, vamos ver que caminho tomarão.

No geral gostei bastante da produção, acho que ela está bem feita e funciona com sua proposta, espero apenas que o anime não apele demais para as filosofias do Tomozaki, porque não tem necessidade, um episódio de lamentações já foi o suficiente.

Penso que Jaku-Chara Tomozaki-kun tem chances de ser um dos bons títulos dessa temporada – ainda que seus concorrentes do gênero não sejam brincadeira – e para quem curte esse tipo de premissa, com certeza vale a tentativa.

Agradeço a quem leu e até o próximo artigo!

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