Dr. Stone 2 – ep 9 – Pedra de salvação
Quem diria que o sabão (a doctor stone) selaria o destino do Tsukasa e do Senku? Na verdade, da civilização conhecida no mundo de pedra? Quem, assim como o autor, se liga em ciência e na importância das simbologias deve ter pensado nisso, afinal, na ciência, assim como na natureza, nada se perde e nada se cria, tudo se transforma.
Sendo assim, compostos que uma hora resultam em um material podem sob um novo rearranjo resultar em outros, o que é uma marca registrada não só desse anime, como da prática científica em si. Isso ocorreu de novo, mas com adições bem bacanas das ações e emoções dos personagens, as quais proporcionaram um desfecho excelente a guerra entre o pragmatismo utópico de Tsukasa e a utopia lógica de Senku.
Sem mais delongas, é hora de comentar mais um episódio do melhor anime de ciências de todos os tempos aqui no Anime21!
Não sei se você reparou, mas a simbologia que o Senku cita ao obter a nitroglicerina, e assim a dinamite, foi mais uma demonstração perfeita da magnitude e beleza que a ciência pode ter em seus mínimos detalhes. Isso fica ainda mais interessante se a gente pensar que a dinamite foi usada para gerar um empasse que priorizava a vida e não a morte a qual o explosivo geralmente é associado.
A intenção me parece muito clara, é dizer que a ciência não é boa ou má, ela é pura, portanto, quem é bom ou mal é quem a usa, com o propósito que lhe cabe. De toda forma, vale demais frisar a beleza do momento, mas também a utilidade prática do que o Senku estava tentando fazer, que se encaixava perfeitamente em seus ideais e teve uma ajuda providencial, mas bem razoável, de sua alma gêmea na ciência, o Chrome.
Ele não arranjou a peça que faltava no quebra-cabeça para criar a dinamite por pura sorte, foi por pensar muito parecido com o Senku e, é claro, ter seus instintos de explorador afiados. O melhor de tudo é que ele catou algo que foi trazido ao local pela própria galera da ciência, que já estava sofisticado o suficiente, e isso não brotou do nada. Dessa vez dá até para dizer que o roteiro não foi descaradamente conveniente.
Enfim, se a Kohaku diz acreditar no poder da ciência, eu acredito que para todas as crias da civilização moderna; coisa que o Tsukasa, o primata mais forte do colegial, é; o poder vem da ciência e não o contrário, afinal, sem toda a ciência por trás do treino e da alimentação ele jamais teria deixado de ser um garoto franzino para se tornar um exímio lutador por mais que não o faltasse coragem e força de vontade.
E essa ideia de poder atrelada a ciência é inteligentemente usada pelo Senku e exposta em sua explicação sobre a dinamite, afinal, dinamite é poder, então todo o processo científico no fim acaba sendo também uma forma de poder. E não só o poder bruto, que causa destruição, como também o poder econômico e social que advém de suas conquistas, algo que ele também explica muito bem ao falar de Alfred Nobel.
E foi assim que a conquista da dinamite, que geralmente associamos a explosões que tiram vidas, ficou atrelada a vida porque sem ela um impasse não poderia ter sido alcançado e sem esse impasse novas possibilidades não surgiriam. Mesmo que o Tsukasa deixe bem claro as suas intenções, se ele já mudou de ideia uma vez ao entrar em acordo com o Senku e declarar trégua, o que garante que não mudará ainda mais?
Não vou entrar no mérito da cura periférica que o Senku cita ao falar com o Tsukasa, pois acho esse recurso narrativo bem razoável (não é o mesmo que juntar trocentos pedaços, colar e reviver as pessoas), só é forçado se curar algo muito grave e/ou não físico, é mais interessante comentar o próprio vilão e como sua personalidade é interessante, mas, principalmente, como seu passado explica a pessoa que se tornou.
O Tsukasa tem uma irmã mais nova chamada Mirai, futuro em japonês, mas ele não via futuro em sua vida e por isso decidiu ser forte, ganhar dinheiro e usar a grana para cuidar de sua irmã presa a uma cama por anos, desenganada pelos médicos. Se ela realmente teve morte cerebral os aparelhos já deveriam ter sido desligado, mas vamos dizer que era quase isso para efeitos de praticidade, não que faça tanta diferença assim.
Pois a gente sabe que ela será despetrificada, né, isso está na cara, mas passa longe de ser um problema. Inclusive, é melhor que aconteça para o Tsukasa recobrar a esperança na humanidade e mudar de ideia quanto o uso da ciência conveniente que ele quer a fim de criar um mundo sem toda a injustiça e a crueldade que o acometeram, as quais o tornaram um jovem resignado, que encara a vida como um fardo a se carregar.
Foi na vulnerabilidade que o Tsukasa cresceu forte, mas essa força também se confunde com tristeza por achar que precisa fazer tudo sozinho e que o melhor é agir com crueldade, carregando o peso dessas escolhas. Eu acredito no raciocínio de Russell, de que o homem é produto do meio. Sendo assim, acredito que muitas coisas convergiram para que o Tsukasa se tornasse o ditador gentil e estranhamente ético que é.
Isso significa que ele deve ser perdoado por todas as mortes que provocou se mudar de opinião? Sim e não. Quem vai julgá-lo e prendê-lo? Adiantaria algo assim? Dr. Stone não vai investir um tempo para que alguém explique ao Tsukasa o quão ingênuas suas ideias são (lembramos do quão jovem ele ainda é em idade e mentalidade), mas se ele mudar por meio da irmã acho que isso será razoável e até bom.
O que eu gostaria de frisar é que o Tsukasa fez um pouco mais de sentido após tudo que falou e a convicção que demonstrou mesmo com a trégua. Mas, repito, sua ideia é boboca desde o cerne, o que não muda o fato de eu entender porque ele a teve e como sua criação, assim como seu drama pessoal, tem influência nisso. O trecho que expôs a infância vulnerável dele e a doença da irmã foi rápido, mas pontual para isso.
Tsukasa não vai deixar de ser um vilão por tudo isso, mas pode deixar de ser um se aceitar seu erro e decidir mudar. Inclusive, acho que a forma até impessoal como ele se refere as pessoas e raramente demonstra hostilidade a elas é um pouco soberba, mas não por achar que os outros são inferiores a ele e sim por vestir demais a carapuça de vítima do destino que ele assumiu ao tão cedo ter que agir como um adulto.
Nem sempre agir como um adulto torna você um, assim como dá para ser um fanfarrão que nem o Senku e demonstrar uma maturidade incrível. Não foi ele que se atentou para a contradição lógica nas atitudes do Tsukasa e partiu desse pressuposto para selar o acordo e assim a trégua? Então, o Senku mostra sua grandeza nas pequenas coisas e mais uma vez fez sentido em seu discurso de salvar as pessoas com a ciência.
Por fim, curti esse episódio mais do que eu esperava. Até a volta dos mortos apontando a flecha do Ukyo me agradou, pois tornou mais certeiro o perigo que a dinamite representava. Nesse episódio vimos o melhor de Dr. Stone em toda a grandeza que a ciência pode nos proporcionar, e saiba que não é estranho se emocionar com esse momento do anime por mais racional que a ciência possa ter feito você ser.
Até a próxima!