Shadows House – ep 4 e 5 – A hora da provação enfim chegou
Depois de ver bastante da dupla Emilico e Kate, já estávamos ansiosos para entender melhor as outras pessoas da mansão e que tipo de relação elas tem entre si, para assim começar a juntar as peças e encaixá-las nesse jogo obscuro comandado pelos adultos da família Shadow – e que até então pouco parecem se importar com qualquer uma dessas crianças.
Falando em relações, esse é o elemento que podemos destacar como a chave central desse primeiro momento que antecede o evento principal, assim como aquele que norteia toda a execução do que chamamos de “primeira fase” do debute.
Para nossa surpresa todo o problema envolvendo as brasas não passou batido, e a Barbie como a portadora da estrela que é, veio para fazer a cobrança e aplicar as punições ao seu bel prazer – sendo essa ação que nos permitiu ler mais dos outros personagens que estavam escondidos.
Diferente das aplicadas Rosemary, Lou e Mia, que executam com maestria o seu papel de bonecas, Shaun e Rum – ou Ram em outras traduções – parecem mostrar uma face menos “mecânica” de si mesmos, o que numa primeira impressão parece ser causada pelo mesmo fator que a Emilico também é diferente.
A inocência desses personagens, os permite serem um pouco mais espontâneos com suas vontades e pensamentos, independente do papel que ocupam dentro da mansão, sendo interessante ver como eles se contrapõem aos colegas – que vivem evitando conflitos e se esquivando de qualquer destaque negativo -, incluindo o Ricky que também é outra peça interessante de se assistir muito por conta da sua personalidade “rasteira” e egocêntrica.
A Rum é extremamente tímida e mesmo com a série de problemas que causa, a menina se mantém como é, o que não lhe ajuda de forma alguma e ainda prejudica terceiros. O Shaun por outro lado é alguém reservado, mas que age conforme os seus parâmetros e é engraçado como ele contraria a Barbie, apenas por falta de simpatia as grosserias e desmandos da portadora da estrela.
Desafiar a chefe é um ato de insubordinação extremamente imprudente, mas o senso de justiça da Emilico e do Shaun acaba falando mais alto que a vontade de passarem ilesos pela confusão criada. Vale também pontuar que a cena é bem enfática na firmeza da protagonista, já que ela se levanta contra a outra boneca por duas vezes, quando já tinha sido alertada de que seria punida caso se envolvesse, e ela o fez.
Em qualquer situação um pouco mais leve, as pessoas já tendem a se acovardar com a menor ameaça, se posicionar naquelas condições realmente é uma atitude louvável. Nessa hora até comentei com a minha dupla que no caso da Emilico, a ignorância é uma benção, então essa “pureza” da personagem é bom para que as coisas andem.
O fato de ela se mostrar mais aberta, também incentiva os novos amigos a se “soltarem”, porque as outras bonecas por mais amistosas que sejam, não dão importância a essas coisas banais como gostam de dizer. O sentimento que o otimismo e a gentileza da menina transmitem, é que todos podem ser bonecos, com deveres e responsabilidades, mas isso não os impede de serem verdadeiros.
Aproveitando que a Emilico virou o alvo do assunto, assim como falamos no outro artigo, a curiosidade é uma arma poderosa que ela tem a mão, porque isso a tira do estereótipo da personagem burra que nem tenta investigar direito ou usar as pistas que tem na cara. Quando precisa agir ela também é igualmente eficiente, demonstra rapidez no raciocínio, criatividade, uma boa memória, no que achamos muito interessante essa construção peculiar da menina.
A sequência da caça as brasas é bem legal, porque esclarece isso que nós dizemos, pois ali vemos a protagonista usando o mapa que ganhou, descobrindo passagens por lembrar os detalhes da casa, pensando em como capturar o fantasma, ainda seguindo os rastros pra analisar de onde vem o problema com a fuligem excedente. Nada se perde com essa boneca e isso é maravilhoso para quem está na situação de alienação que todos ali estão.
Por outro lado se a Emilico expõe suas virtudes, sua mestra Kate põe em xeque mais uma vez a sua inconstância, demonstrando irritação por uma situação que estava fora do controle das duas. Fica perceptível que ali existe um ciuminho, uma preocupação de que ela possa perder sua boneca, além da proximidade do debute que também é um problema.
O debute sempre ficou exposto como a fase de amadurecimento das sombras, porém nunca ficou claro o que é esse amadurecer e o que de fato eles aprendem com esse “teste” feito, fora a questão de que os fracassados são descartados sem qualquer peso – fato que causa o temor em todos os candidatos.
Curiosamente a primeira etapa que seleciona os aprovados se calca exatamente na conexão entre mestre e servo, e essa por mais boba que possa parecer, na verdade é crucial para entender as diferentes personalidade e a dinâmica de cada dupla – especialmente aquela que ainda está em fase de formação nas protagonistas.
A Mia nos causou surpresa, porque as falas e reações nunca clareavam seus reais pensamentos, ainda que pendessem para uma certa revolta incubada. Qual não foi nosso choque ao ver como ela interpreta erroneamente o tratamento de sua mestra?
É sério que ela pensa que aquilo é para o bem dela? O mais impressionante é que o abuso é praticado pela Sarah, mas não necessariamente parte dela, é algo que está entranhando na boneca e ela não rejeita ou sequer reclama. Para a Mia aquilo nada mais é que o cumprimento do seu propósito, parte do trabalho que generosamente recebeu.
A propósito tem um detalhe nessa mesma cena que nos fez pensar sobre a dupla “S&M” ter debutado ou não, pois quando está “ensinando” sua boneca, a Sarah faz um comentário dúbio que pode indicar o não debute, ou apenas o mero sarcasmo da personagem em cima da outra.
Caso a primeira opção fosse a correta, como ela anda tão solta pela casa como se tivesse passe livre? Até porque diferente do Patrick que acha que é incrível e não é, a garota age com certeza do que está fazendo – e é fisicamente mais desenvolvida que os outros -, então não faz muito sentido ela ser uma debutante ainda.
Enfim, quando avaliamos essa relação tóxica e invertida, percebemos que realmente a Mia e a Sarah vivem um momento diferente e complexo, já que os outros também carregam consigo essa subserviência, porém de forma mais orgânica e amistosa.
Um exemplo muito bom dessa realidade é o Ricky, que não só é bem tratado pelo mestre, como é respeitado por ele. O Patrick admira a inteligência de seu parceiro e realmente o vê como um, os dois são leais um ao outro e mesmo que valham pouco, não dá para dizer que os dois não são bons amigos e cúmplices.
A Lou por sua vez representa uma constante que navega entre esses dois extremos, pois a Louise lhe trata com muito carinho e dedicação, sentimentos que não refletem o que ela sente pela boneca, mas sim por si mesma. A moça assim como a Sarah, vê sua companheira como um objeto, como seu rosto particular e projeta nela tudo isso de uma forma branda, entretanto sem abrir espaço para que seja diferente e ela pense mais do que deve.
Apesar das diferenças pessoais, o que é comum aos três casos – ainda que a Mia não faça parte do grupo debutante – é como as bonecas e sombras se sincronizam perfeitamente em cada gesto e ação, refletindo bem a solidez dessa união entre eles, o que para essa primeira avaliação era o mais importante.
Na verdade algo que discutimos bastante sobre esse debute é como essa avaliação as cegas – intencionalmente promovida pelo Edward – tinha uma função de testar se cada um tinha noção de si mesmo e do seu papel, sendo a sincronia apenas um resultado óbvio dessa consciência mútua, com alguns dando muito certo e outros nem tanto.
Outro exemplo bem complicado é o par Rum e Shirley, as duas são completamente sem carisma no meio do grupo e a falta de presença delas chega a ser triste. Pouco se sabe sobre a sombra, mas a impressão que ela deixa é que segue a mesma linha de sua parceira, tímida demais a ponto de nem se comunicar corretamente, tornando ainda mais difícil o trabalho da boneca.
E dentre todos aparecem como uma ironia as duplas John e Shaun, Kate e Emilico, que seguem essa linha mais livre, onde existe algum respeito e compreensão por parte dos mestres, de modo que eles preservam e valorizam a personalidade de seus companheiros. É engraçado que Kate está para Shaun, assim como John para Emilico, e se invertessem não daria tão certo a dinâmica entre esse pessoal.
John tem uma natureza descontraída e amigável que choca totalmente com o jeito mais reservado do Shaun – e da maioria dos personagens em si -, chega a ser bonitinho como ele tenta tornar a vida do boneco melhor, quando na verdade deveria ser o contrário.
Todas essas relações orgânicas ou não, tem um peso para a Kate porque como alguém ainda incapaz de entender claramente o que lhe cerca e o que sente, em seu desespero ela acaba esquecendo aquilo que mais preza, a autenticidade da Emilico. As outras bonecas são perfeitas? São, mas nada disso se compara aos sentimentos genuínos que a boneca transborda para com ela.
O que fica visível é que tudo não passou de um medo da protagonista, de perder aquela que mais gosta e que por mais imperfeita que seja, é quem melhor lhe compreende e se importa com ela nos mínimos detalhes. Para o teste de comportamento isso serve? Obviamente que não, contudo abre portas para que as duas se comuniquem ainda melhor e marca o ponto de virada da Kate, que agora parece mais certa de si e do seu vínculo com a Emilico.
Assistindo a tudo de perto, o Edward conseguiu tocar o terror nessa primeira fase e deixou todos desesperados com seu julgamento, no entanto essa é a apenas a primeira ameaça, o que aquele labirinto ainda pode trazer de terrível as pobres sombras debutantes? Aguardemos a sequência para saber!