Uma incógnita, uma aposta, uma curiosidade. Todas essas palavras descrevem o meu intuito em assistir esse anime e descobrir sobre o que realmente ele tratava. Sou um aficionado por AMVs, e não raro é quando descubro obras através desse hábito.

 

 

Mutafukaz não foge, mas comprova essa minha característica, dentre os milhares de AMVs que já assisti, diversos animes já me chamaram a atenção, e em geral, não me decepcionam. Foi o caso de Mutafukaz? Não, MTKZ, infelizmente, não foi um anime que me agradou muito.

Não sei nem se ele é pertinente para ser resenhado aqui no blog, mas como já cruzei essa linha junto a outras obras, dessa vez faço o mesmo, e talvez esteja justificado, pois, apesar de ser um anime propriamente ocidental em toda a sua essência, e de tê-lo assistido em inglês, pois não achei a versão com dublagem japonesa, ele ainda tem a mão de um diretor, mesmo que auxiliar, que é japonês, e é produzido por um estúdio tradicional e muito conhecido por não permanecer na zona de conforto. O estúdio 4ºC se aventura bastante, principalmente em filmes e OVAs.

 

 

De todo modo, vamos à obra em questão. MTKZ traz um cenário decadente e muito comum a nós, brasileiros, por bem ou por mal. A periferia é o lar de Argelino, um órfão semi indigente que divide um pulgueiro com seu amigo, igualmente abandonado no mundo, Vinz.

Argelino vive de bico em bico, rastejando pela sua juventude sem qualquer perspectiva. O local onde habita é dominado por gangues, violência e baratas. Pelos menos em relação às últimas, ele consegue construir uma relação de afeto e amor, a qual é completamente repugnante e adorável ao mesmo tempo.

Lino não sabe de nada, não tem futuro ou qualquer previsão de futuro. Ele começa sua jornada sendo atropelado por um caminhão, e não, ele não vai parar em um Isekai, pelo menos não literalmente.

O motivo do acidente de Lino é a linda e deslumbrante Luna, uma garota pela qual os sentidos e coração do rapaz são atraídos de maneira incontrolável. Luna, na verdade, acaba atraindo Lino por um motivo simples, e nunca revelado, ela e ele são seres híbridos, uma mescla de humanos e alienígenas de espécie não definida.

 

 

Lino foi abandonado, não se sabe bem onde, por seu guardião e protetor, spoiler, pai, alienígena, que estava sendo caçado, junto a sua esposa humana, pela alta cúpula dos aliens. Essa alta cúpula não permite de modo algum a mistura de raça e contato íntimo com uma raça que consideram inferior.

Entretanto, nos questionamos, e Luna, que é ela? Luna é a filha do líder máximo dessa organização, mas existe um porém, Luna não é fruto do amor entre um humano e um extraterrestre, mas sim uma cobaia de laboratório que foi criada artificialmente, por motivo não revelado, como um capricho do grande chefe da organização.

Luna, ao contrário de Lino, não apresenta nitidamente uma aparência muito diversa, se assemelha a uma humana normal, Lino, por sua vez, é uma incógnita, já que por mais que seja único em características, nunca o será tão único quanto os seus amigos.

 

 

Vinz é um humano caveira com a cabeça em chamas, e Willy, um cara meio escroto que parece ser um tipo de gato estranho e que usa aparelho nos dentes. MTKZ não é uma obra que segue qualquer lógica, é uma obra que preza o bizarro e o distorcido, se aproxima muito mais do cartoon e do HQ, do que de uma abordagem “japonesa” do surreal e da fantasia.

O filme gosta de ser excêntrico, por assim dizer. O enredo geral da obra, e seu percurso, praticamente se resume a uma caçada. Como já sabem o pai e a mãe de Lino foram perseguidos, e para falar a verdade, sabemos que pelo menos sua mãe está morta. Lino, por sua vez, mesmo sendo um zé ninguém, ainda é alvo dessa organização.

Eles enviam tropas de eliminação atrás do rapaz, e a animação se concentra, quase que integralmente, em apresentar a sua fuga e as pequenas descobertas e revelações em relação a sua real identidade, a qual ele desconhecia completamente.

 

 

Em segundo plano, é revelado a natureza desses alienígenas, ao mesmo tempo em que humanos, por eles cooptados, e seus próprios aliens humanoides, possivelmente até mesmo híbridos, assim como Lino, efetivam conflitos com as gangues locais, pois invadem o território das mesmas.

Os aliens tem um plano claro, aniquilar Lino, mas no meio do filme, após a captura do rapaz, descobrimos que o líder quer alistá-lo, fazendo uma lavagem cerebral nele, para a sua organização. Fica dúbio, assim como muita coisa no filme, o porque diabos as coisas aconteciam como aconteciam, e depois mudavam de rumo em cavalo de pau sem realmente se preocupar se o filme capotaria ou não.

E sim, o filme capota, fica torto e estranho. Toda essa inconstância de roteiro, pontuado por explicações mal elaboradas, elementos que dão em lugar nenhum e prioridade demasiada em relação ao gore e a ação, levam o resultado a um filme que diverte, mas não convence.

 

 

Tem elementos interessantes, como a parceria entre um cientista resgatado por lutadores de luta livre, que na verdade são os heróis secretos do mundo, enfrentando a maldade e as grandes catástrofes como os super heróis lendários que caminham pelas sombras.

Esse cientista e esse grupo secreto, conhecendo os planos dos aliens, de terraformação, aquecimento do planeta e transformação climática para que possam migrar para o local, eliminar os humanos e viverem ali como novos donos do lugar, e tendo os meios de efetivar uma contra estratégia, uma bomba de resfriamento climático, faz com que, em terceiro plano, algo que nada tem haver com os outros elementos protagonizados por Lino, se torne uma realidade.

MTKZ é um recorte de uma obra muito maior, mas a composição da história, do que é contado, as escolhas de como preencher e o que destacar no filme, tropeça sobre as próprias pernas.

 

 

Não duvido que seja uma obra interessante, ou de entretenimento razoável, mas a sua adaptação em filme faz escolhas complicadas. É uma animação que até certo ponto funciona, e que propositalmente está contando apenas um seguimento da história, sendo que termina em aberto e revelando uma possível continuação, mas o modo como apresentam essa estrutura que pode ser deliberadamente caótica, arremessa a obra em inúmeros problemas de imersão.

O grande oponente e vilão da vez, o cara de terno branco, pelo menos tem um fim interessante, já Luna, nem sabemos o que se passa direito em sua cabeça, ou qual a real conexão que ela e Lino compartilham. Os lutadores de luta livre heróis, cumprem o seu papel, mas são mal utilizados, e muitas coisas ficam apenas inconclusas e desconectadas demais.

Bem, é isso, um filme que gerou um ótimo AMV, mas que deixou e muito a desejar no que tange a densidade, mesmo que uma que seja voltada para o surreal e o bizarro como sua regra base.

 

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