Vamos começar com uma poesia.

“I am the Bone of my Sword
Steel is my Body and Fire is my Blood.
I have created over a Thousand Blades,
Unknown to Death,
Nor known to Life.
Have withstood Pain to create many Weapons
Yet those Hands will never hold Anything.
So, as I Pray–
Unlimited Blade Works

 

 

Essa é uma conjuração de respeito. Toda vez, e digo com ênfase, toda vez mesmo! Quando o Archer conjura o seu Hougu, eu sinto um frio na espinha. É fantástico. Sério, me emociono demais. Na verdade, fico sempre na expectativa, conjura o Hougu, conjura essa merda logo rsrs

Infelizmente nesse segundo filme ele só ofereceu uma palhinha da conjuração completa, mas tudo bem, foi uma cena de encher os olhos. Fate realmente consegue me tirar o fôlego em quase todas as suas lutas, e esse, mas não apenas, é um dos motivos de eu apreciar tanto essa obra.

Bem, mas falando sério e resenhando o filme adequadamente, o segmento HF continua a todo vapor. Sakura, uma refém de seu destino e abusada até o osso pelo seu passado, sem ainda ter paz e com crédito de desgraça em sobra, é corrompida em completo pela maldição do cálice sagrado.

 

 

Ela, como vasilhame que retém e amadurece o ritual de manifestação da relíquia dos desejos, tem por responsabilidade ser o portão que conecta o milagre ao real, no entanto, esse portão é arrombado pela vontade dessa entidade, a qual se arrasta pela sua mente e alma, a consumindo no processo.

Para Sakura, a vida tem muita pedra para pouca cruz, não bastasse a sua destruição e dissolução orgânica, frente a um treinamento impiedoso dos Matou, o qual consome o sistema de sensibilidade de seu cérebro, a tornando aos poucos, enquanto sente em absoluto e a flor da pele todos os estímulos físicos, um ser incapaz de sentir absolutamente nada.

A morte é o que a aguarda, é uma estrada pavimentada de decomposição. Zouken, o ancião dos Matou, por mais que tenha mais de 200 anos de idade, sabe que está mais decomposto e morto do que vivo. Sakura certamente é habilidosa, mas dificilmente conseguiria sobreviver a essa magia que mais podemos entender como uma maldição.

 

 

Os vermes consomem a pessoa em vida, migrando pelos círculos mágicos e pelos tecidos, a transformam em um cadáver ambulante, uma casca vazia de puro nada. Não é à toa que Zouken deseja a imortalidade a qualquer custo, ele sabe que não pode manter essa decreta estrutura por muito mais tempo, e convenhamos, nem deveria ter seguido rumo a esse caminho em primeiro lugar.

A salvação de Zouken implica no sacrifício de Sakura, mas nem tudo ocorrer como deveria, e o cálice, possuindo vontade própria, utiliza a garota como trampolim para manifestar a sua própria consciência. O receptáculo se torna o revestimento do desespero, elemento ao qual a natureza é, inicialmente, crescer, consumir vidas, corpos, almas e magia.

A vida particular de Sakura, apesar das circunstâncias em que ela está inserida, gira em torno de sua fuga, dos Matou, mas agora também do cálice que consome, e o seu refúgio egoísta, que se transforma no seu amor sincero, é Shirou. Infelizmente a guerra do santo graal também arremessa a garota em conflitos dos mais diversos, como com Shinji, o seu irmão mais velho adotivo, que não apenas abusa dela, mas a manipula de todos os jeitos que pode.

 

 

O desenlace dos conflitos familiares de Sakura, sua coragem vacilante, sua fragilidade frente a repulsa que desenvolve em relação a si mesma, sua solidão, abandono e resignação, tudo isso a pressionam ante a sua missão como uma Matou.

Shirou, o herói em começo de carreira, se vê impotente e incapaz, quando a realidade se arremessa frente aos seus olhos, ele nada pode fazer. Nesse segundo filme, após perder a Saber, é arremessado de um lado ao outro sem nunca conseguir estabelecer a segurança de ninguém.

Toosaka Rin, de maneira semelhante, está de mãos atadas frente a complexidade da situação, mesmo que seja hábil, tudo está acima de suas capacidades e poder. A narrativa nos apresenta elementos caseiros de pura melancolia, e sabemos que o que se assoma é uma inevitável tragédia.

 

 

Seja em relação ao conflito com Shinji, seja em relação aos laços mágicos dos Matou, orquestrados por Zouken, ou mesmo aos efeitos colaterais da magia e do cálice que amadure e despedaça sua consciência, ou a guerra em que foi obrigada a adentrar, Sakura apenas sofre, é um turbilhão de catástrofes que a asfixiam em vida.

Os demais mestre, Illya, ou mesmo Kirei, apenas são mensageiros que explicitam a realidade inevitável, Illya revela o destino de Sakura, a morte, Kirei, a natureza do cálice e o desfecho de sua existência. Kirei ainda toma para si, como vocação de fé, a missão de enfrentar o mal.

Kirei explica o como o cálice nasceu, sendo uma entidade que não apenas recebeu o desejo direto dos humanos, mas também a escuridão de suas almas, confluindo por eras os sentimentos, e armazenando tudo aquilo que as pessoas negavam, toda a sua podridão, tudo aquilo que elas não desejavam para sim, e do qual queriam se livrar. O cálice pode dar nascimento não a resposta, mas àquilo que pode responder a resposta, ao mal em sua essência.

 

 

E claro, como não poderia faltar, o filme nos apresenta uma das mais belas lutas de Berserker, o Servo de Illya, e o potencial absurdo de Alter Saber, quando contaminada até a raiz com a corrupção do cálice. Como disse acima, é de encher os olhos e o coração.

Fate HF tem um percurso sombrio regado a brutalidade soturna, não explícita, e é preciso pescar os dilemas e conflitos de muitos personagens, como a Rider, que acaba se submetendo docilmente, em grande parte, as ordens de Sakura, ou mesmo Illya, que tem por objetivo se vingar de seu pai, mesmo que este já esteja morto, e de Shirou. Sua amargura e conflito está sempre presente quando ela se contra com o rapaz. Fuji-nee desvela a realidade para Sakura, sobre o comportamento de redenção e a busca incessante de Kiritsugo por sua filha, mas não é possível se ler com clareza os atos mistérios do pai de Shirou e Illya.

 

 

Kirei, como sempre, se mantém astuto e pragmático, um sujeito desagradável por natureza. Shinji, o infeliz detestável da vez, revela sua indescritível e repulsiva conduta, o que ele faz e fez com a Sakura é execrável.

Shitou, por mais falho que seja, ainda apresenta um bom contraste com Archer, seu eu heroico adulto, e quando está em face ao dilema que provará o seu heroísmo, cai de joelhos frente ao seu próprio egoísmo e incapacidade de escolher entre dois caminhos impossíveis. Matar a Sakura, ou deixar inocentes morrerem às pencas.

O relacionamento de Sakura e Shirou é de uma tristeza ímpar, é doloroso e agridoce, mesmo que o sentimento de ambos seja um amor pleno, eles não podem estar juntos, e como já sabemos, Sakura está condenada.

 

 

Para concluir, fico no aguardo para descobrir o que realmente aconteceu com Berserker após sua digna derrota em batalha ao se deparar com a apelação encarnada que responde pelo nome de Alter Saber, e mesmo se Archer, agora desprovido de um de seus braços, ainda se encontra encarnado como um herói irregular, ou se passou definitivamente o bastão e o protagonismo para o seu eu juvenil.

E por fim, mas não menos importante, comentar o desfecho de Gilgamesh. Olha, deu dó, mas foi um tanto quanto satisfatório presenciar o rei dos heróis quase dobrar os joelhos frente ao demônio encarnado, o qual encarnou de verdade quando Sakura cruzou a linha de sua humanidade e perdeu completamente a sua capacidade de resistir a corrupção da entidade a qual está gestando. E convenhamos, ela não deveria se sentir tão culpada pelo que fez, mas como ela é um amor de pessoa, o peso sobre sua humanidade foi grande demais.

 

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