No artigo de hoje trago algumas palavras sobre uma das coisas mais lindas que vi nos últimos tempos. É singelo, é denso e de condução primorosa, é uma herança, um agradecimento e uma esperança, mas também é uma crítica habilmente tecida. As folhas do amanhã.

 

 

O OVA em questão é um especial elaborado para as olimpíadas de Tokyo de 2021, e quem toma à frente da direção dos pouco mais de 8 minutos, é Yoshiyuki Momose, um veterano do estúdio Ghibli. No entanto, o estúdio filho Ponoc, é quem hospeda esse trabalho.

A narrativa desse especial, o qual pode ser entendido como uma abertura e uma homenagem em relação ao evento com o qual se conecta, se desdobra pela seguinte premissa. A natureza está ferida, está definhando e desaparecendo, e cabe às folhas do amanhã, aos jovens do presente, agir sobre a situação.

Os elementais, representados pelos sons do nascimento, que expressam as emoções de um bebê, conduzem um chamado. Cada elemental representa um círculo da corrente, um elo da espiral, pelo fogo, terra, vento, água e gelo que compõem a infância da natureza.

 

 

Cada folha carrega uma mensagem, precisamos de ajuda. E os adolescentes a recebem. Um pescador, um agricultor, uma pecuarista, um caçador coletor, que na verdade pode ser uma caçadora coletora, pois não é perceptível o seu gênero, e por fim, uma estudante.

A viagem mágica em direção ao desastre é desenvolvida pelos veículos tecnológicos. Seja pelos ares, pela água ou pela terra, os humanos caminham, mesmo que pelo fluxo da narrativa, o habitante do ártico não tenha sido adequadamente apresentado, um erro perdoável.

Os jovens, a nova geração, consciente da situação, responsáveis e proativos, rumam ao socorro daquilo que lhe é mais precioso, a vida. E como não poderia faltar, adentram em uma hábil aventura enquanto trilham o caminho da superação. Uma competição saudável onde cada um brilha de seu modo particular, efetuando a representação dos esportes olímpicos.

 

 

As dificuldades são conquistadas, mas o obstáculo final é inevitável, é tarde demais, o mundo já atingiu o ponto de não retorno. A morte despenca como chuva em uma tempestade que a tudo inunda, é o fim, é o dilúvio das amargas consequências.

No entanto, apesar de se deparar com um futuro que apresenta o passado como uma lápide das lamentações, um cemitério de prédios de uma civilização soterrada pelos seus pecados, ainda existe a memória, ainda existe a força da vida, o renascimento.

Os jovens, heróis de seu próprio tempo, não estão sozinhos, eles carregam a força de seus antepassados, dos atletas e das conquistas que se acumulam na civilização, apesar das cicatrizes, eles são os guias para um novo mundo.

 

 

E ao lado dos herdeiros, temos as forças da natureza, as quais se transformam, as quais brotam em elementos e em raízes profundas. Oferecem a semente de um novo dia, a qual deve ser carregada, uma preciosidade que converte em verde e flor a tudo que toca.

Em sua jornada incessante, os jovens seguem juntos, construindo a condução e o manejo da força vital da natureza, e por fim, em domínio e drible, arremessam em empenho as rédeas de um futuro que lhes pertence.

Restaurada a linha do equilíbrio, o que nasce, renasce, o que brota, cresce e prospera; a missão está cumprida, a vida pulsa enquanto sorri como uma entidade do destino, um lembrete da resiliência e da pureza que inspira e nutre a existência.

 

 

Esse é o percurso de um OVA nada ingênuo frente a sua mensagem, o qual estabelece desde o início o ritmo e a adequada crítica. Somos humanos e responsáveis, quem aqui está, adulto e criança, herdeiro e mentor, devem construir a ponte para o amanhã.

Se atentem para a explosão de vida que essa breve obra nos apresenta, seja em sua ambientação fantástica, ou mesmo em sua imersão sonora, estamos expectando o ciclo de atos, navegando, escavando ou planando em direção ao destino.

Por mais que os jovens sejam os protagonistas, aqueles a quem cabe transformar o mundo, eles não estão sozinhos, muito pelo contrário, todos são conduzidos por seus respectivos pais, adultos que passam o bastão, mas que não deixam de ter papel central, ou até mesmo fundante e fundamental, em cooperar e auxiliar os seus herdeiros.

 

 

Seja uma ilha, seja um continente, a reflexão que nos abraça é um apelo, um aviso, ninguém está seguro frente ao que está por vir. As folhas do amanhã não são apenas um lembrete de esperança, mas um prenúncio de catástrofe.

O que aprendemos e o que ensinamos para nós mesmo e para os outros, também nos será ensinado, e não por palavras, mas por fluxos de reestruturação da teia da vida, onde uma nova era surgirá, onde as sementes germinaram para nos nutrir com os frutos que garantem as folhas do amanhã.

 

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