Eu gostei desse episódio, só que na avaliação geral esse arco me decepcionou, mas não pela história dele e sim pelas decisões da produção, que espremeu um arco que merecia é ser alongado e não o finalizou com um clímax realmente pungente, caindo na mesma falha de toda temporada desse anime, que, aliás, já teve seu sexto ato anunciado. Enfim, vamos falar do fim do arco do Shigaraki?

Uma criança abandonada pela sociedade é uma construção narrativa eficiente se a ideia é gerar uma reflexão mais profunda do público, afinal, como separar esse background do que a criança desamparada veio a se tornar em sua fase adulta? Ainda que tenhamos exemplos tão brutais quanto na ficção, e na própria realidade, que não descambaram para o mesmo fim trágico. É inegável que Shigaraki é um produto de seu meio.

De tal forma, não podemos apenas odiá-lo como vilão ou minimizar a complexidade do personagem. Aliás, acho que não devemos, e eu particularmente não farei isso, pois sei que cada um têm sua opinião e imagino que alguns não tenham toda essa boa vontade. Ao mesmo tempo, não espero que isso sirva de muleta para “convertê-lo” a bondade em um momento futuro, apenas que acinzente ainda mais a história.

Uma figura que tem tons mais escuros como um todo já é o All For One, o tipo de palerma capaz de usar uma criança a fim de criar um vilão que seguiria com seu legado. Ainda que ele não tenha premeditado a tragédia do Tenko, é certo que se aproveitou dela e alimentou os sentimentos negativos da criança, provendo a ela não o salvamento ao qual estamos acostumados, mas uma condenação a réplica da barbárie.

Em todo caso, em quase toda história, ainda mais em um battle shonen, precisamos de um herói e de um vilão, de forças que se oponham em maior ou menor grau, quer uma tenha mais razão ou não. Ainda acho que os heróis têm mais razão que os vilões em BokuAca, mas é certo que isso vai diminuindo com o passar do tempo e esse acinzentamento positivo da história. Shigaraki é o vilão, mas não é menos vítima por isso.

Então, voltando ao vilão e ao que ele faz na primeira parte do episódio, não é estranho que ela sinta coceira como uma reação física ao estresse que sofreu após dizimar a família, que ele tenha se tornado uma figura problemática e cheia de traumas, e nem que tenha chegado a um estado capaz de impressionar até mesmo o Maquia. Se tem uma coisa de que gostei nesse episódio foi da brutalidade com a qual o sr. mãozinha impactou a todos.

Com isso o resultado natural era mesmo a absorção da frente de liberação dos metas pela União dos Vilões, ou melhor, nem absorção, mais uma fusão, afinal, os elementos sobreviventes de ambos começaram a cooperar a partir do momento em que o Shigaraki se tornou um chefe acima do próprio Re-Destro. Shigaraki é o cabeça do Fronte de Libertação Sobrenatural, um nome que achei meio tosquinho, o que pode ser culpa de uma tradução ruim também.

Mas isso é pouco ou nada relevante, o importante mesmo foi o Re-Destro assumir que perdeu e se deixar dominar pelo Shigaraki, um movimento que pode ser momentâneo e apenas por sobrevivência, como não, pode ser definitivo e significar mudanças de perspectivas bem drásticas na trama, afinal, com mais poder a União vira outra coisa, algo mais próximo, talvez até superior, a influência que o AFO teve um dia.

E isso é ainda mais perigoso devido ao acobertamento, o qual retarda ações mais efetivas para lidar com essa expansão de poder do Shigaraki em escala exponencial. O primeiro passou foi tomar tudo, ser coroado o rei da cocada preta e aliar interesses que realmente não se chocavam (as individualidades serem usadas livremente até condiz com a “ideologia” do Mãozinha), o segundo será algo sem precedentes para a trama?

Veremos. Eu conto com isso, ou de outra forma, por que usar esse plot da frente de libertação dos metas se não fosse para acelerar o crescimento da União? Acho engraçado o Deku e os outros ainda estarem no primeiro ano do colegial, mas, na boa, isso também é pouco ou nada relevante se pensarmos que mais dia menos dia deve haver uma cisão dessa fase juvenil dos heróis para a fase adulta.

Definitivamente, não sei quando ou como isso vai se dar, no máximo gosto da teoria (que eu não sei se ninguém imaginou além de mim) de BokuAca virar apenas BokuHero (My Hero), como se o mangá e anime atuais fosse uma espécie de Smallville e esse novo mangá/anime acompanhasse o Deku já adulto como o herói número um, ou um dos candidatos a isso. Não é uma má ideia vai. Diria até que é muito boa.

Por fim, o próximo episódio pode até ser interessante, mas não vai ser climático como teria sido se tivessem encerrado a temporada na primeira metade desse. Seria pedir demais que a sexta terminasse arrasando quarteirão como essa não fez, ainda que, repetindo o que escrevi faz tempo, ela seja um divisor de águas, o famoso turning point, para a história? Agora que conhecemos a origem do mal, o que esperar de seus desdobramentos?

Até a próxima!

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