Jojo’s Bizarre Adventure: Stone Ocean finalmente ganhou vida, e dessa vez de forma diferente, tendo seus 12 primeiros episódios lançados antes da exibição na TV. A Netflix ficou a cargo da empreitada e dá para dizer que não foi uma má ideia essa overdose de Jojo, e já sem censura.

Como e quando serão lançados os próximos episódios ainda é um mistério, a única certeza que tenho é de que essa temporada teve um primeiro cour muito bom e promete muito mais. Temos uma heroína e um vilão a altura do legado da historia mais bizarra de todos os tempos.

 

“Após se envolver em um acidente de carro, Jolyne Kujo (filha de Jotaro Kujo, protagonista da parte 3) é jogada em uma prisão nos Estados Unidos, a Green Dolphin Street, na qual estranhos eventos reavivem uma ameaça do passado que persegue a linhagem Joestar por gerações.”

 

Prefiro mil vezes comentar Jojo episódio a episódio como fiz com a parte 5, Vento Aureo, mas a gente que trabalha em blog tem que se adaptar aos formatos de lançamento do objeto de nossas análises, né, então não tive para onde correr. Felizmente, ainda foi uma ótima experiência.

Jojo é bom a conta gotas ou em grandes doses, e se você me dissesse que a Jolyne seria bem melhor que o Giorno Giovana (do qual até gosto, mas ele é um vácuo de carisma, né) eu ficaria com um pé atrás, mas a verdade e que ela é tudo isso mesmo, uma Joestar em sua melhor forma.

Ela tem a marra do pai, mas a irreverência do bisavó Joseph, não à toa logo na segunda cena do anime o contraste entre a cena do pai na cela na parte 3 e a dela nessa parte 6 é hilariante. Não tem como não rir dela lamentando ter sido pega no flagra fazendo seu trabalho de “DJ”.

E o melhor nem é isso, mas a forma como ela conta a história, que espanta qualquer pegada ecchi que o trecho poderia ter, caindo mesmo é na comicidade. Outra coisa legal, esa parte 6 é cheia de mulheres como em nenhuma outra, e com um protagonismo feminino como nenhuma teve até então.

Enfim, a Jolyne é piradinha, mas quando fala sério fala sério, além disso, se mete em confusão e aguenta o tranco por bondade, o que a leva a cair muito fácil na armadilha armada pelo Pucchi. Mas ela não deixa barato, dando o troco a quem lhe faz mal, como fez com seu advogado.

Aliás, não só ele com suas orelhas de elfo, praticamente todo mundo que aparece no anime é estranho além da conta, é como se o Araki tivesse decidido chutar o balde, fazendo várias peripécias visuais com cabelos e formas físicas. Tudo é extra bizarro em Stone Ocean.

Tanto que acho a Jolyne e suas JoJo Girls (SisJo fica estranho, não é como BroJo, que soa melhor) são até bem comedidas em comparação a alguns usuários de Stand que elas enfrentam e até com alguns guardas. O diretor da prisão mesmo é uma figura bisonha, que parece louca demais para o cargo que tem.

Focando na protagonista e na história, gostei bastante de como o Araki introduziu o conceito de Stands a Jolyne e de como ela se adaptou ao Stand que ganha e desperta sem nem perceber. Além disso, conceitualmente não faz sentido um Stand de fios para lutar em uma prisão?

Fios podem se meter no buraco de qualquer fechadura e abrir caminhos para alguém que quer fugir. Aliás, precisa, afinal, a Jolyne é posta na Green Dolphin para atrair o pai e possivelmente até ser morta. Quando um seguidor do Dio e um Joestar se cruzam não dá outra, né?

Mas com o que ele, o padre Pucchi, grande vilão da parte 6 que aparece já nos primeiros episódios, não poderia contar é com a personalidade forte, inteligência e instinto apurados da heroína; qualidades que a tornam um obstáculo formidável para os planos do vilão.

Jolyne tem suas questões com o pai, mas elas não a impedem de prezar pela sua vida ou simplesmente se preocupar com um garoto para lá de misterioso que conhece na prisão, o Emporio, um personagem cujo Stand só não é mais bizarro que sua própria apresentação.

Emporio acaba sendo o primeiro BroJo do anime, mas antes de falar mais dele e de Weather Report ou Anasui; precisamos falar da Ermes e do Foo Fighters, as companheiras da Jolyne que rendem muito não só quando o assunto é comédia, mas também ação.

Ermes é uma ladra reincidente na Greend Dolphin que se aproxima da Jolyne mesmo antes de “coincidentemente” recuperar o amuleto do Jotaro que a heroína havia jogado fora e também ganhar um Stand, o qual, aliás, é conceitualmente um dos mais interessantes dessa parte.

O efeito ricochete quando o adesivo é removido oferta várias possibilidades de uso a heroína, que explora o conceito com muita sagacidade e com isso promove lutas muito boas. Menos pela pancadaria e mais pela inteligência na maneira de usar o Stand.

E se a Ermes é bem irreverente, o mesmo podemos falar sobre o Foo Fighters, Stand que ganhou vida devido ao efeito dos discos do White Snake. Stand do vilão Pucchi, e se une a Jolyne após ser derrotado por ela, por um respeito conquistado com muita meticulosidade.

A forma como a Jolyne justifica não matar o F.F. dá muitos créditos a heroína, mas também permite uma construção bem interessante, afinal, o conceito de Stand autônomo ou inteligente não e novo, mas um que toma um corpo humano para si e vira uma “heroína” sim.

E o melhor, provendo contrastes de comportamento até esperados se pensarmos que ela tomou o corpo de uma humana, mas em si não é uma, não agindo como tal em vários momentos cômicos. Aliás, matar a Atroe daquela forma, quando ela aparece na OP como heroína, foi muito bom.

Essa tensão constante de que pessoas podem e devem morrer em uma luta de Stands é uma das coisas mais legais das últimas partes de Jojo, pois ainda que na maioria das vezes acabe em pizza, é fato que de vez em quando o Araki mata alguém e às vezes nem estamos esperando.

Jojo é bizarro e conveniente em muitos momentos, mas também consegue ser visceral em várias de suas lutas, as quais merecem elogios nem tanto pelas coreografias de ação, mas mais pela maneira como as personagens, principalmente a Jolyne, buscam alternativas para a vitória.

E uma das características mais legais dessas lutas são o equilíbrio, pois ao mesmo tempo em que a Jolyne consegue pensar em saídas sensacionais para os problemas que encara, às vezes ela só cai na porrada pura e simples, aproveitando o melhor das duas propostas.

Na verdade, o mais comum é que ela concilie as duas, mas não sem perdas eventuais, como ocorre com a “morte” do Jotaro. Um revés dessa magnitude já nos primeiros episódios do anime passa a impressão de que a jornada não vai ser tão sem arranhões como foi na parte 4.

Além de que, convenhamos, ver o Jotaro sendo derrotado, e de quebra tentando proteger a filha, foi bem gratificante. Não que eu quisesse o mal do personagem, mas ele também não morreu ainda, isso é fato, então elogio os contornos que a trama ganha já no comecinho.

E só para citar, a luta dos Jojos contra o Johngalli A. e o White Snake é sensacional pela quantidade de loucura que acontece durante, mas também pelo seu desfecho. O telespectador se pega sem saber o que é ilusão ou não e como fazer para sair dali.

Essa imprevisibilidade misturada a tensão constante faz de todo episodio de Stone Ocean irresistível, mesmo os que terminam com menos senso de urgência. Outras coisas que contribuem para isso são o sistema do dinheiro dentro da prisão e a hostilidade que vem de todo lado.

Nisso o Araki acabou acertando em cheio, pois conceitualmente o cenário de pano de fundo dessa parte é completamente diferente de todas as outras, mesmo de Diamond, que se passa em uma cidade, mas não conserva os mesmos padrões violentos e limitações inerentes.

Nessa selva de pedra entendo as intimidades das heroínas serem exploradas aqui e ali a fim de exemplificar como a vida na prisão é selvagem, nela outras regras, e bem piores, se aplicam, tanto é que o simples ato de ir ao banheiro pode subverter a ordem social, por exemplo.

Tem uma cena muito engraçada que é quando a Ermes oferece sua calcinha para o suicida, mas mesmo assim ele não desiste de acabar com a própria vida, o que provoca uma reação bem divertida e mais incisiva da heroína a fim de resolver sua situação, claramente de vida ou morte.

Stand Ocean como história é bem simples, mas os contextos nos quais se encontram as personagens e são desenvolvidas as situações não, e é por isso que gosto bastante de como o autor sempre trabalha no limite, com muita bizarrice, mas também algumas coisas que fazem sentido.

Como o vilão Pucchi, que é o padre da igreja da prisão, literalmente tudo que existe na ilha, alguém cuja posição e ideologia faz com que não faça sentido em demorar para apresentar o personagem, ainda que eu adore ver o White Snake falando e agindo em seu intermédio.

Aliás, rachei o bico quando vi um meme falando que o White Snake era uma gótica rabuda armada, e que isso é engraçado justamente por ser o Stand de um padre. Figura que, aliás, tem um dos cabelos mais estranhos dessa parte, reiterando o que falei sobre essa loucura visual.

Quanto ao seu objetivo, eu genuinamente acredito na devoção de um padre pelo conceito de céu apresentado pelo Dio, um vilão sedutor cujas ações não teriam como resultar a não ser na produção de capangas perigosos, como a gente já viu antes.

Pucchi é o herdeiro do legado bizarro de Dio, alguém cuja mentalidade e Stand se alinham para formar um vilão formidável, que é desconhecido para quem está dentro da história, mas não para nós. Acho que saber quem é o vilão desde o começo deixa a trama mais bem amarradinha.

Por fim, apesar da luta contra o Jumpin’ Jack Flash ter rodado em círculos, do Weather Report ter tirado uma chuva de sapos venenosos do c* e do CG estar sendo mais usado, sinto que não tenho nenhuma grande ressalva a fazer sobre a qualidade desses primeiros 12 episódios.

Não entendi o Anasui sequer ter tido seu nome falado, mas é certeza que ele vai ganhar espaço no segundo cour, então o que prefiro fazer é elogiar as qualidades de Stone Ocean, compreendendo, claro, que se trata de Jojo, uma história peculiar demais entre todas as histórias peculiares.

E sim, a Jolyne clamar tanto pela mãe (uma loirona que surgiu do nada e nem nome tem) me parece ter a ver com o quanto o pai foi ausente em sua criação. Em parte pelas atividades que desempenhava a fim de cortar os tentáculos do Dio por aí, em parte por sua própria personalidade.

Dizer que se importa com a filha não vai eximir o Jotaro de culpa, mas a verdade é que o Araki nunca quis fazer isso com seus personagens e sua história. Jojo pode até ser bizarro, mas não ao ponto de resolver mal problemas para os quais, no fim das contas, não existem respostas definitivas.

A Jolyne enviou o disco de Stand do pai para a Fundação Speedwagon, agora vamos ver se no segundo cour ela consegue recuperar o disco de memória dele, crucial para o Pucchi alcançar o céu. Aliás, por que o Pucchi ainda não leu o bagulho mesmo? Vai entender aquele maluco.

Até a próxima!

 

Live que fizemos no meu canal, o Nerd Gakure, falando tudo sobre os 12 primeiros episódios de Stone Ocean.

 

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