Que episódio pesado, hein? Mas bonito, afinal, conhecemos o passado da Tonari e vimos o Fushi mudando da água para o vinho depois de uma bombástica revelação. Eu já nem sei mais o que sentir, se fico triste pelos personagens que aprendi a gostar ou se fico feliz por ver o Fushi se desenvolvendo cada vez mais. Quem diria que ele seria capaz de contar uma história? E agora, será que ele vai aprender a sonhar?

Para mim a pergunta parece retórica, ainda mais após o que aconteceu nesse episódio e deve acontecer nos próximos, mas antes de falar do que está adiante, gostaria de pairar sobre a conversa das crianças e a que caminho elas levam. Se encararmos o Fushi como uma criança em desenvolvimento, não faz sentido que ele ganhe essa perspectiva ao longo de sua jornada, de que ele deve sim sonhar com o futuro?

Além disso, também foi muito positivo conhecer mais das outras crianças por meio de seus sonhos, ainda que qualquer um saiba que a Tonari é a âncora de sustentação desse arco e que, portanto, o passado que precisava ser mostrado era o dela. Aliás, antes de comentá-lo só gostaria de propor um ponto de reflexão. Em Fumetsu, os personagens secundários são meras ferramentas de roteiro ou não? O que você acha?

Confesso ainda estar pensando sobre isso, mas ao mesmo tempo em que nesse episódio achei o uso da Parona um tanto conveniente, por outro lado, pelo envolvimento da Hayase no arco como um todo, acabei pensando no desenrolar que vimos como algo natural, justificável. A Hayase nutria rancor pela Parona, se preparou para lidar com o Fushi e inevitavelmente se mostrou uma pedra dura no caminho tortuoso do herói.

A Hayase pode acabar o anime sendo a grande vilã, além dos Nokkers, e diferente destes, ela teve todo um desenvolvimento até chegar nesse ponto, tornado compreensível, até esperado, tudo que aconteceu. Os Nokkers sim (que nem são personagens, mas um “conceito”), esses têm um papel muito conveniente (servem apenas para o estímulo) na trama, enquanto os secundários não, eles são o grande “charme” da obra.

 

 

O passado da Tonari me surpreendeu positivamente, pois foi duro e dramático como eu esperava, mas teve uma saída peculiar em seu momento chave, quando a garota acha o livro que o pai deixou para ela escrever e segue sem olhar para trás (para o corpo do pai que a esqueceu após ganhar), como se tentando preservar a memória positiva que tinha desse pai que ela esperava que tivesse morrido, mas não morreu na arena.

Além disso, o quão angustiante foi ver essa cena, e melhor, as circunstâncias que a levaram a parar na ilha e ficar órfã de pai e mãe tão cedo? E não foi por acaso que trouxeram a questão da idade na religião dela. Tonari teve que se tornar adulta muito cedo, na marra, e teve que sobreviver sem o apoio de ninguém além de outras crianças tão vulneráveis quanto ela. Foi assim que ela reencontrou uma família.

Inclusive, é por esse família que ela luta, não só pelo sonho dela de surpreender o pai, não o pai que (aparentemente) cedeu aos desejos mundanos e foi apunhalado (não literalmente, ele foi envenenado, afinal), mas o pai que ela guardava em seu coração. Ela se apoiar nesse sonho meio bobo (mas que de bobo não tem nada) foi a forma que ela achou para lidar com a devastação pela qual passou a sua vida.

Sendo assim, como julgar a Tonari por tudo que ela fez? Ela se culpa, mas eu não a culpo. Aliás, uma criança nunca deve ser culpada de nada. Crianças são vítimas, das circunstâncias, da violência dos adultos, do azar, o que for. Conhecer essas crianças e ver seus sonhos não se realizarem (eles não devem se realizar, convenhamos) vai ser outro ponto de virada para o Fushi, e mais um motivo para chorar para quem se sensibilizar…

 

 

Não devo passar impune se acontecer algo a velinha Pioran, imagina as crianças, vítimas de uma vida dura sem terem cometido crime algum. O mesmo não podemos falar da Hayase, mas aí fica a pergunta também, quando o ser humano deixa de ser criança e passa a ser um adulto? Não sei a resposta, mas imagino que tenha a ver com a perda do encanto com os sonhos. Por quê? Porque só crianças sonham com o futuro.

Adultos são criaturas desiludidas, amarguradas, mesquinhas. Não todas, obviamente, mas a maioria delas. Aquelas que torcem pela violência e banalizam a perda da vida, aquelas que a premeditam em prol de seus interesses egoístas. Hayase já não conservava nenhuma inocência da infância quando conheceu o Fushi, a Parona e a March, mas dá para dizer que ela se sofisticou em sua cretinice com o passar do tempo.

Enfim, a Hayase se revela, conta a verdade dura para o Fushi e, apesar de clichê, não tenho o que reclamar da atitude dele. É compreensível agir assim depois da raiva que ele sentiu, é compreensível que perca de vista as convicções que cultivou por tanto tempo. O mais interessante é o quanto o Fushi valoriza a vida mesmo sendo imortal, e que é justamente esse apreço que o faz querer tirar uma, pela perda da vida da Parona.

É privilegiar a vida de uma conhecida dele, eu sei, mas como não fazer isso? São as pessoas que gostamos, e até as que desgostamos, que mais atraem nosso interesse, seja devoção ou aversão, que nos fazem perder a cabeça e então de vista algo que no fim é mais importante. Mais importante era o Fushi vencer e libertar-se junto das crianças, mas a sua humanidade, que é sua força, também se provou sua fraqueza.

E foi justamente explorando ela que a Hayase se sobressaiu, derrotando um ser imortal e assumindo o posto de líder da ilha. Ela agiu de maneira premeditada e executou seu plano com requintes de crueldade, de uma forma que me faz ver seu rancor contra a Parona não só como um desejo egoísta dela, mas uma etapa em seu objetivo maior, que, ao menos para si, ela vende como uma preocupação com os rumos de seu país.

Por fim, não sei o quanto da Hayase é x ou y e, honestamente, acho que isso pouco importa. Relevante é frisar a importância da derrota do Fushi e do apoio que ele vai receber (segundo a prévia) das crianças a fim não só de impactar o personagem sobre os desejos cruzados de ambos, como nos convencer ainda mais de que devemos sentir por essas crianças cujos futuros nós sabemos que não irão se concretizar.

Como a Parona, que quando percebeu agir como uma “adulta” igual qualquer outra procurou corrigir seu erro, tentando conservar a inocência de sua infância, a qual foi definitivamente roubada de maneira extremamente violenta, quase como se para nos lembrar de que a vida real é assim, cheia de pequenas e grandes violência que vão nos moldando no adulto que nos tornamos, reste algo de criança nele ou não.

Até a próxima!

    • Tipo isso Marcelo, algo que existe por conveniência de roteiro, não depende de uma gama mais complexa de eventos. Os Nokkers me parecem algo assim, um elemento jogado na trama só para forçar o Fushi a não se acomodar, enquanto a Parona ter morrido não, pois isso não só contribuiu para o desenvolvimento do protagonista, como também demonstrou coerência com a história das personagens, afinal, a Hayase tinha uma rixa com a Parona, então ela ter morrido em off não me pareceu forçado só para impactar o Fushi.

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