takt op.Destiny é um anime em parceria dos estúdios MAPPA e Madhouse que serve como prequel para um jogo mobile da Bandai Namco a ser lançado em 2022. Na história acompanhamos Takt, Destino e Anna; três heróis que partem em uma aventura ditada pela música.

O anime chegou com ares de sensação em sua temporada devido a bela animação, principalmente nas cenas de ação, e a estrutura que lembra um pouco Fate, com o Conductor fazendo papel de Mestre e a Musicart de Serva. E nesse caso só tem “a” Musicart mesmo. Por quê? Não sei.

Mas a dedução óbvia é de que waifus vendem mais que husbandos, além de você poder shippar as duplas mais fácil assim. Em todo caso, o importante é que o anime tem seus seres “ferramenta de roteiro”, digo, as criaturas que movem a trama e justificam sua existência, os D2s.

Além disso, a história gira em torno dos protagonistas e do que a música, além das relações interpessoais que mantêm entre si, significa para eles. É uma carta de amor a música? Eu considero que sim. Tem suas passagens desafinadas e pouco inspiradas? Falaremos delas também.

Antes de mais nada, não acho que os D2s serem óbvias ferramentas de roteiro seja exatamente um problema, o que pega é a falta de explicação de detalhes acerca da mecânica desse mundo (futurista) que mudou drasticamente após a queda do meteoro. Qualquer semelhança com a…

Esse vazio de justificativas vem desde o começo, afinal, o anime termina e o mistério que cerca a existência da heroína Destino não é respondido, assim como vários outros, como aqueles que envolvem a situação de codependência nociva dos protagonistas ou a fusão das “vilãs” no final.

É o tipo de coisa que talvez seja melhor explorada no jogo ou em outras mídias (como mangás ou guias), o problema é que era informação que se não comprometeu o anime com sua ausência, dificultou compreendê-lo de maneira melhor a fim de sustentá-lo mais apropriadamente.

Ainda assim, é claro que um anime não pode se basear apenas no esqueleto de sua história (o que é possível ou não acontecer e sob quais parâmetros), então se faltaram informações que amarrassem a trama, no que compete ao desenvolvimento dos heróis a coisa fluiu bem melhor.

A princípio Takt parecia ser apenas um jovem irritante aficionado por música e se com o passar do tempo essa impressão se manteve, novas nuances foram adicionadas ao personagem de acordo com o prosseguimento da jornada e o crescimento de sua relação com a heroína, Destino.

Essa, inclusive, tem um desenvolvimento de personagem ainda mais bacana se pensarmos que sua personalidade de início nem era exatamente irritante, apenas plana demais, metódica. Destino assume o lugar da amiga de infância de Takt, Cosette, e tem um desenvolvimento todo seu.

Ela começa demonstrando predileção por doces, depois irritar o Takt e então passa a entender melhor seu entorno, a paixão do herói pela música e seu papel enquanto Musicart, alguém que protege o mundo dos D2s, os “negacionistas” da música por assim dizer.

A transição dessa Destino mais robótica (como se tivesse sido criada apenas para selar o contrato entre Conductor e Musicart) e a personagem capaz de proteger seu parceiro a ferro e fogo (mesmo que isso significasse se desviar de seu objetivo original) foi uma grande sacada do anime.

No começo achei tudo um pouco abrupto, mas com o tempo; e levando em consideração a melhora razoavelmente gradativa na dinâmica de luta dos heróis, assim como na interação deles com outras pessoas; consegui aquietar meu coração e aceitar o desenvolvimento ali mostrado.

takt op.Destiny não foi em roteiro o primor técnico de suas cenas de ação cheias de animação fluída, carregadas por uma trilha sonora precisa, ainda que esta tenha se saído melhor nos momentos mais calmos; porém, naquilo que mais importava, nos heróis, me agradou bastante.

Infelizmente, nem tudo são melodias afáveis e a dinâmica dos vilões (em alguns aspectos talvez apenas antagonistas) saiu um pouco na contramão disso ao sacar mão razoavelmente rápido de uma figura com uma oposição bem mais palpável do que era a do antagonista principal.

Nisso falharam, pois ainda que fizesse sentido que os D2s não acabassem (se acabassem qual seria a trama do jogo?), os ideais do vilão foram expostos em toda sua complexidade apenas aos 45 do segundo do segundo tempo e de uma forma que não justificou tão bem assim as coisas.

Além disso, a ideia de se sacrificar pelo todo ficou jogada em um universo que não foi explorado em toda sua potencialidade, afinal, a trama se focou em personagens, apenas três deles, sem ir a fundo em toda a questão social que afligia o vilão para fazê-lo tentar aquilo que tentou.

Foi algo tão aberrante que os heróis mal tiveram trabalho para acabar com suas ambições, conseguindo até se separar no meio da luta que realmente definiu os rumos da situação, o que diminuiu o impacto desta, apesar de ter sido lindo ver a Destino deitando a Orpheus na porrada.

A impressão que tive foi de que deixaram para pensar no conflito só depois de todo o resto e forçaram a barra em algumas coisas para atar as pontas da história. O pior é que, se pensarmos bem, o verdadeiro conflito era a debilitação do Takt, e esta quase nada teve a ver com o tal vilão.

Aliás, antes de finalizar esta resenha não poderia deixar de comentar o que achei da Anna, a onee-san que cuida dos protagonistas, uma figura que nas lutas pouco ou nada pôde fazer, mas que agregou muito em outros aspectos, afinal, ela foi o equilíbrio do trio a viagem toda.

Além disso, o beijo que ocorre no penúltimo episódio pode ter parecido abrupto, e nem acho que a direção trabalhou minuciosamente para construir um caminho até esse ato, mas convenhamos, como aguentar o Takt desde a infância se não fosse para ter algum sentimento por ele?

Se pensarmos na urgência da situação, que os dois poderiam nunca mais se rever, o beijo ganha ainda mais significado. Apesar de que, por outro lado, também podemos interpretá-lo apenas como um detalhe a mais a fim de definir bases mais sólidas nas quais sustentar a trama do jogo.

Game este que certamente vai girar em torno da Anna, mas também do Takt. os dois carregando o legado tanto da Cosette (que foi muito amada mesmo tendo sido uma personagem de apenas um episódio), quanto da Destino (essa a heroína que deu cara e alma a trama).

No fim, acaba que a Destino se despedir do Takt e desaparecer, a fim de acabar a simbiose mortal que consumia aos dois (mas as vistas só a ele), me pareceu a melhor, talvez a única, solução possível para o impasse deles. A mais madura. A mais mágica. E a mais comercial também.

Se por um lado essa decisão narrativa teve total ligação com o planejamento do que seria a trama do jogo, por outro lado, isso não apaga o mínimo de coragem que qualquer direção artística de uma animação tem que ter a fim de encerrar sua trama com a morte de sua heroína.

Então sim, vejo méritos, ainda que com consciência da conveniência de alguns deles, no desfecho do anime, o que vi in loco (em sessões de comentários para ser mais exato) que não foi bem o caso, pois boa parte do público detestou esse afinal, mesmo os que curtiram o anime.

Repito, toda a parte que compete aos vilões ficou capenga, mas não reclamo uma nota do que foi aquele final poético e belíssimo da Destino se declarando para o Takt e se despedindo dele nas areias da praia após ouvir a melodia que ele compôs muito por influência dela também.

Conceitualmente, esse herói carrancudo, mas dono de algum brio, conseguiu me cativar na reta final pelo amor que ele sempre demonstrou a música e que não o levou a se bitolar para o que havia a sua volta. Pelo contrário, foi seu entorno o combustível para a sua grande paixão.

E de brinde tivemos o plot do Lenny, o parceiro da Titan (cuja seiyuu é a talentosíssima Itou Miku). Lenny foi pupilo do pai de Takt, um maestro respeitado por todo o mundo da música (e dos Conductors, que costumam ser músicos, por tabela), cuja partida foi marcada por uma tragédia.

A culpa que o personagem carregou por tanto tempo, sua relação de aprendizado e ensinamento, a música que ele tanto lutou para proteger, o encontro com o filho de seu grande companheiro, e já em uma idade na qual ele também pôde aprender algo com ele.

Todas essas coisas contribuíram demais para dar significado a participação desse personagem na trama, assim como para sua partida. Lenny foi de longe o melhor coadjuvante do anime, e com sua história de vida, assim como seu sacrifício, o peso da música voltou a trama com tudo.

Na verdade, ele sempre esteve lá, é que, diferente do medíocre e bagunçado Listeners, takt op.Destiny não se baseou em referências para contar sua história. A história sempre esteve ali e ela sempre foi sobre música, tanto que não precisava dizer isso para nós a cada minuto.

Por fim, o saldo final é positivo? Eu acho que sim. É como comentava com meus parceiros de blog quando decidíamos os melhores animes do ano de 2021, crescer da metade para o final é melhor que ser consistente (a mesma coisa) do começo ao fim. E takt op.Destiny cresceu.

Sim, infelizmente vários vacilos foram cometidos, o plot dos vilões foi fraco, o episódio final é meio corrido e ficaram devendo explicações sobre alguns mistérios. Eu sei, é uma penca de erros, mas repito, no que mais importava, no que se refere a música, o anime deu bem para o gasto.

Como última curiosidade, a frase presente no logo do anime é uma homenagem a Beethoven, homenagem esta que chegou a me convulsionar em lágrimas de maneira até inesperada. Talvez por uma fragilidade emocional momentânea minha? Talvez. Talvez por que é algo lindo? Talvez.

Se você gosta de música precisa ver takt op.Destiny, se ama música (principalmente a clássica, erudita) pare para ouvir as referências pontuais que são feitas na trama e tenho certeza de que no final você deve ficar mais com a sensação de que ganhou algo do que perdeu seu tempo.

A música vai salvar o mundo? Não sei, mas sei que será ela a anunciar seu salvamento.

Até a próxima!

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