[sc:review nota=5]

No já distante dia primeiro de novembro do ano passado eu escrevi o artigo chamado “As três mães” sobre o episódio 4 de Kiseijuu. Suas protagonistas eram a mãe de Shinichi, Tamura (então Tamiya) e sua mãe (ou melhor: mãe de sua hospedeira). O episódio atual apenas confirma a importância do tema maternidade conforme as três retornam, de um jeito ou de outro, para se despedir. Sim, foi uma despedida. Imagino que agora Kiseijuu tomará um rumo completamente diferente, o que me deixa mais uma vez apreensivo. Mas se foi capaz de entregar esse episódio não posso senão continuar acreditando no potencial de superar as minhas expectativas que Kiseijuu tem.

Qual o sentido da vida? Tamura esteve o tempo todo buscando essa resposta. Sem descuidar, claro, da sua própria segurança. Foi assim que, parece, ela teve importante papel na formação da aliança entre parasitas que venceu a eleição para prefeito. Se há uma resposta definitiva para essa pergunta, contudo, não foi a Tamura que a encontrou depois de tantos cérebros humanos se dedicarem a isso durante milênios, sem nunca conseguir senão respostas parciais, insuficientes, incompletas. Após a redenção e humanização da Tamura, quando ela salvou seu bebê, admitiu que poderia (e deu a entender que pretendia) viver sem matar seres humanos e pediu quase como quem implora para o Shinichi que ele parasse de maltratá-la, foi doloroso assistir a mais de dois minutos de fuzilamento da parasita mais humana que muitos humanos nessa história. Mas ela morreu com um sorriso no rosto pois encontrou uma resposta suficiente para si. E a entregou aos cuidados do Shinichi.

No episódio anterior, ao ter seu bebê sequestrado, Tamura pôde entender o desespero de sua própria mãe quando percebeu que sua verdadeira filha havia desaparecido, e carregou esse sentimento consigo até o final. Invadindo a casa do Shinichi para pesquisar sobre o garoto e sua mãe ela ficou por muito tempo olhando as fotos deles quando Shinichi ainda era criança. Acredito que ela estivesse mais do que pesquisando sobre o Shinichi: ela estava olhando fotos de um bebê com sua mãe porque esse sentimento havia despertado dentro de si mesma. Ela começava a contemplar a possibilidade de ter uma vida simples como aquela. Sem perseguir e ser perseguida, sem matar e ter que proteger a própria vida o tempo todo. Apenas ela e seu filho vivendo uma vida simples e feliz. Mas ela é uma parasita e seu bebê havia sido sequestrado por um humano, ela sabia que as chances eram grandes de que jamais tivesse esse luxo. Foi por isso que chamou o Shinichi. Quando entendeu o que era a maternidade ela fez as pazes com sua própria mãe, e se despediu. Quando ela usou o rosto da mãe do Shinichi para ganhar sua confiança ele pôde rever e se despedir de sua própria mãe agindo como uma mãe. E no fim, a própria Tamura se despede de seu filho, do Shinichi, da vida e sua busca pelo seu significado. Tamura morreu mais do que humana por ter tido um filho, que ela entregou são e salvo nas mãos do Shinichi, a única pessoa que ela conhece com potencial para se tornar mais do que humano.

Analisando friamente, é um pouco triste que isso tudo na verdade apenas faça parte do próprio desenvolvimento do Shinichi e consequentemente do avanço do roteiro do anime. O próximo arco muito provavelmente é um onde o Shinichi será desmascarado e terá que fazer… alguma coisa. O que exatamente depende do que o oficial Hirama pretende e de como o Shinichi irá reagir a isso. Mas para quem gosta, acho que virá por aí muito mais ação e um arco longo sobre a difícil derrota da gangue da prefeitura. Isso nao me interessa muito, então espero estar errado, mas pode ser bem feito também, então vamos ver o que acontece.

As ações e cenas após a morte da Tamura são bastante desrespeitosas com ela. Shinichi chorou sim, em parte por causa de sua própria mãe e isso é compreensível, mas logo ele estava feliz por estar chorando. A Tamura morreu aos pés dele, deixando órfão o bebê que ele traz nos braços, e ele está sorrindo. A Murano também não ajudou. O que diabos foi aquela aparição da Kana para ela afinal? E assim que ela chegou à cena, ao ver o Shinichi chorando com um bebê no colo com um cadáver estirado no chão a sua frente, o melhor que ela tinha para dizer era “Shinichi, você voltou”?? Mesmo sendo o caso, como ela conseguiu ter certeza assim imediatamente? E mesmo tendo essa certeza, como ela pôde ignorar a crueldade da cena que estava vendo? No final a Tamura era muito mais humana do que os dois. O Shinichi até mesmo entregou o bebê da Tamura, que ele prometeu cuidar, para uma funcionária pública qualquer. Tudo bem, duvido que a polícia fosse deixar ele ficar com o bebê, mas da forma como a cena ocorreu mais parece que ele não estava nem aí. Pelo conjunto todo eu acho que o episódio não mereceria a pontuação máxima, mas a personagem Tamura e seu arco redentor final foram tão poderosos que não posso evitar dar cinco estrelas. Não fosse agora, não teria outra oportunidade para me despedir direito dela. Tamura, já sinto sua falta.

  1. Estou passada com isso. Ainda não me recuperei. Não consigo ver Kiseijuu sem a Tamura, sem o maior elo que existia entre parasitas e humanos (deixei de considerar o Shinichi muitos episódios atrás). Vamos ver o que se desenrola agora.

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