Ai Ninomiya, enfim, conhece o amor. Ou melhor, na intensidade dos arroubos juvenis, apaixona-se em uma noite por uma personagem que encontra (vive) em um sonho, declara-se, ajuda-o a se libertar e é obrigada a superar o sentimento, por se tratar de um amor impossível (o sonho tem ressonância na vida real, e a realidade assume facetas que trazem frustrações e obstáculos).

O episódio 9 de Amanchu! Advance encerra o arco Peter, com um final previsível (talvez antecipado seja mais adequado). Não que a obviedade chegue a atrapalhar o desenvolvimento do plot – que mistura calmaria (afinal, é um slice of life típico, apesar da presença da fantasia) e melancolia –, pois a história de Peter, em si, não é desinteressante. O problema é que não acrescenta nada à Amanchu!, e é um repentino e estranho giro do realismo à incorporação da fantasia. Como já mencionado anteriormente, é ótimo ver Ane-chan e Mato-sensei com mais espaço na série, porém poderia ser algo relacionado à vida ordinária, que proporcionasse um estreitamento do vínculo entre elas e, de algum modo, contribuísse para fortalecer ainda mais a amizade de Teko e Pikari, que neste episódio são novamente coadjuvantes.

Ai voa para reencontrar Peter. Um sonho de amor que irá encarar a dura realidade dos afetos.

O episódio começa com Ane-chan desejando retornar à Terra do Nunca. Como voltar exatamente ao ponto em que o sonho terminou é uma arte que Teko, a sonhadora profissional, ensina-a. Juntas, e com Pikari (e os gatos) como companhia, elas sonham com o mundo que foi criado pelo bebê abandonado, Peter. Na verdade, Ai não se conforma com o modo como Peter tratou a confissão da jovem Mato Katori, com a opção dele de se fechar em sua solidão para que Mato não volte ao mundo que está fadado a ser inundado. E mesmo com a Katori-sensei, que aceitou e esqueceu o que viveu na Terra do Nunca. São questões que a impelem a retornar e desenhar um novo final, convencendo Peter a acordar e fazer de tudo para ser encontrado por alguém (quem sabe pela própria mãe) no templo em que foi deixado à própria sorte.

Ane-chan pronta para se confessar e incentivar Peter a acordar.

Uma vez no templo, diante de Peter, Ai fala sobre sentimentos, confessa-se apaixonada, e deixando claro que compreende que o garoto se despediu de Mato por amá-la. Mas, diferentemente dela, Ai não aceita que Peter permaneça passivo perante o fim da Terra do Nunca. Ela entende que as águas que provocam a enchente no sonho são lágrimas do bebê que está sofrendo, solitário. Ane-chan quer que Peter acorde e viva. O sonho do bebê, apesar de todos os encontros e experiências, fechou-o em uma tristeza que é alimentada pela sombra do abandono. Ai instiga Peter a despertar, mas ele ainda resiste temendo o esquecimento. A convicção da promessa de Ane-chan em não deixar que essa memória desapareça é o último ato da quebra da resistência do garoto que acreditou que viver em um sonho o confortaria do desamparo.

Confissão de amor e promessa de não esquecer o mundo de sonhos.

De volta à escola, Ai consegue preservar suas memórias a respeito de Peter e ao encontrar Mato-sensei conta sobre o despertar do menino sonhador. A professora tem uma vaga lembrança dos sonhos com Peter, e a falta de certeza transformou-os em ilusão. Mas, Mato acaba por recordar e ficar feliz por, enfim, Peter acorda. Com o aparecimento de Cait Sith, o gato do garoto, a revelação de quem é Peter na vida real ocorre. Ao conduzi-las ao templo, Cait Sith chega até Tawano-sensei, o bebê que criou um mundo para se esquecer do abandono e da solidão. Porém, seu desalento durou pouco tempo. Do retorno da mãe para buscá-lo, da sensação de que a Terra do Nunca não passou de um sonho (um sonho apenas dele), a criança teve uma vida, cresceu e tornou-se professor, e ao encontrar Mato-sensei na escola e ver a calcinha azul de listras de Ai (um fator inusitado para mobilizar a memória), primeiro como Peter e depois como Tawano, ele foi capaz de associar as coisas e se recordar de que o sonho foi real (isto é, foi compartilhado com elas e outras pessoas).

Ai ao reencontrar Peter, como Tawano-sensei, percebe a impossibilidade de seu sentimento ser concretizado. Ela serve de cupido, sacrificando-se por Mato-sensei. Afinal, a ligação entre Peter e Mato, além da diferença de idade e do papel social de cada um, é uma barreira para que o seu amor se realize. Ai sofre e recebe o apoio de sue irmão Makoto, que não faz pergunta, apenas a consola.

Katori-sensei e Tawano-sensei descobrindo o sonho e o passado compartilhados.

Os episódios 7, 8 e 9 inserem Amanchu! de vez no sobrenatural, guardando uma relação com Aria, mangá de Amano, mais fantasioso que Amanchu!. O arco Peter deixa um sabor agridoce, por parecer deslocado, tanto do realismo que tem na personalidade de Teko e Pikari sua força quanto dos sonhos lúcidos de Teko, talvez o máximo de um passeio pelo mundo do sonho e do imaginário. Não que adicionar um pouco de magia a algo que se sustenta ao observar e desenvolver o cotidiano, as coisas práticas e as dores emocionais, invalida o espetáculo ou torna-se um ruído ao que foi apresentado, mas em Amanchu! – ainda que siga seu material de referência, o mangá de Kozue Amano –, o fantástico interrompe o processo de reconquista de Teko do seu equilíbrio e confiança, mesmo que, ora ou outra, precise encarar o abismo que espreita, que é a sua baixa autoestima e a sua ansiedade social.

Momento entre irmãos: Makoto consola Ane-chan. A dor do primeiro amor, o passo seguinte é seguir em frente.

Quanto ao episódio, nem tudo fica claro. Como tudo passa em uma noite, primeiro Mato-sensei resgata Ai de Peter, chamando-o posteriormente de fantasma nojento. Depois, sabemos que sua relação com ele é de intimidade e que está apaixonada. Mas no recente episódio, Katori praticamente já esqueceu o que viveu. No entanto, tudo transcorre em uma noite e manhã do dia seguinte, durante os preparativos para o Festival Cultural. E Ane-chan apaixonar-se por um garoto que conhece em seu sonho em uma noite, ainda que haja mistério e sedução, soa forçado, já que ela sempre se mostrou “pé no chão”. Mesmo que faça parte da adolescência esses rompantes alucinados, parece cedo para um sentimento tão forte. Ela irá superar o seu primeiro amor. É fato. E o faz já evitando conflito com Mato-sensei. Um belo gesto e condizente com quem é, e também com a percepção de que entre Tawano e ela a relação é de professor e aluno.

Um dos melhores momentos do episódio é quando Makoto conforta a irmã. O entendimento da situação é dado por gestos, algo divertido, que revela que tudo passa. Normalmente, Makoto é o saco de pancadas de Ane-chan, e é uma reviravolta vê-lo na condição de quem pode mostrar afeto e discernimento.

Agora há três episódios para Teko chegar à condição de parceira de mergulho de Pikari. Três episódios foram colocados em seu caminho. Resta esperar que Amanchu! Advance colabore com ela.

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