Esse episódio me pegou de guarda baixa depois de tantos episódios no máximo bons ou medianos. Enquanto a identidade de Haise Sasaki é uma forma de escapismo para Ken Kaneki, Shu Tsukiyama tem que acordar para a realidade e assumir a responsabilidade como o herdeiro da sua tradicional família. Quem diria que ghouls teriam sangue azul, hein? Quem diria que mais uma vez os atos dos humanos é que seriam questionáveis enquanto vimos os ghouls sob uma nova ótica? Quais são as verdadeiras intenções da Eto? Ajudar o Kanae é que não é! É hora de Tokyo Ghoul:re no Anime21!

A comprovação de que esse anime é uma adaptação direta do mangá, não do √A.

A cena inicial do Kanae com a Eto de cara já me chocou um pouco porque foi muito bem produzida e tocou no assunto que comentei brevemente episódio passado. Quais os reais sentimentos do Kanae para com seu mestre? Ele o ama mais do que é leal a ele? O que ele seria capaz de fazer para tê-lo só para si, para afastar de vez a ameaça que ele vê no Kaneki/Haise? Se a Eto é o fruto proibido, o que o Kanae recebeu ao mordê-lo não foi conhecimento, mas força para impor aquilo que ele mais deseja.

Belíssima cena que expôs bem toda a tensão emocional pela qual o Kanae está passando.

Agora, o jovem garoto deixará sua lealdade de lado para dar vasão a inveja que sente pelo Kaneki, lutando para tirar a vida dele e ser o único para o qual o seu mestre irá olhar? A cena final indica que sim, que ele é a Eva e a Eto a serpente, que para ter o amor do Shu ele precisará pegar esse poder emprestado já que o seu amor é egoísta – incapaz de respeitar os desejos da pessoa amada. Mas ele está errado por agir assim? Ao ser fraco e se deixar ser usado por alguém que com certeza tem algo em mente? Não diria que sim, nem diria que não, só que a construção do personagem deu a base para que essa cena acontecesse e ele tomasse essa atitude – o que torna a trama mais interessante.

Não posso esquecer de elogiar a beleza da coloração catatônica da kagune da Eto – um verdadeiro carnaval de horrores – e a ótima direção que deu a essa cena o clima e o impacto que precisava ter.

Digo e repito até cansar, estou adorando o visual das kagunes no anime!

O diretor exclusivo desse episódio deve ser muito bom para ter acertado a mão ao longo de mais de 20 minutos, pois o que vem depois da abertura é outra ótima cena, só que agora do Shirazu parando para lembrar do passado – em um flashback que foi o mínimo necessário para compreendermos a situação com sua irmã – e refletir sobre o que ele deve fazer e porque deve fazer. Não por acaso, o personagem que senta ao lado dele e o aconselha passou por algo semelhante, sendo ele o mesmo garoto que caçava ghouls com um taco de baseball e acabou matando um no final do spin-off Jack.

Como o Fura bem disse, se trata de uma vida sendo tirada quer os ghouls sejam monstros ou não, o normal é sentir o peso dessa vida nas mãos depois de ceifá-la. O que cabe ao Shirazu é refletir sobre o assunto e decidir se aceitará essa responsabilidade, se vale a pena ceifar vidas para cuidar da irmã.

Última vez com o penteado, mas não a última com essa expressão decidida no rosto!

Ao que parece ele tentará fazer isso, mas se o corte de cabelo vai ser apenas uma mudança de estilo, e não de atitude, só saberemos com o desenrolar desse arco. Em seguida, a operação de infiltração em nada contribuiu para o já esperado extermínio do clã Rosé, mas proporcionou um fanservice que foi muito além disso, pois incitou novos questionamentos do Haise sobre a sua misteriosa identidade.

Quem é Ken Kaneki? Por que os ghouls o temem? Por que ele reagiu inconscientemente ao ver o nome do Amon? Por que ele quer tanto proteger o que tem agora ao mesmo tempo em que quer saber mais sobre o ghoul que um dia foi? É contraditório, como já comentei anteriormente, mas é comum ficar em cima do muro, dividido entre o medo e a curiosidade, em uma situação dessas. A sorte do Haise é que ele tem alguém como a Akira, que como uma mãe tenta protegê-lo omitindo uma verdade cada vez mais óbvia enquanto tenta apaziguar seu coração com outra verdade: ele é quem ele é. Caso não entenda isso, conciliar as memórias antigas com seu eu atual será impossível.

Tem horas que só o que ajuda é um abraço de mãe! ❤

A forma como a história se delineia aponta que, após o forte trauma que o Kaneki sofreu na luta dele com o Arima, a sua mente desenvolveu – ainda que inconscientemente – uma nova personalidade para fugir da dor e do sofrimento pelos quais a anterior passou. Tal escapismo deu origem ao ser que conhecemos por Haise, mas mesmo com uma diferença enorme entre uma personalidade e outra, o desejo em comum de ambas de proteger o que é importante para elas – para uma a Anteiku, para a outra os Quinx – deu vasão a personalidade do Kaneki, largada em algum canto da mente do ghoul de tapa-olho, apenas esperando a oportunidade aparecer para sair e continuar com o seu propósito, proteger o que e quem ele ama. É ao perceber como era grande a responsabilidade que seu adorado Kaneki tinha naquela época que o Shu foi capaz de se libertar das algemas que ele mesmo criou por obsessão ao ingrediente perfeito, mudando seu foco e assumindo a responsabilidade sobre a família.

As costas de um homem são medidas pelo tamanho de suas responsabilidades.

Aliás, o quão curioso é ver um clã de ghouls ser não só rico, mas também descender de linhagem nobre, tendo um forte sentimento de dever para com sua história e representatividade, mas sem esquecer de fazer valer a lealdade de seus subordinados. Porque o que vimos nesse episódio não foram ghouls coagidos a colaborar pelo medo, mas ghouls que respeitavam o Mirumo como alguém digno de se seguir e proteger, como alguém que os tratou de forma decente e os deu trabalho digno, um lugar na sociedade. É nessas horas que eu me pergunto, exterminar todos os ghouls de um local sem buscar distinguir a índole e os antecedentes de cada um é a resposta certa? Isso respeita a vida?

Agora ele deve se esforçar para estar a altura de tudo o que o seu nome representa.

Torturar e matar um ghoul a sangue frio é diferente de matar um humano para sobreviver? É, é bem pior que isso. Não, me farei de inocente, pois sei que a maioria dos ghouls representados na história têm hábitos violentos e não matam apenas para a sobrevivência, mas isso justifica agir como ou pior que eles? O mundo de Tokyo Ghoul é um mundo distorcido que distorce ghouls e humanos com ele!

Querem apostar como ele vai ter uma morte digna da sua crueldade?!

Fico por aqui só esperando pelo baque que o Ui deve sofrer, e a prévia já entregou que a fuga do Shu não vai sair como o planejado, né? Estão ansiosos para ver o Kanae enfrentando o Haise? Eu estou, assim como estou por um envolvimento ainda maior da Eto. Que o próximo também seja excelente!

É com esse olhar afiado que eu espero pelos dois últimos episódios.

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