Monster Musume – ep 7 – Porcos de Duke Nukem e a Laracna rejeitada
[sc:review nota=3]
Eu sou velho, eu não jogo nada hoje em dia mas quando eu jogava, eu jogava Duke Nukem. Mas Duke Nukem nem era novo mais na época, já era um old school famoso com adaptações para outras plataformas e uma nova versão para PC em desenvolvimento que nunca viria mas ficaria anos sendo prometida. Não sei se hoje um jogo tão politicamente incorreto faria o mesmo sucesso (se bem que GTA está aí né … e eu jogava no tempo de sua primeira versão; aquilo é que era GTA!). Eu nem precisava falar tudo isso, na verdade, já que meu objetivo era só comparar os orcs de Monster Musume aos pig cops de Duke Nukem. Os de Duke Nukem parecem bem mais legais, mas essa é provavelmente minha única referência a unir porcos com armas e obscenidade (a diferença é que em Duke Nukem o obsceno era você, não os porcos … bons tempos). E assim como os pig cops em Duke Nukem existiam apenas para ser humilhados e trucidados pelo personagem título, os orcs de Monster Musume só apareceram para ser humilhados e derrotados pelo esquadrão especial da Smith.
Na segunda metade do anime aquela aranha do episódio anterior reaparece. E sequestra o protagonista. E pena que não era para comer. Enfim, ela teve uma triste história de sofrer preconceito e ser rejeitada pela família que a abrigou, por isso fugiu com aquele pseudo-cinegrafista que alimenta uma rede (ilegal, suponho) de pornografia bestial. Os orcs pelo menos foram os primeiros monstros do sexo masculino a aparecer no anime, mas se era para sofrerem um tratamento tão radicalmente diferente talvez fosse melhor ter continuado apenas com garotas.
Acho que já está mais ou menos óbvio a que eu me refiro, mas vou desenvolver melhor: todas as monstras que apareceram até agora, não importa o quão loucas, quantos crimes possam ter cometido ou quantas vezes possam ter ameaçado às vidas de não importa quantas pessoas, são tratadas como vítimas de um mundo que não as entende direito. A primeira e única aparição de monstros machos foi para mostrá-los como vilões impiedosos que não merecem o ar que respiram, violentos e pervertidos sexuais. As garotas, mesmo quando horríveis, são tratadas como símbolos sexuais – e nada me fez revirar mais os olhos a esse respeito do que o protagonista de olhos de rascunho dizer nesse episódio que estava excitado com as pernas artrópodes da garota aranha. Não estou dizendo que é impossível ter um fetiche para lá de bizarro como esse, apenas que é muito conveniente a ponto de querer dizer algo sobre a filosofia subjacente do anime que isso aconteça aqui. Os monstros homens são horríveis e só isso. Todas as monstras, independente de quão esquisitas sejam, mereceram pelo menos um rosto humano, coisa que os orcs homens não mereceram. Quer pior que a ogra, cuja única característica monstruosa é um chifre na testa, que nem é exatamente feio, apenas estranho? E os orcs têm cara de porco.
Eu pego no pé mesmo e sou chato, porque monstros não existem, porque isso é ficção. Essa é a construção do autor e, querendo ou não, ele passa uma mensagem com ela. Se não existem monstros quem assiste a esse anime irá comparar esses personagens monstruosos humanizados com seres humanos reais. Em uma história sobre a inserção de monstros na sociedade, as monstras estão se virando muito bem, apesar dos desastres que causam episódio atrás de episódio. Elas são tratadas como humanas. Os orcs não querem o nosso sangue, isso não os humanizaria. Ao invés disso, eles são literalmente otakus pervertidos gordos do pior tipo. Retire a monstruosidade da equação e só o que sobra é um harém normal, com garotas esquisitas e abusivas (mas que aceitam dividir seu amado até certo ponto, caracterizando assim o harém), e onde todos os homens exceto o protagonista são porcos pervertidos (o cineasta do episódio anterior não é muito diferente dos orcs, pense a respeito). E isso talvez explique porque as garotas aceitem sua indecisão e continuem ao redor dele: ele é o único homem que presta no mundo. Isso faz parte do apelo de um harém, onde o leitor ou espectador se identifica com o protagonista, mas é uma coisa triste pra caramba se você pensar a respeito. Comparado ao resto do mundo, ele nem precisava ser bom de verdade (e na maior parte do tempo ele não é mesmo, parecendo só uma casca vazia), só precisa não ser um idiota. Ele é, preste atenção que você já viu e ouviu isso em toda parte, ele é um “cara legal”. As garotas, por sua vez, nada podem fazer senão rodeá-lo como moscas ao redor de frutas podres. Porque não existe nessas narrativas espaço para uma garota que não precise de um homem para ser feliz, que não precise de um homem para ser protegida, que não precise de um homem para viver uma vida completa.
Crítica encerrada, confesso que achei o esquadrão da Smith divertido. Simpatizei mais ou menos com elas, mas provavelmente isso tem muito a ver com o fato delas serem garotas fortes e pelo menos por enquanto e pelo menos na medida do possível independentes, ao contrário de todo o harém do protagonista de olhos de rascunho, incluindo a sua mais recente aquisição, a aranha monstruosa que veio diretamente de Senhor dos Anéis para devorar o seu coração (s2).