Roujin Z – A Decadência Humana Frente a Dignidade Roubada
Roujin Z, de certo modo, pode ser considerado o primo mais humilde, e alguns anos mais novo, do clássico anime Akira, mas não se enganem, é um daqueles animes que brilham tanto quanto qualquer engomadinho de terno e gravata. Lançado em 1991, diversos produtores estiveram envolvidos com a execução do projeto, não vou me estender em nomear a todos, mas apenas o nome do estúdio, o qual é divertido demais, Another Push Pin Planning, ou appp. Adorei esse nome, sério mesmo.
Mesmo com importantes personalidades contribuindo para materializar o anime, ainda assim, ele não é lá um projeto com o mais rico orçamento, muito pelo contrário. Entretanto, tendo um roteiro escrito por Katsuhiro Otomo, e contando com a participação até mesmo de Satoshi Kon em diversas funções, o anime floresce esplendoroso e imponente.
Mas qual seria uma possível mensagem desse poderoso, e ao mesmo tempo frágil, anime? Venham conferir.
Aposto que seria mais adequado começar expondo alguns aspectos pertinentes ao roteiro dessa obra, mas antes gostaria de enveredar pelas curvas de seu impacto humano, o qual considero central, mesmo que este possa se camuflar por debaixo de algumas frenéticas e intensas cenas de ação que se desdobram no anime.
A carência de amor e de afeto, aquilo próprio do ser humano, que pode ser fornecido quase que exclusivamente pelos nossos semelhantes. Ou por outro lado, como bem ilustra o anime na figura de seu idoso principal, mesmo o contato com os resquícios desse afeto, lembranças, fotografias e odores, com aquilo que já se foi e com aquilo que está se esvaindo; os próprios laços se dissolvem através do tempo, seja pela indiferença ante à repetição que os esvazia de sentido, seja pela decomposição de nossa identidade conforme envelhecemos. Roujin Z trata sobretudo da fragilidade do ser humano frente ao inevitável, não apenas em relação a morte, mas primordialmente com ênfase no envelhecimento.
Quem já adoeceu e ficou incapacitado de cuidar de si mesmo, perdendo a autonomia e o controle de sua vida, sabe muito bem do que estou falando. Envelhecer pode ser compreendido como um processo irreversível dessa situação, é uma progressiva desintegração de si em um caminho sem volta. Idosos são castigados pelo efeito do tempo, e não é incomum se tornarem um peso para os mais jovens, aqueles que ainda conseguem carregam com vigor os desdobramentos do futuro. Mas carregar o futuro significa, de certo modo, abandonar o passado, abandonar àqueles que não podem mais acompanhar os nossos passos. Médicos, enfermeiras, pessoas que não estão sendo deixadas para trás, pessoas saudáveis e que dispõem de certa independência, muitas vezes não percebem a dor insuportável daqueles que não tem opção outra que a de rastejar pelo caminho.
Haruko, a enfermeira do senhor Takazawa, um homem que já passou dos 80 anos (talvez dos 90?) e precisa de cuidados constantes, entende muito bem isso. Ela entende intuitivamente a fragilidade e a carência do seu paciente, mesmo que ainda seja uma enfermeira residente, ou seja, em treinamento. Seus colegas de trabalho, também em treinamento, demonstram, em contraste, a natureza daqueles profissionais que tendem a ser absorvidos pela insensibilidade, e não devemos nos precipitar, esta pode muitas vezes ser necessária, ou mesmo consequência inevitável na profissão. É uma situação complexa, mas que não deixa de ser incrivelmente triste.
Takazawa-ojichan sente uma falta abissal de sua esposa já falecida. Ele não está mais plenamente lúcido e apresenta sinais claros de demência. O fantasma do luto, o amor e sua história de vida, assumem papel estrutural em seus devaneios.
Roujin Z inova ao materializar essa personificação do afeto junto a um lugar onde não deveria existir afeto algum. Os humanos retratados no filme, em maior ou menor grau tirando a enfermeira Haruko, estão em estado de dormência, insensíveis ao ponto de confiarem e projetarem mecanismos miraculosos para cuidar, isolar e automatizar as relações humanas, mecanismos que resolvam os problemas causados por aqueles que os atrasam, no caso, os idosos. A sacada genial do anime é justamente inverter aquilo que é por natureza robótico, naquilo que seus criadores “humanos” deixaram de ser, ou seja, nasce aqui por contraste um robô humano, demasiadamente humano.
Z-001, codinome Haru-obasan, é um avançado centro de tratamento automatizado e autossuficiente, construído para aplicar uma manutenção fria e monitorar o bem-estar dos idosos. No decorrer do anime podemos chamá-lo de androide, de ciborgue potencial, de simbionte cancerígeno, entre outras coisas, mas o que devemos manter em mente, é que é uma Inteligência Artificial, uma IA que “absorve” uma alma.
Não pretendo sair do âmbito fantástico da obra e quebrar a parede de sua coesão e engenhosidade, mas convido-os a prestarem muita atenção em algumas coisas que ela pode nos oferecer. Por exemplo, observem bem os nossos simpáticos e caricatos senhores de idade avançada em suas façanhas geriátricas, que assim como as chamas mais intensas, brilham únicos antes de esvaírem suas existências. E não se distraiam da mensagem que nossa querida Obasan nos oferece. Do cuidado e do amor obstinado, da metamorfose e humanização que ela propaga em direção ao seu querido senhor Takazawa.
E por último, também se atentem a mensagem política da obra, onde empresas de fachada penetram e usam do Ministério do Bem-Estar Público para angariar dados em vantagem e interesse próprio, abusando da vida, mesmo que da vida de idosos incapacitados, como recurso para saciar a sua ganância incontrolável de poder. Corporações de tecnologia militar testando no âmbito civil suas traiçoeiras inovações.
Bem, é isso. Fico por aqui. Espero que assistam, reassistam e se divirtam com essa despretensiosa e emocionante animação.
James Mays
Prezados, mais uma vez James HELLLOO Peoples!!!
Bem…Me lembro quando foi lançado Roujin Z estávamos ainda na Otomomania a grande expectativa de algo melhor que Akira…Só vi uma vez num longíquo 1994 num VHS pirata com legendas em espanhol…Bem…Ficamos um pouco digamos “decepcionados” (em relação a comparação besta ao Akira, otakus naquela epoca eram meio “bestinhas” também na época) e a discussão era “pq o Otomo não fez até hoje The Legend of Mother Sarah em anime?”…
Se sentindo um pouco Takazawasan James vos diz “até logo”…Mas o anime é super e trazer ele a baila é hiper ultra!
James Mays
Ué, mas A.P.P.P. não era Another Push Pin Planning….The old age question…
Youkai Makai
Está correto James, foi um equivoco pela empolgação do nome, e por um erro do MAL que reproduzi, ou mesmo criei por vacilo ^^ vou arrumar… e a vantagem é que a alternativa é tão engraçada quanto a outra, que estava errada rsrs
James Mays
Também adorei o nome…E que quando trabalhei em empresa japa isso “anaza pushopin praningu” (o famoso A3P também conhecido “aturipo) era uma piadinha que ainda corria pelos corredores delas até os anos 90….E o mais legal queria dizer “essa p* não vai dar certo…”
James Mays
Cara, tô tentando achar Roujin Z para o final do meu domingão valeu a dica!!! Brigudis!!!
Youkai Makai
rsrsrs sério… que da hora >< mas né, os japas sabem fazer trocadinho com o idioma como ninguém... muito foda essas histórias de pano de fundo ^^
Youkai Makai
Ache sim viu, procura pelo blog do Malkav que vc deve achar, ou mesmo pelo anime info… ou online mesmo rsrsrs por sub gringa e outros meios!!! vale rever … e eu que agradeço por me corrigir e pela leitura do post >< aproveite bem o fim de domingo!!!
James Mays
Prezado grato pela informação e eu não corrijo ninguém apenas me alembro de cousas dantanho pq tô mais próximo do Takazawasan do que aquele menininho enfesado que tinha acabado de sair dos cueiros da facul e entrado num zaibatsu (nem assim eles são mais chamados…). Um grande abraçoooo!!!
Youkai Makai
^^ nada não James!!! e tá de boas corrigir sim!!! que foi o caso… eu pesquisei e pesquisei errado rsrs ai coloquei a referência errada, e agora por vc ter me alertado, eu pude arrumar >< ... mas isso de tá velho e tals, to tb no mesmo caminho !!! só que to sem zaibatsu nenhum, então tá foda rsrsrs ...grande abraço James, até uma próxima!!!
James Mays
E ficamos assim…”Another Power Point Party” ou “Another Push Pin Planning” o A3P quer dizer o mesmo “essa p* ou m* não vai dar certo!” Ok Jovens….Abraçuuuuuuusss….
James Mays
…Olha o ultimo conselho deste Takazawa…Quando o seu chefe falar de “metas”, “gols” e quejandos lembre-se do conceito A3P…Resolver não resolve, mas que o seu chefe vai ficar com os cabelinhos da nuca em pé por causa daquele seu sorrisinho irônico…Isso ele vai!!! Mais uma vez abraços a moçada!!!
James Mays
Essa piadinha só quem fez AOTS sabe…E não AOTS não é “Attack of the Show!” mas aqui não é forum para discutir networking…Mas se perguntarem estamos aí…
James Mays
Tá prometo que é a ultima…Consegui arrumar Roujin Z para ver….E a semelhança com cenas de Paprika é flagrante…Mas ó tio James não dá spoilers…Tem de ver os dois…Fuiii….
Youkai Makai
Por sorte, ou azar, nem tenho chefe… não sei o que é AOTS rsrs tb … mas que bom que já achou o filme mano!!! e sim, o Satoshi manteve o estilo, e o aprimorou muito, nos outros trabalhos que desenvolveu… eu vi os dois rsrs
James Mays
Só para constar nos auto AOTS é o Advanced Overseas Technical Schoolarship dado pelo governo de sua Majestade Imperial e pelo Keidanren para uns escolhidos (eu fui um deles) para fazer cursos de tecenhologia, administração empresarial e publica. São três meses imergidos nesse mundo empresarial japones para de alguma forma se voltasse ao seu pais ajudasse a que empresas japonesas realizassem negocios em outros paises. No meu ano 1997 foi convidada uma carrada de brasileiro para lá. Ele ainda existe e ainda procura pessoas quem sabe vc não será meu colega AOTS.?
Youkai Makai
caramba, interessante James!!! pena que nem é da minha área de atuação!!! mas grato pela informação, e por nortear mais informações, vai que é do interesse de alguém que ler os comentários do post!!!
James Mays
SE quiser mais informações tem o site do AOTS Brasil e o Consulado Japônes na Paulista que tem uma equipe ótima para informações…Vai lá e tenta hombre!!!Quem sabe….