Tenkuu Shinpan (High-Rise Invasion) é um anime original Netflix baseado no mangá escrito por Tsuina Miura e ilustrado por Takahiro Oba concluído em 21 volumes. A adaptação tem 12 episódios e é produzida pelo estúdio Zero-G (Grand Blue, Tsugumomo).

Na história acompanhamos Yuri Honjou, uma colegial que acaba presa em um mundo para lá de estranho no qual de cima de prédios pessoas mascaradas atacam seres humanos a fim de levá-los ao desespero e ao suicídio. Pouco depois, Yuri descobre que seu irmão, Rika, se encontra no mesmo mundo e seu objetivo passa a ser encontrá-lo, além de achar uma forma de escapar. Para tanto, ela traça um plano de fuga no qual precisará de aliados, entre eles um sniper mascarado misterioso.

Você sabia que Tenkuu Shinpan é do mesmo autor de Ajin, ou melhor, o roteirista do mangá trabalhou em Ajin, mas largou o mangá ainda no comecinho e ele foi continuado pelo ilustrador. Sorte de Ajin, porque vendo esse anime da Netflix dá para ter uma ideia do quão ruim é o roteirista da fonte.

Tenkuu Shinpan é uma história de mistério e horror que ao menos em sua adaptação animada entrega é muita comédia, saídas fáceis e até inconsistentes para várias situações e personagens clichês aos montes.

Além disso, compactuo hoje de uma percepção de que uma historia deve ter os elementos que seu autor quiser, quaisquer que sejam, mas não consigo deixar de criticar o ecchi desse anime, pois ele não tem nada a ver com o resto.

O autor tem direito de botar o que quiser em sua história, eu tenho o direito de achar incoerente, e acho que é bem o que rola aqui.

Aliás, é o caso de qualquer produção cheia de calcinhas pouco ou nada eróticas com o intuito apenas de prender a atenção do telespectador sem criatividade.

Mas o problema é justamente esse, a história não segue para nenhum lugar em que erotismo faça sentido, no máximo um personagem se interessa por outro com uma conotação mais romântica.

Inclusive, a personagem que tem o perfil de uma mulher mais madura (depois a gente até descobre que ela é mãe), poderia se valer desse erotismo, mas nem faz tanto isso, ou melhor, não faz direito.

No máximo aparece a calcinha dela e dá para entender que seu chefinho (talvez o único vilão de fato dessa primeira temporada) gosta de se confortar em seus seios, mas no geral ela não se aproveita de seu charme para nada.

Pelo menos a música “dela” é divertida, pois no geral a trilha sonora é até boa, mas algumas faixas são tão repetidas que cansam.

Em todo caso, essas coisas surpreendem o público assíduo de animes? Penso que não. Assim como não surpreende a animação consistente em alguns momentos, mas no geral bem mediana.

Espero que você saiba que a história da Netflix injetar dinheiro na indústria dos animes como se fosse a grande salvadora da lavoura é uma falácia.

Ou melhor, eles pagam bem por animes, mas o dinheiro não chega em quem mais importa, os animadores. Acaba não fazendo diferença alguma para eles.

Se duvidar é pior porque os animes da Netflix costumam sair todos de uma vez para serem maratonados, algo que também não é bem aproveitado por Tenkuu Shinpan, que é cheio de cliffhangers que de prontidão são respondidos até porque na plataforma dá para pular o encerramento e muitos devem ter feito isso.

Pelo encerramento ser talvez a melhor coisa do anime (também porque é o sinal de que um episódio acaba) isso é outra coisa que lamento.

De toda forma, focando na história agora, já critiquei o ecchi banal e os cliffhangers inúteis (não tem uma semana de intervalo entre os episódios para gerar hype entre eles), mas nada disso é pior que o roteiro.

O roteirista faz questão de jogar regras e dá-las como invioláveis para na situação seguinte apresentar uma exceção baseada em coisas como “força de vontade” e “poder da amizade” ou algo assim.

Sério, se os mascarados são mesmo capazes de lutar contra o domínio do sistema por trás da máscara, então por que a maioria apenas segue as ordens?

Mas tudo bem, não vou focar nisso, é melhor criticar a ideia em si de apresentar mascarados para levar as pessoas dentro do jogo ao suicídio, mas torná-los apenas marionetes de alguns poucos jogadores com o passar do tempo.

Não que isso seja o fim do mundo, mas muito rápido a função deles meio que muda e o apelo de horror que havia no início com seus ataques alucinados, dá lugar a ferramentas de roteiro das mais clichês e forçadas.

Por exemplo, a ideia daquele próximo de deus (um jogador que colocou uma máscara que concede poderes) poder controlar apenas mascarados que estejam na mesma frequência com ele é uma tremenda de uma bullshit, um recurso narrativo descarado para dar o controle de um mascarado a alguém de acordo com a conveniência do roteiro.

Assim como alguém próximo de deus conseguir desativar funções de controle de um mascarado, mas não libertá-lo completamente da influência do sistema por trás do jogo mortal é no mínimo “estranho”.

Tudo isso ocorre para deixar sempre a possibilidade de uma reviravolta do nada, coisa que acontece vez ou outra nessa primeira temporada porque, olha só que bacana, o anime termina em aberto.

Vai ser renovado para uma segunda temporada? Não duvido nada, nem desejo que seja cancelado ou algo assim, mas também não nego que não gostei e dificilmente verei uma eventual sequência. É sério, mesmo com expectativas baixas achei o anime péssimo.

Agora é aquilo também, né, se você assistir apenas para se divertir sem ligar muito para as conveniências de roteiro, as lutas tecnicamente limitadas, o ecchi gratuito e inútil e os personagens pouco ou nada interessantes; talvez seja um anime bom para passar o tempo.

Aliás, quanto aos personagens, posso dizer que até gosto da heroína, a Yuri, apesar de achá-la também um puta artifício de roteiro que se apresenta conforme a necessidade (quando ela precisa ser uma espécie de Rambo ela é, quando é interessante que seja fofa e quebre o clima também, etc).

Sobre seu braço direito, a Nise Mayuko, confesso que até gostei da interação das duas no começo, mas com o tempo ela só parece uma garota apaixonada que se entrega de corpo e alma para a Yuri sem fazer jus a pessoa desconfiada e independente que parecia ao ser apresentada.

Não desgosto do climinha de shoujo ai que ela levanta entre as duas, mas acho que muitas vezes reduzi-la a isso é um trabalho de personagem muito pobre.

Na verdade, qual trabalho de personagem não é pobre nesse anime? Difícil dizer, mas vou um pouco na contramão do que fiz até agora (só tacar o pau, não que não seja merecido) e escrever que gostei também da relação do Rika, o irmão da heroína, com o sniper mascarado.

Acho até que a relação deles dá a sorte que a das garotas não dá, ela não ocorre no momento presente da história, no máximo com o tempo o sniper vai descobrindo que era amigo do garoto.

Sobre cada um deles gosto mais do sniper mascarado pelo visual e pela jornada, acho que o Rika não é um personagem ruim, mas ele acaba sendo capturado e passa boa parte do anime sem fazer muito.

O sniper mascarado sofre da ruindade ao seu redor, mas isoladamente ele talvez seja o personagem mais consistente da história. Só é uma pena que o personagem não possa ser avaliado isoladamente do contexto no qual está inserido. Digo, ele até pode, mas aí o artigo seria outro.

Enfim, o que pega também é que o anime termina indicando que o Rika sofreu lavagem cerebral como acontece com aqueles que se tornam mascarados.

Assim é de se imaginar que usarão o clichê do mocinho que vira vilão (já tem o sniper, o vilão que virou mocinho) e que isso criará dificuldades para reunir os irmãos e consequentemente permitir a fuga deles e de seus aliados.

Não acho que seja uma forma necessariamente ruim de dar prosseguimento a história, mas é constantemente isso na trama, surge algo para dar uma virada e às vezes fica na cara o quanto é forçado.

O caso do Rika virar um vilão nem é exatamente forçado, mas não parece meio pobre essa construção que atingirá irmã e irmão e os colocará em lados opostos? Na boa, será que estou levando a sério demais esse anime quando não deveria?

Porque Tenkuu Shinpan meio que se resume a isso, a uma trama que se preocupa mais em causar ou encaixar o desenrolar desejado, mas não faz isso de forma tão convincente na maioria das vezes.

Digo, não jogaria fora todos os momentos cômicos do anime e nem os personagens, mas só eu achei tão bobo certas construções que envolvem justamente isso; os personagens, os alívios cômicos e, é claro, as saídas pouco ou nada criativas para os problemas?

Admito que gostei do anime no início e me diverti um pouco com ele até mais ou menos a metade, mas a verdade é que muito rapidamente a história começa a degringolar e se perde dentro da mecânica conveniente que explora.

Tanto é que nem como pura e simples diversão ele consegue funcionar para mim depois de uma certa altura. É tanta forçada de barra que fica difícil curtir mesmo que eu já saiba que não posso esperar quase nada.

Por fim, Tenkuu Shinpan não limpa o chão em que Ajin pisa. Sei que essa comparação é desnecessária, mas é só para dar uma ideia do quanto o anime é ruim e dá para fazer uma história parecida (cheia de ação, horror e mistérios) melhor.

É claro, Ajin se leva a sério e é sério, não é perfeito, mas acaba se encaixando em outra esfera artística. Tenkuu Shinpan chafurda na ideia mais jocosa do que é ser um anime, uma desenho sem pé nem cabeça para agradar crianças e jovens sem senso crítico.

Isso significa que esse anime presta um desserviço a indústria e ao meio otaku? Não chegaria a tanto, produções como Tenkuu Shinpan vemos aos montes.

Vemos no sentido de sabemos que existem (apesar de eu particularmente ver esses trambolhos frequentemente) e ele ser original da Netflix não o torna melhor ou pior que outras tosqueiras similares.

Então, se for assisti-lo veja por sua conta e risco e sem grandes expectativas, pois a premissa pode até ser interessante, mas quando você conhece melhor fica pensando se valeu mesmo a pena ter conhecido.

Até a próxima!

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