Sayonara Watashi no Cramer – Ninguém joga achando que vai perder – Primeiras impressões
Sayonara Watashi no Cramer (Farewell, My Dear Cramer) é um anime do estúdio LIDENFILMS programado para 13 episódios a serem exibidos dentro da temporada de primavera de 2021. A animação adapta o mangá escrito e ilustrado por Naoshi Arakawa, autora do aclamado Shigatsu wa Kimi no Uso (Your Lie in April).
Um filme adaptando o mangá Sayonara Football, prequel de Cramer, estava programado para sair antes do anime, mas foi adiado e apesar de ser claro o background que ele daria sobre o passado de personagens de Cramer, dá para entender bem a trama que se desenrolará nessa fase colegial das personagens.
Na história acompanhamos várias jogadoras de futebol que se reúnem no time de uma escola sem prestígio no meio do futebol feminino e com um treinador que não liga para as atletas. A paixão e a dedicação delas será suficiente para dar vazão aos seus desejos de se destacar no colegial e viver o futebol em sua plenitude? É o que veremos a seguir.
O trecho inicial pode ter parecido muito dramático, mas como não ser dramático em um país no qual o futebol se desenvolveu de maneira tardia, e não só isso, há o machismo institucionalizado que faz com que um campeão mundial da modalidade (sim, o Japão ganhou o mundial contra os EUA em 2011) não tenha uma liga profissional de futebol?
Felizmente, essa realidade vai mudar e você pode ler mais sobre o assunto aqui. Eu não sei se o depoimento da jogadora da seleção que dá o pontapé inicial ao anime é baseado em fatos reais, inspirado por eles ou nem isso, mas de uma coisa eu tenho certeza, é muito simbólico esse mangá ser lançado em ano de Olimpíadas e profissionalização.
Sendo assim, agora vou falar da trama, ao fim do artigo traçarei um paralelo sobre uma declaração que penso ter muito a ver com o que vimos nesse anime. E sem perder a pegada questiono, por que é importante jogar futebol feminino? Aliás, antes de mais nada, por que o questionar isso é pertinente? Porque no colegial as coisas mudam no Japão.
Até o ginasial dá para se jogar em times mistos (First Touch, o filme prequel, abordará esse tipo de experiência, inclusive), a partir do colegial não e é por isso que o pai da Onda a diz para entrar no clube feminino do colégio, para que ela não menospreze outras garotas que jogam futebol como ela e não se decepcione em meio aos garotos.
Pois as diferenças físicas entre homens e mulheres se acentuam com a idade e isso precisa ser levado em consideração quando se avalia o que se pode fazer e com quem faz mais sentido jogar. É evidente que a Onda seria obrigada a fazer essa transição e Cramer não gasta tempo nisso, quem ganha espaço são outras personagens, Suou e Soshizaki.
Apesar de ter achado o corte para elas um pouco estranho (achei que o foco seria na Onda ao menos nessa estreia), posso dizer que gostei bastante da interação entre as duas e de como mesmo se valendo de clichês de shounen (apesar de ter protagonistas femininas o mangá é da demografia shounen) a dinâmica apresentada não foi ruim.
Faz sentido que a Soshizaki tenha simpatia por sua rival após tanto derrotá-la e que enxergue nela o talento desperdiçado que gostaria de ver sendo aproveitado ao seu lado. Além disso, a transição do ginasial para o colegial precisava ser feita, então por que não ir para outro colégio e tentar formar um time forte nele? E a Aoi Yuuki nada teve a ver com o fato de eu ter gostado dessa parte…
Okay, okay, a verdade é que escolheram a seiyuu perfeita para a Soshizaki; uma voz expressiva, em tom alto e com muita articulação; passando essa impressão de ser capaz de convencer qualquer um. Quanto a Suon, gosto bastante do estereótipo que ela carrega, do remador solitário que faz tudo sozinho até que consegue gente para acompanhar.
Haruna, a capitã do time, é como a Suon era no passado, a diferença é que agora ela vai ter novas companheiras tão motivadas e talentosas como ela, o que por si só não garante nada, mas é um começo, o melhor possível. É como a Soshizaki fala para a Suon a fim de convencê-la, “Ninguém joga achando que vai perder”, e futebol é sobre isso, né?
Para complementar, tem a Onda que se acha boa demais para jogar entre garotas, ou se achava já que a química que demonstrou ter com a Suon certamente deve facilitar seu entrosamento com o restante do grupo. E a última novata de destaque é a atacante fominha e metida, bem cara de atacante que quer marcar gols para brilhar.
Sim, esse é mais um estereótipo, mas tudo bem, o importante é que várias personagens foram apresentadas nessa estreia e deu para entender o que elas querem, o que no fim se resume a entrar em um time competitivo, ou fazer do time em que estão um, e aproveitar o futebol no colegial. Mas o que isso tem a ver com o futebol profissional? Tudo.
Como nos EUA, no Japão existe uma integração do esporte praticado a nível estudantil com o esporte praticado a nível profissional. Sendo assim, o que é relatado no pós-créditos, que uma ex-jogadora da seleção vai treinar um time colegial, não é absurdo. Daria atá para questionar ser um colégio pouco competitivo no cenário nacional, mas ela é ex-aluna, né.
Ela quis começar por baixo, mas enfim, mais importante que isso é o papel social do anime e como eu esperava que ele tivesse mais recursos a fim de contar melhor a sua história. A estreia teve animação que deixou a desejar em várias cenas, não fosse a esperteza da direção em focar a câmera nos movimentos de pés e nos passes teria sido pior.
Não posso alegar nada sem provas, mas não é bem estranho que o anime tenha tido animação meia-boca já em sua estreia? Não fica parecendo que só porque tem garotas, mas não tem ecchi ou moe a esmo (apesar de ter um pouco), não foi “polida” a coisa? Lembremos do quanto o Japão é machista e…
Sim, não fica difícil conectar as coisas. O fato é que, é inegável o quanto o futebol feminino sofre com o preconceito no mundo todo (até pouco tempo atrás as multicampeãs dos EUA recebiam menos e não viajavam de primeira classe como os homens) e como as atletas não veem perspectiva disso mudar a não ser por seus próprios esforços.
É essa a mensagem contida na declaração da Marta (a maior jogadora de futebol da história do Brasil) após a desclassificação na copa do mundo de 2019, que as atletas precisam lutar pelo futebol e que essa luta ainda envolverá muitas lágrimas, mas que sem elas um futuro melhor não é possível. E o que seria um futuro melhor para a modalidade?
Um futuro com menos disparidades, com mais investimento e sem preconceitos. Infelizmente, ainda estamos muito aquém do ideal, mas acho que estamos melhorando e que animes como esse (nunca vi um anime sobre futebol feminino antes) têm papel importante nessa jornada. Amo futebol e cobrirei Cramer semanalmente aqui no Anime21.
Até a próxima!
P.S.: Assista o vídeo acima até o final para pegar melhor o contexto das coisas que comentei.
Marcello
do caralho!!!