[sc:review nota=3]

Quem não sabe cozinhar nada, sabe pelo menos fritar um ovo e colocar no pão. E quem não sabe tocar, toca Brilha, Brilha, Estrelinha. Se nem fritar um ovo você conseguir, então é melhor jamais chegar perto do fogão. Da mesma forma, se nem Brilha, Brilha, Estrelinha você consegue tocar em um instrumento, então esse instrumento não é para você. Felizmente para Hazuki, a iniciante na banda do grupo da protagonista, parece que ela consegue pelo menos fritar um ovo na tuba.

E como esse episódio chegou a esse dilema culinário? Bom, a parte culinária fica por minha conta. Eu não sou um grande cozinheiro, mas me orgulho dos ovos que frito. E acima de tudo, estava com fome enquanto planejava esse artigo. Enfim, o professor informou aos alunos da banda que eles passarão por uma audição para decidir quais irão para o concurso que se avizinha. Até então, a coisa era resolvida na camaradagem e na boa e velha lei não escrita segundo a qual os mais velhos mandam, assim basicamente apenas alunos do terceiro ano (independente de quão bem tocam) é que participavam dos concursos. A Hazuki, por ser uma iniciante, no começo está relaxada pois não acha que tem mesmo qualquer chance, mas a Asuka a convence a se esforçar pois sempre existe o risco de nos anos seguintes entrarem novatos prodígio e ela nunca conseguir ir para competição nenhuma. O problema é que ela nunca tocou de verdade, só fez exercícios para aprender a tocar, então tentar tocar a peça que será usada na audição está totalmente fora de questão. Por isso passam a ela a partitura de Brilha, Brilha, Estrelinha. Até eu consigo tocar isso em qualquer instrumento que me ensinem como fazer cada nota, de verdade, dá uma olhada:

Você já tocou um instrumento na vida? Digo, mesmo de brincadeira, sem tirar nenhuma música dele? Então parabéns, você provavelmente consegue tocar isso. Enfim, quando dão isso pela primeira vez para a Hazuki ela, como era de se esperar, consegue tocar. Era um pouco diferente porque era um arranjo para tocar em banda, então provavelmente era até mais fácil, e ela se sentiu ofendida por terem dado algo tão fácil para ela. O que todos ali, já instrumentistas calejados, demoraram a perceber, é que a Hazuki só estava tendo a parte chata da coisa: treinar, treinar, treinar. Ela não tinha até então produzido música, não tinha visto o resultado de todo esse treinamento. Quando perceberam isso, fizeram um arranjo rápido com ela e tocaram todos juntos, e magicamente a música (ruim, mas ainda assim música) surgiu. Pela primeira vez a Hazuki sentiu o que é tocar música, pela primeira vez ela viu o fruto de seu esforço. Sim, ela está tocando mal pra caramba, mesmo uma peça tão fácil, mas ainda assim ela está tocando. É só continuar se esforçando que ela conseguirá tocar melhor, conseguirá tocar obras mais complexas. E conseguirá se divertir junto com todo mundo.

Mas Euphonium não teve um episódio tão legal assim. Quero dizer, eu me empolguei mais enquanto escrevi esses parágrafos anteriores do que enquanto assistia o episódio. É um anime muito bonito, com personagens muito bonitos e cativantes, com um tema interessante, mas tudo parece tão morno. Poderíamos ter episódios poderosos com grandes performances musicais. Poderíamos ter o drama pessoal desses personagens desenvolvidos, vê-los crescer, superar seus desafios e medos. Poderíamos até ter tudo isso! Mas a maior parte do tempo temos piadas de situação que nem são tão engraçadas assim e cenas que não acrescentam nada à história ou ao desenvolvimento dos personagens principais. Isso para não falar daquele flashback críptico que a Kumiko teve, onde um membro qualquer da banda deu uma bronca nela enquanto pegava ou guardava seu bombardino no depósito, e não dá para ter a menor ideia do que ela estava falando ou qualquer detalhe do contexto da cena que não voltaria a ser explorada de novo no episódio inteiro.

Lembra um pouco o anime anterior do Kyoto Animation, Amagi Brilliant Park. O cenário era interessante, o tema era interessante, alguns personagens eram interessantes e havia muito drama humano e crescimento pessoal para ser explorado ali. Mas nada disso aconteceu, episódios mornos alternavam com episódios de comédia pastelão, detalhes importantes sobre o enredo foram revelados apenas no final e tudo se resolveu praticamente sozinho. Em menor grau, Kyoukai no Kanata, também do KyoAni, também foi assim. Ou o estúdio sempre escolhe originais com esses mesmos problemas para adaptar, ou, o que eu acho mais provável, a adaptação deles é que está deixando muito a desejar. É muito bonito de assistir, eu gosto, mas acaba sendo esquecível. É igual pão com ovo, é gostoso, mata a fome, mas não é como se eu ficasse ansioso pelo próximo pão com ovo.

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