Perfect Insider – ep 5 – Liberdade
[sc:review nota=4]
Nada de novo é descoberto sobre os assassinatos atuais, mas um bocado de flashback e revelações sobre a doutora Shiki ajudam a entender um pouco melhor o que pode ter acontecido no episódio do assassinato de seus pais. Confirmado (se é que ainda precisava de confirmação) que o diretor assassinado foi o amante da Shiki quando mais nova, e que o professor Souhei está bêbado e deveria voltar para casa. Com efeito, ele decide pelo menos voltar para o acampamento. O que achou desse episódio?
A Moe definitivamente se envolveu de forma pessoal com esse caso. Os fatos de ser órfã, de estar ali junto com Souhei, quem ela ama mas que só se interessa pela Shiki mesmo depois de morta, e da própria Shiki ter feito perguntas sobre a morte de seus pais quando elas conversaram, estão mexendo com ela. Ela acaba tendo pesadelos por causa disso, mas pouca coisa é revelada sobre seu passado e a morte de seus pais. Isso afligí-la emocionalmente tanto assim, contudo, ajuda a entender melhor sua personalidade. Ela sente a falta dos pais, sente a falta de afeto, e provavelmente substituiu isso até onde pôde por um estilo de vida extravagante. Também ter se apaixonado pelo Souhei deve ter muito mais a ver com sua carência do que com a inteligência dele, conforme ela teria dito para a Shiki. Ela própria deve acreditar que se apaixonou por ele por causa de sua inteligência, e genuinamente parece admirar o professor por isso, mas não acredito que isso seja o suficiente para amar.
A Shiki continua parecida com a Moe, e acredito que isso seja proposital. Bom, acho que parecida não é bem a palavra correta, está mais para semelhante, equivalente. Shiki também perdeu os pais cedo, mas no seu caso tudo dá a entender que foi ela quem os matou ou que planejou suas mortes. Ela negou ter conhecido alguém mais inteligente do que ela em toda sua vida, mas mesmo assim se interessou pelo (futuro) diretor. Será que ela o amava? Eu ainda acho que não, mas isso é porque a acho doente demais para ser capaz de amar. No mínimo, acredito que seja algo doentio o que para ela é “amor”. Mas ainda faltam detalhes nessa história e posso estar enganado. Posso também, como Shiki, a estar julgando demais. Talvez ela amasse o diretor, como qualquer outra pessoa é capaz de amar.
As diferenças entre Moe e Shiki conduziram mais um episódio. A Shiki provavelmente matou seus pais, o que para a Moe é completamente absurdo, despropósito. Mas não sei ainda o que aconteceu com os pais da própria Moe, e a reação um tanto exagerada dela talvez esteja escondendo algo que nem ela mesma se lembre. As duas se apaixonaram por homens mais velhos (a Moe possui uma idade aceitável para isso, mas não sei desde quantos anos ela está apaixonada; só sei que ela conhece o professor há muitos anos), são mais ou menos manipuladoras e estabeleceram uma relação problemática com o seu objeto de afeto.
Agora aos fatos: As múltiplas personalidades da Shiki são pessoas próximas a ela que morreram (seu irmão gêmeo, natimorto, e uma criada que teve), além de uma boneca que jogou fora porque suja de sangue (o de seus pais, tudo leva a crer). O laboratório onde ela se trancou todos esses anos foi construído quando seus pais ainda estavam vivos, portanto não era seu objetivo trancafiá-la. E foi, tudo leva a crer, ali dentro mesmo que seus pais foram mortos. Por ela ou pelo diretor, ou por ambos, não sei. A arma do crime de todo modo foi uma faca que ela comprou (já pensando nisso?). A propósito, parece ter sido a mesma faca, ou mesmo modelo de faca (a original deve ter sido apreendida pela polícia, não é?), usada para matar o diretor. Com isso a conexão entre os dois crimes se torna inequívoca e com certeza o culpado pelo que está acontecendo agora foi íntimo do que aconteceu no passado (ou esteve lá, ou teve acesso a informações detalhadas sobre o que aconteceu). No passado, a faca foi um “presente” da Shiki para o diretor, para que ele pudesse ser “livre” de tudo o que o amarra ao mundo. De certa forma, isolados naquela ilha, ele e Shiki finalmente estiveram “livres”. Talvez não livres o suficiente e decidiram se “libertar” um pouco mais? Ou talvez alguém tenha decidido dar um basta nisso?
Liberdade é o título desse artigo e algo que une vários personagens em Perfect Insider. O diretor parecia querer o mesmo tipo de liberdade que Souhei declarou querer nesse episódio, o primeiro queria ir para o meio do mato e viver isolado do mundo, enquanto o último gostaria de pesquisar o que lhe der na telha sem que ninguém o incomode. Quem é que, “por acaso”, tinha as duas coisas? Não é à toa que Souhei admirava a doutora Shiki. Souhei também parece achar que Shiki matou os pais porque queria se libertar deles, o que foi a única dedução sensata dele nesse episódio. Foi bacana ele dando uma força pra Moe depois que ela acordou de um pesadelo, mas dali em diante foi ladeira abaixo para o professor. E não é porque eu gosto da Moe e fico chateado pelo desprezo dele por ela, juro! Enquanto ele tentava justificar porque achava a doutora Shiki tão pura, ele falou um monte de baboseiras que até um bêbado de bar olharia para ele e diria “não cara, vai com calma”.
Basicamente, ele diz que ela era pura por ter múltiplas personalidades. O raciocínio dele é que como crianças são paradoxais mas ao crescer e amadurecer buscam ser mais racionais, isso significaria que elas são assim pois possuem, de algum modo, múltiplas personalidades em conflito dentro de si. Eu, aqui, não consigo imaginar onde ele vê sentido nisso. Primeiro que crianças agem como retardadas porque não têm inteligência suficiente para agir diferente. Quando crianças, nosso cérebro é tão subdesenvolvido que sequer somos capazes de emoções mais complexas, como a vergonha por exemplo. Segundo que continuamos paradoxais a vida toda. Fazemos um bom trabalho de esconder isso quando necessário, tão bom que às vezes até achamos que não somos paradoxais coisa nenhuma, mas a verdade nua e crua é que o raciocínio lógico é só uma das funções do cérebro, e definitivamente não é ela que comanda todo o resto. Terceiro que ser paradoxal não tem nada a ver com ter múltiplas personalidades: é possível ter várias personalidades que concordem entre si, bem como, como já disse, todos somos paradoxais mesmo tendo apenas uma personalidade. Doutor Souhei, crianças não são puras, são burras. E são seres humanos horríveis, é bom que aprendamos tanta coisa enquanto crescemos. Assim evitamos, por exemplo, que sejamos todos destituídos de moral ou de noções de certo e errado – e acabemos todos matando nossos pais. Não vou iniciar aqui discussões filosóficas profundas, mas a moral nos liberta, professor, não o contrário.
Hina-san
Moe e Magata são semelhantes e ao mesmo tempo completamente opostas, o que me faz ter a ideia que com toda certeza, mesmo que Moe não concorde com os pensamentos de Magata, ela irá desvendar esse mistério, não só das mortes mas do assassinato dos pais da Magata, (super pensamento longe, eu sei).
Concordo em certa parte com o raciocínio do Souhei sobre a pureza da Magata. Entendi que, como as crianças não tem limitações de criatividade, elas possuem dentro de si várias versões de pessoas que querem ser ou tentam ser, em uma brincadeira ou verdadeiramente. Não que nós, adultos tenhamos uma limitação criativa mas, todas as preocupações e cordas que nos deixam presos a viver uma realidade contínua, nos faz deixar de lado essas “pessoas” dentro de nós, fazendo com que nós tenhamos que “ser apenas um” para se adequar ao modo de vida da sociedade ao qual estamos inseridos.
Quando falo por “pessoas dentro de nós”, não me refiro a outras personalidades mas, lados de nós mesmos que deixamos escondidos e só mostramos a nós mesmos. Todo mundo tem um modo padrão de se comportar porém, em determinadas situações, ou sozinhos, nós temos a sensação de liberdade por poder agir e pensar como sempre pensamos mas que nunca expomos às outras pessoas.
O fato de Magata ter essas personalidades (ou quem sabe fingir essas personalidades, por que não?) faz dela alguém que não se vinculou a essas limitações sociais que todo adulto tem. Ou seja, ela pode pensar de várias formas com os vários lados dela mesma, sem medo de expor isso para as outras pessoas. Nisso, ela tem liberdade para agir como quiser, e isso traz a pureza dela (não matar, obviamente) mas por realizar aquilo que ela quer fazer. Apagar o que tira a liberdade dela. Pura em um sentido que, ela não precisa guardar para si o fato de não gostar de algo, ela simplesmente descarta aquilo pra continuar da forma que ela quer ou precisa. Isso me traz a sensação de leveza, ela teria a mente limpa de emoções ruins (ódio, angustia, medo) e poderia ter a liberdade mental, sem ter a sensação de culpa, tornando-a (talvez) o gênio que ela é.
Claro, isso é só um ponto de vista sobre o ponto de vista do Souhei. Em vida real, eu apenas a consideraria um psicopata (extremamente inteligente, calculista e sem noção de culpa).
Sobre o andar do anime em si, ao mesmo tempo que me empolgo muito eu me frustro por não ter me mostrado nenhuma pista para que eu entenda ou ao menos especule o que poderia ter acontecido. Não, eu não tenho nenhuma suposição sobre como Magata e o Doutor foram assassinados.
Fábio "Mexicano" Godoy
Se você fizer uma reinterpretação livre do que ele disse, pode encontrar algo que faça sentido. Como puro exercício filosófico faz sentido também. Eu poderia por exemplo dizer (e não é tão diferente do que você disse, repare) que enquanto crianças somos puro potencial, podemos ser qualquer coisa. Quando adultos nos tornamos uma coisa específica. Mas daí a saltar para múltiplas personalidades é absurdo. Mesmo o que você diz, é bonito e coisa e tal, mas não é exatamente verdade, não é? Não é o caso da criança ser mais criativa, mas sim dela ter menos conhecimento, saber muito menos, e por isso experimentar mais. De fato essa é a natureza da criança (e de filhotes de animais mais inteligentes em geral): experimentar. Mas em uma amostra suficientemente grande (tipo, uma sala em uma escolinha, que seja) você já pode perceber que não é como se elas fossem geniais; de certa forma o que elas fazem é o que estão programadas geneticamente para fazer, por isso você percebe padrões, por isso todas as crianças exibem os mesmos comportamentos. No fim das contas, crianças sequer tem QI suficiente para serem mais do que isso. As limitações que nos são impostas (a formação do superego) vêm muito mais tarde, já na adolescência, e é tentador vincular isso com uma limitação da própria criança que um dia fomos (e que era de uma pureza egoísta, manipuladora e potencialmente homicida), mas são na verdade coisas bem distintas.
No fim das contas o Souhei é sim uma pessoa muito inteligente que diz coisas que fazem sentido, embora não encontrem qualquer respaldo no mundo real. É divertido acompanhar o que ele diz, mas ele está tão desconectado da realidade quanto ele vive afirmando que gostaria de estar. E nesse episódio em específico ele me irritou, o que provavelmente foi proposital por parte da produção, para nos sentirmos mais próximos à Moe, que também se irritou com ele.