O anime cheio de “mistérios” chega ao fim sem revelar alguns de seus próprios mistérios. Sem revelar alguns mistérios levantados nesse próprio último episódio! Mas os mistérios sempre foram instrumentais para o enredo, nunca necessariamente importante em si mesmos – tanto que a maioria deles, sinceramente, é uma porcaria. Alguns além de ser uma porcaria eu sequer me importo com os personagens envolvidos.

E a música? Que música? Bom, esse episódio finalmente brindou a audiência com uma apresentação completa, bonita, mas até chegar aqui era só um detalhe. E quer saber? Nesse episódio foi só um detalhe também. Mas um detalhe importante para agradar a audiência, que esperou o tempo todo para ver isso.

Um anime de mistério cuja audiência esperou doze episódios para assistir uma apresentação musical? Então talvez o anime não fosse nem sobre uma coisa nem sobre a outra…

Sobre o que se trata Haruchika, então? Essa pergunta é retórica. Eu já a respondi no título do artigo, com uma frase que copiei literalmente do Haruta, conforme ele disse nesse episódio. É um anime sobre juventude. Não um anime feliz sobre juventude, mas um anime sobre tudo o que a juventude é. Algumas pessoas têm problemas, às vezes grandes problemas, como a Narushima que perdeu o irmão mais novo ou a Serizawa que quase perdeu a audição. Outras pessoas exageram seus problemas, imersas em dúvidas ou apenas sentindo-se esmagadas pela vida, como o Maren ou o Kaiyuu.

Haruta e Chika guiaram a audiência ao longo desses episódios, eles também típicos adolescentes, e através de todos esses conflitos. Os dois não têm muitos conflitos próprios (bom, o Haruta até tem, mas o anime decidiu tratar a homossexualidade dele como uma pequena idiossincrasia a maior parte do tempo), são bastante diferentes embora bastante próximos e estão sempre se intrometendo, cada um a seu modo, na vida dos outros. E sempre mudando a vida dos outros. Porque a vida é assim: basta você se conectar a alguém para mudar a vida daquela pessoa, mesmo que só um pouco. E adolescentes costumam estar muito abertos à conexões – não à toa, a maioria dos problemas que Haruta e Chika resolveram resumiu-se a estabelecer uma relação com alguém.

Nesse último episódio não poderia ser diferente e eles foram se intrometer na vida de alguém de novo. É um benefício de ser jovem: mesmo agindo errado, mesmo sendo impulsivo, trapalhão, incômodo, a chance de te perdoarem no final se você não estiver agindo com malícia é sempre grande. Imagine dois adultos perseguindo pessoas como Haruta e Chika fizeram e me diga se a polícia já não teria sido chamada para prendê-los logo nos primeiros episódios.

Dessa vez o alvo era o professor. Porque eles fizeram uma assunção errada, como já fizeram noutras vezes, acreditaram que o professor Kusakabe estava deixando-os para assumir uma orquestra de verdade. Já era intromissão demais se fosse um assunto profissional, mas descobriram que era ainda pior do que isso. Descobriram algo que o professor com certeza tem suas razões mais do que justas para não querer compartilhar com seus alunos. Como noutras vezes, eles foram longe demais e acabaram tocando em uma ferida ainda aberta. Tudo porque, jovem que é, o Haruta sentiu que aquela era a última oportunidade de sua vida de declarar seus sentimentos sinceros por alguém. Tudo porque ele é um adolescente. E na adolescência achamos que não temos tempo para mais nada, achamos que tudo vai acabar em um segundo … e talvez isso seja verdade, não é? Uma fase de mudanças tão profundas e ao mesmo tempo tão curta. A vida é uma passagem só de ida, e é na adolescência que sentimos isso pela primeira vez.