Code Geass – ep 10 e 11 – Batalha de Narita
Uma batalha divertida, em que imperou o elemento surpresa e sem surpresa nenhuma, acabou não tendo nenhum vencedor no final. A Frente de Libertação do Japão pode se considerar a maior vitoriosa por não ter sido derrotada, mas teve baixas pesadas e vai precisar se deslocar para outra base. Zero e sua Ordem dos Cavaleiros Negros definitivamente não ganharam nada já que tinham um objetivo bem definido e não só não o alcançaram como ainda sustentaram suas próprias baixas – menores que as da FLJ, com certeza, mas ainda assim não desprezíveis. E Cornelia e sua divisão do Exército Imperial tiveram perdas devastadoras em uma batalha na qual tinham vantagem numérica colossal, faltando pouco para a derrota total – a captura da princesa comandante.
E teve um punhado de outras coisas interessantes – provavelmente mais interessantes para o futuro da história do que essa batalha em si. Mas vou começar pela batalha mesmo – e por seus defeitos, que ah, se você está lendo minha série de análises de episódio de Code Geass, sabe que eu não seria eu se não enxergasse e apontasse um punhado de defeitos, não é?
A base de operações não tão secreta da FLJ ficava em Narita, e realmente não sei porque eles se sentiam seguros ali se aparentemente todo mundo sabia que estavam se escondendo em algum canto por lá. Talvez ninguém soubesse exatamente onde, mas com certeza não parecia ser segredo para ninguém, muito especialmente para os britanianos, que a Frente se escondia e planejava das montanhas de Narita as suas operações. Talvez a cautela extrema que o Toudou exibiu durante todos esses episódios fosse a responsável pela relativa paz que seu quartel general desfrutava? Quero dizer, tendo tanto o que se fazer, destruir um grupo separatista que está quieto em seu canto não parece ser a prioridade primeira. Ainda assim eles são o maior grupo separatista japonês e suponho que a Cornelia os tenha atacado apenas por isso e pela propaganda que isso geraria: nenhuma contestação será tolerada, por mais moderada que seja, e ninguém, por mais poderoso que seja, pode se opôr à Britannia.
Parece-me o tipo de propaganda necessária quando um grupo como a Ordem dos Cavaleiros Negros vem conquistando cada vez mais adeptos e simpatizantes. Atacá-los diretamente é difícil e tende a causar ultraje, o que pode levar toda a oposição a se unir. Mas se destruíssem a FLJ então todos passariam a temer o governo e a apoio à Ordem diminuiria naturalmente. Estou especulando demais? Provavelmente. Ainda mais se considerar que isso jamais será explicado em momento algum. Mas o tema “propaganda” já foi destacado nos arcos iniciais de Code Geass então considero inteiramente plausível essa minha interpretação. De quebra, alivia um pouco o furo que é a FLJ ter a localização geral da sua base conhecida mas mesmo assim jamais ter sido atacada, que era o meu incômodo inicial.
Já Lelouch levou sua Ordem ao apogeu, recebendo diversas adesões e ganhando robôs gigantes de outro grupo separatista – robôs muito bons, por sinal. Imagino a escala da fábrica deles – e como conseguem passar despercebidos pelo Império. Bom, quando chegar a hora de falar disso, gasto dois parágrafos no assunto como fiz agora com a FLJ, suponho. Ganharam vários robôs Glasgow modificados e me pergunto se são mesmo Glasgow capturados e modificados ou se são fabricados idênticos aos Glasgow após o roubo dos planos de fabricação do robô – ou seja, imitações. Fun fact: o Japão (o nosso Japão, o do mundo real) goza hoje de grande reputação no que diz respeito à qualidade de seus produtos tecnológicos bem como a sua capacidade de inovação, mas algumas poucas décadas atrás produtos japoneses eram sinônimo de cópias mal feitas dos ocidentais – a mesma fama que os produtos chineses ainda hoje possuem, embora esteja diminuindo. Seria divertidíssimo se os robôs gigantes japoneses de Code Geass fossem versões piratas dos britannianos, e uma espécie de homenagem a um passado infame. Em todo caso, tanto o Japão real quanto o Japão de Code Geass desenvolveram a tecnologia inicialmente estrangeira de forma independente e conseguiram criar um produto de alta qualidade. No anime, o Guren Mk II.
Que como não poderia deixar de ser foi dado para que a Karen o pilotasse. Aparentemente é uma máquina tão poderosa quanto o Lancelot, o que é surpreendente já que o robô branco de Suzaku é de longe o mais poderoso já visto no anime até agora. E aparentemente ainda é experimental e usa uma tecnologia que depende de sincronia ou algo assim com o piloto, por isso é difícil que seja massificado – uma boa justificativa para não aparecer mais ninguém pilotando uma arma tão incrível e ao mesmo tempo garantir um papel especial para o Suzaku. O Guren, por outro lado, parece poder ser pilotado por qualquer um. Claro que qualquer um pode pilotar uma Ferrari, mas a maioria das pessoas provavelmente (eu com certeza, nem sei dirigir) acabaria com ela em um poste ou a pilotaria de forma patética, enquanto alguém treinado ou um piloto profissional seria capaz de usá-la ao máximo de sua capacidade. Assim é com robôs gigantes militares em Code Geass também, não tenho dúvida, e me parece claro que o Suzaku supera muito a Karen em técnica, que por sua vez compensa isso parcialmente com pura força de vontade. Considerações de habilidade à parte, imagino o estrago que os japoneses seriam capazes de fazer caso adquirissem uma instalação industrial capaz de produzir o Guren em massa.
E agora o mais importante: a batalha em si! Foi divertida, não foi? Foi sim. Dois episódios de muita diversão e explosões. Foi, como eu disse, essencialmente uma batalha de surpresas. Isso adicionou suspense, o que colaborou positivamente no anime, porque sabíamos que as coisas iam acontecer (embora não exatamente quais coisas), mas nunca sabíamos quando ou o quê. O problema é que tecnicamente todos os envolvidos na batalha deveriam saber também. Começando pela FLJ que já comentei, deviam estar bem mais preparados para um ataque em larga escala à sua base, dado que sua localização era conhecida em linhas gerais. Só não foram destruídos porque a Cornelia descartou um bombardeio fulminante pois queria ter acesso aos arquivos da FLJ para conhecer todos os seus contatos e todos que com ela colaboram. O que não faz muito sentido também né?
Uma vez sob ataque e garantida a sua derrota, sabedora de que seria forçada a abandonar a base, a FLJ deveria ter um procedimento pronto para destruir todos os seus arquivos e quaisquer outras evidências que incriminem seus colaboradores. Aparentemente não tinha. Nem a rota de fuga nem uma forma de destruir seus arquivos. Mas assumindo que tivesse – e essa era a assunção correta, Cornelia deveria ter optado pelo ataque fulminante. O bloqueio que suas forças fizeram à Narita foi basicamente inútil, de todo modo, quero dizer, que bloqueios militares sejam rompidos é aceitável, o que não é aceitável é que sucessivos bloqueios sejam rompidos e o inimigo chegue no meio do campo de batalha e ainda te pegue de surpresa. Se o próprio bloqueio rompido não informasse a base de operações no campo de batalha que alguém o atravessou porque sei lá, digamos que tenha sido dizimado, o seu silêncio em reportar qualquer coisa deve ser tomado como indício de que alguém está chegando. Que nada, Toudou chegou no meio da batalha em um momento crucial e ninguém foi capaz de fazer nada para evitar.
E o quase onisciente Lelouch teve sua cota de despreparo também, não é? Uma coisa seria ele ter ido ao campo de batalha sabendo que eventualmente poderia ter que enfrentar o Lancelot porém sem certeza disso, mas outra completamente diferente foi ele ter sido pego de surpresa pelo aparecimento do Lancelot. Quão improvável parece ser que um exército use sua mais poderosa arma em um ataque massivo? Para o Lelouch, é totalmente improvável. O único plano de contingência que ele tinha era “Karen, pega ele!”, o que eu admito que era o único plano possível em qualquer caso, mesmo se ele tivesse se preparado mentalmente para a hipótese do Lancelot aparecer, mas talvez, estivesse ele preparado para isso, pudesse não evitar o confronto, isso me parece impossível mesmo, mas pelo menos forçá-lo a ser em seus próprios termos, em terreno que lhe seja favorável, e de preferência, de forma que não lhe frustre o objetivo principal de sua missão. A pessoa mais sensata ali naquele campo de batalha foi a Euphemia, e confesso que gostei de ver um lado, digamos, mais militar da irmã mais nova da Cornelia. Ainda que não fosse a pessoa mais brilhante no local, ela não pareceu totalmente leiga no assunto – e manteve-se fiel aos seus ideais até o fim.
Vários das outras coisas além da batalha em si eu já mencionei no artigo até agora, porque diretamente relacionadas a ela. Mas tenho mais duas coisas ainda para cobrir nesse artigo (que já está enorme mesmo): a C.C e a produção acima da média, tanto em qualidade de animação quanto de direção, que esses episódios tiveram. Sobre o segundo assunto vou comentar usando imagens, então começo pela C.C. Quão infame seria se ela se chamasse Shirayuki (neve branca) ou algo parecido com isso, hein? Vindo de Code Geass eu não duvido! Mas pode também ser algo relacionado à água, já que o barulho de gota dágua foi o que censurou o verdadeiro nome dela cada vez que foi pronunciado. De todo modo, com certeza não é um nome europeu (pelo menos não um nome germânico), senão o Lelouch não teria problema nenhum para pronunciá-lo. O que me confunde um pouco porque o Lelouch viu cenas claramente europeias nas memórias da C.C, bem como uma garotinha andando sobre um campo de batalha que parecia localizado na Europa.
Mas isso não é prova suficiente. Afinal, Lelouch também viu um Torii e a garotinha não necessariamente era a C.C. Aliás, aposto que não era. Não apenas ela não tinha a marca na testa (que vá lá, pode ter adquirido depois), como o símbolo do geass apareceu em seu olho esquerdo, como é com o Lelouch. A cena não é clara o bastante para saber se ela tinha o geass e o estava ativando ou se foi apenas liberdade artística, mas todas as possibilidades ainda estão em aberto. De todo modo, aposto que ela pertenceu a uma instituição transnacional que em algum momento foi destruída e alguns de seus membros (a abertura do anime revela que existem ou existiram várias como a C.C – e tudo indica que uma dessas vai acabar dando um geass para o Jeremiah, quero muito ver isso, hehe) foram capturados por britannianos. Talvez o imperador tenha um poder desses? Ele disse que falou com Clóvis (já morto), afinal. Se for o caso, seria compreensível que a continuidade das pesquisas seja proibida ou super controlada. O poderoso imperador não iria querer um exército de portadores de geass em hipótese alguma.
Outra coisa notável é a dedicação da C.C em proteger o Lelouch. É verdade que ela é, tudo indica, imortal ou algo muito próximo a isso, mas isso não significa automaticamente que ela deva proteger com o próprio corpo um cara aleatório para quem ela deu seu poder. Será que Lelouch a conquistou com sua convicção? Ela tem um desejo profundo, pouca auto-estima, pouco cuidado consigo mesma, e está disposta a muito para ajudar e proteger o Lelouch. Ela acredita que ele é capaz de usar o geass ao máximo, ou que tem potencial para isso, me parece. E conta com isso para realizar então seu próprio desejo. E qual seria? Se aquelas memórias eram delas mas aquela garotinha naquele campo de batalha que parecia datar da época das guerras mundiais não era ela, então ela é bastante velha – faz sentido, ela é “imortal”, não é? Talvez ela deseja, sei lá, morrer? Bom, acho que só na segunda temporada vou descobrir, e por enquanto estou apenas na metade da primeira, hehe. Desculpe sobre as cenas que disse que escreveria sobre, o artigo já ficou imenso, publicá-las-ei em artigos separados, ok? Prometo!