O jogo foi tenso pra caramba. As caras e bocas foram geniais, a estratégia não foi tão incrível assim mas foi divertida, a virada de mesa era óbvia que aconteceria mas mesmo assim até o final parecia improvável. Para quem gosta de animes (e mangás) sobre jogos de azar, a partida desse primeiro episódio deixou bem pouco à dever para outros gigantes do gênero como Kaiji e Liar Game. Ah, e as garotas são lindas, provavelmente ainda mais quando fazem expressões diabólicas.

Mas ao contrário de em Kaiji e Liar Game, eu não sei porque tudo aquilo está acontecendo. No caso desses, os protagonistas são chantageados e forçados em rodas tão clandestinas quanto criativas de jogos porque tinham dívidas acumuladas. Em cada partida, além da estratégia em si e dos jogos bastante diferentes inventados por seus autores, conhece-se um pouco mais sobre alguns tipos humanos diferentes conforme eles são forçados além de seus limites psicológicos – e não dá para deixar de pensar o tempo todo sobre que tipo de gente está por trás daqueles esquemas.

Por que jogam em Kakegurui? Só porque são podres de ricos? Isso significa que os mais ricos sempre estarão em vantagem, como a protagonista, não é? Yumeko perdeu uma nota preta só para descobrir qual era o esquema do jogo que Mary criou para capturá-la. E ela pôde se dar a esse luxo porque tinha mais dinheiro do que sua adversária. Só isso. É uma regra básica de jogos de azar que aprendi com The Kingdom of Loathing há muitos anos: um RPG via browser mais voltado para comédia do que qualquer outra coisa; ele tem um jogo de O Dobro ou Nada no qual as chances de ganhar são realmente 50%. Assim sendo, basta continuar dobrando a aposta enquanto perder que quando ganhar irá sair no lucro. Obviamente quanto mais rico você for, mais chance você tem de ganhar. Acredito que o mercado de capitais deva funcionar de forma semalhante.

Yumeko ganhou porque de partida já tinha dinheiro pra comprar a Mary e colocá-la no bolso, mas isso não teria graça, o divertido é arriscar-se a perder, por pequena que seja a chance. Mas essa é a graça pra ela, pra mim não teve tanta graça assim quando refleti após o episódio. E citei o “mercado de capitais” porque o anime faz umas referências ao “capitalismo” e ao “dinheiro” que parece sugerir que ele seja na verdade uma crítica pobre e cretina ao modelo econômico vigente.

Mas esse foi só o primeiro episódio, e ele foi divertido, mesmo que vazio de significado. Dá pra melhorar muito ainda. Algo que pensei dias depois de assistir é que, através das apostas, Kakegurui generaliza e oficializa os pequenos esquemas de poder que existem entre os alunos de uma classe e de uma escola – qualquer escola. Pode funcionar, se bem construído para isso, como uma interessante metáfora para a vida estudantil do mundo real, com escolas e faculdades onde bem menos dinheiro circula e todo mundo é mais velado sobre abusar e assediar moralmente os amiguinhos.

  1. Te respondendo…eles apostam por posição social dentro e fora da escola (tirando a yumemiko, ela aposta pq é insana, topzera, fodona entre tantas coisas que só os seres extraordinários entendem) pessoas formadas lá tem previlégios (como na vida real tipo,é diferente vc se formar num colégio como havard e sla, um colégio qualquer, pessoas formadas em havard tem previlégios curriculares) e na escola, eu acredito que ngm gosta de ser simplesmente controlado pelos outros, nós gostamos de ser os controladores (a menos que vc seja um sadista colega) e eles apostam para garantir a supremacia sobre os outros, cada um tem seu objetivo ao ir para um colégio desses, alguns querem testar o quanto são bons nos jogos, outros só vão para dizer que se formaram lá, outros só pra passar o tempo se divertir (a sua maneira não é jabami-san?!! Kkk) e pra se tornarem verdadeiros campeões, sempre almejando o topo (NÃO É JABAMI-SAN??!! KKK)

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Sim, ao longo dos episódios isso ficou mais claro. O primeiro foi apenas insanidade mesmo, foi legal para entender a dinâmica dos jogos em si mas inútil para entender qual era a ideia por trás do anime. Fiquei bem pouco impressionado com o que vi inicialmente, mas agora estou gostando bastante.

      Da forma como eu entendo, a escola representa a sociedade, com seus vícios e suas disputas por poder, grande e pequeno, ocorrendo em plena luz do dia e sem nenhum escrúpulo, nenhuma hipocrisia. A realidade nua e crua. A Yumeko entrar no colégio e começar a mudar tudo faz parecer que ela é uma outsider, mas não é como eu entendo. Ela é um produto puramente destrutivo, uma força do caos, gerada por essa mesma sociedade, que se vê incapaz de pará-la usando apenas as mesmas regras de sempre pré-estabelecidas. A animação de encerramento é uma metáfora perfeita para isso, com a protagonista desfilando no olho de um furacão que fica cada vez mais poderoso – ela é o próprio furacão.

      Como é um mangá em andamento imagino que em algum momento talvez o autor defina um objetivo maior (ou, na minha opinião, menor), mais palpável, explicando melhor a personagem. Para o anime está perfeito que seja como está sendo.

      Obrigado pela visita e pelo comentário!

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