Um ataque anfíbio depende muito do fator surpresa. Atacar posições defensivas é sempre difícil, mas muito mais quando se vem pela água – qualquer erro de cálculo ou execução e você é forçado de volta para a água, onde estará basicamente indefeso contra o fogo inimigo.

Esse episódio de Centaur no Nayami apresenta o povo anfíbio e seu mais ilustre representante mundial, mas o título do artigo é só piada, não tem nenhuma guerra nele. Ou será que tem?

Se você já assistiu o episódio essa pergunta foi apenas retórica. Obviamente eu não te surpreendi. Se ainda não assistiu, eita, vai lá assistir, sério. Não que o episódio trate de grandes revelações ou reviravoltas dramáticas, quero dizer, Centaur no Nayami continua sendo um slice of life, nada realmente importante jamais acontece (dizem que no mangá acontece – mas já passou também, hahaha!). Mas esse episódio é melhor aproveitado por quem não sabe o que está para ver, então vá lá, assista, o artigo não vai fugir, depois você volta e lê.

Agora que todo mundo já assistiu, vamos ao ataque surpresa do episódio: você estava preparado para assistir uma história de sobrevivência ao Holocausto, versão Centaur no Nayami? Foi para isso que você quis assistir esse slice of life fofinho com uma garota centauro? No mangá tem até o Hitler – ele é um anjo. Mas não pense que a ausência do maior vilão do século 20 (e um dos favoritos a maior vilão de todos os tempos da história da humanidade) significa que o anime tentou disfarçar as referências ao Terceiro Reich – segundo li (não sou especialista, mas sei que tenho pelo menos um leitor que é e vai confirmar a quem quiser perguntar, hehe) a retratação dos uniformes, equipamentos, modo de operação, e até mesmo a estranha forma como as bombas são soltas com o bico para cima do bombardeiro são bastante fiéis. Os americanos que liberaram o campo de concentração também estão bem representados.

E o que não está bem representado? Para quem conhece a história, o que mais chama atenção é o fato de americanos liberaram os campos de concentração. Foram os soviéticos que fizeram isso, pois eis que os campos estavam no caminho do fronte de guerra oriental. Mas foram os EUA que acolheram tantos judeus durante e após a Segunda Guerra, e onde vários deles prosperaram, então essa pequena alteração tornou a história do presidente daquela companhia (qual?) mais coesa. No mangá aquele campo de concentração tem o portão icônico e sinistro de Auschwitz, e no anime isso foi modificado para um portão genérico qualquer. Mas o “Arbeit macht frei” (O trabalho liberta) está perversamente e de forma distorcida presente na fala do guarda do campo quando ele diz “A sobrevivência é a recompensa pelo seu trabalho”.

Também é muito interessante que as memórias do presidente tenham sido em preto e branco, deu um ar áspero, desolado, a toda a sequência. Além de lembrar A Lista de Schindler, filme famoso sobre o Holocausto, o qual talvez o anime estivesse apenas tentando referenciar pela estética. A própria história do presidente, uma criança que sofreu durante a guerra, ressoa profundamente com os japoneses. Veja o Túmulo dos Vagalumes, ou Gen Pés Descalços. É também a fórmula do romance autobiográfico O Diário de Anne Frank, muito popular no Japão, sobre uma garota judia durante a Segunda Guerra. Esse episódio teve todos os elementos, narrativos e estéticos, de uma potente história sobre o sofrimento humano causado pelas guerras e sobre a lenta e necessária recuperação – bem como sobre o que fazer para evitar que isso se repita, e isso está diretamente ligado ao tema central de Centaur no Nayami.

Seja através da atitude pessoal do presidente ao se recusar a ceder ao preconceito contra anfibianos (as pessoas têm nojo de tocar na pele deles, erroneamente acreditando que são gosmentos como sapos) – preconceito ao qual o próprio Rousseau há muito havia se rendido, apesar dele próprio ser um ícone da igualdade e um defensor ferrenho da paz entre os povos. Seja através dos assustadores exageros que descobrimos a cada episódio, como o ex-professor preso por duvidar que a Hime tivesse cabelo ruivo natural, ou dos soldados ostensivamente visíveis a cada vez que os “povos secos” se dirigem até a pequena Veneza dos sereianos. Depois de assistir o Holocausto do anime, no qual os anjos foram desumanizados através de, entre outras coisas, o corte de seus halos, como criticar de forma irredutível as leis atuais que proíbem que anjos cortem seus halos? Continuo achando uma lei exagerada, indevida, mas Centaur no Nayami se esforça para aprofundar o tema, mostrando que ele é mais complexo do que parece à primeira vista.

O fato da história do presidente sobrevivente do Holocausto ter fechado o ciclo da história que começou no primeiro arco com o seu encontro com o anfibiano Rousseau foi o pequeno toque de gênio do episódio. De repente passou a ter muito mais peso sua fala na primeira esquete: “Você tem muito a aprender”, dita a seu secretário pessoal que o oferecia lenços umedecidos para “limpar” a mão após Rousseau partir. Mas isso é apenas o fim do ciclo da história do presidente. A de Rousseau ainda está com pontas soltas e bem vivas.

O outro lado do aperto de mãos

Alguém está fornecendo armas ao seu povo e os instigando a uma guerra contra os humanos. Não foi dito com todas essas palavras, porque o General Sapão não podia admitir isso, não é mesmo? Mas está lá no episódio para quem quiser entender. Um pouco menos óbvio (mas acho que ainda assim bastante óbvio) é quem é esse “alguém” que os instiga, não é? Segundo o sapo belicista são os seus “deuses”, que “existem de verdade”. Há apenas um episódio os antárticos tentaram criar uma versão robótica de um deus totêmico dos sereianos. E tenho certeza que em algum episódio que não me lembro qual foi dito que assumiram o papel de “deuses” de sociedades mesoamericanas. Talvez, apesar do banimento de todos aqueles livros, os antárticos realmente estejam tentando controlar o mundo pelas sombras.

Em artigo sobre episódio anterior eu acusei a Hime de viver em abençoada ignorância sobre as dificuldades da vida, enquanto todas as suas amigas de uma forma ou de outra têm suas próprias preocupações e responsabilidades, maiores ou menores. Depois desse episódio eu acho que entendo Centaur no Nayami um pouco melhor e vou reformular: não só a Hime, mas todas as suas amigas vivem vidas abençoadas por não precisar lidar com todo o sofrimento que em outras partes do mundo ainda são tão comuns. Ou foram há poucas gerações e ainda vivem pessoas que carregam cicatrizes desses tempos sombrios. Até mesmo a Sassassul, uma antártica, talvez não saiba de tudo em que sua nação está se metendo, desestabilizando regiões e povos do mundo. Provavelmente não sabe, pela idade e pela estrutura da sociedade a qual ela pertence.

Vida fácil, vida boa

Acredito que seja a intenção do autor que isso nos toque e nos faça pensar em todos os problemas que não temos mas que, não obstante, ainda são tão atuais. Não se trata de “salvar as crianças da África”, mas apenas de reconhecer que, independente de onde vivemos e das dificuldades que temos, em algum lugar do mundo existem muitas pessoas que sonhariam em ter as nossas dificuldades ao invés de suas realidades pessoais muito mais duras. É esse tipo de slice of life que Centaur no Nayami é, e esse é seu maior ataque surpresa contra nós, expectadores.

  1. Bom, eu tinha dito num dos artigos iniciais de Centaur que eu não ia comentar os artigos deste anime, mas este episódio lindo e com uma mensagem forte, fez com que eu faça uma excepção. Este episódio surpreendeu-me de várias maneiras, eu que apenas vejo este anime para descontrair e pouco mais, não esperava que ele me aparece-se com um episódio mais sério e com histórias mais sérias ainda. Começando Rousseau, um anfíbio, que foi adoptado por uma família francesa e com muito estudo e dedicação chegou ao topo. Como o anime estava com o desejo de fazer um episódio marcante, o personagem Rousseau é tal e qual a filosofia de Jean Jacques Rousseau,um dos principais filósofos do Iluminismo. Como um todo gostei bastante tanto da história dele e da forma como ele age. Aquela parte, em que o Rousseau, foi cumprimentar o presidente daquela empresa famosa, deu-me o que pensar. Esta cena em si, poderia passar batida, mas a mensagem que ela transmite é impossível não perceber. Achei a atitude do presidente, bem decente e que eu considero a norma mínima de honra e de senso de compromisso (para mim um aperto de mão, equivale à palavra de honra de uma pessoa). Mas como nem tudo são flores, achei bem interessante, o interesse do Rousseau em querer manter as conexões com o seu povo nativo. Mas o povo dele, mesmo tendo orgulho dele, está numa onda de querer uma guerra, onde o chefe da tribo age e fala como um troglodita que não consegue perceber, que numa eventual guerra contra os povos mamíferos eles vão perder feio (será que o povo da Antárctida está metida nisto?). Outra coisa que notei, tanto no chefe tribal como nos seguranças que vigiam a entrada da cabana, é que aquele armamento e coletes, pareciam mexicanos (ou eventualmente americanos sei lá), mas não faz sentido, andar com aqueles coletes vestidos, aquilo só serve para carregar munições mais nada.
    Agora a parte que mudou completamente o clima do anime e do episódio, nunca pensei ver um retrato do Holocausto e a dura realidade do mesmo, num anime para maiores de 13 anos e cuja temática é slice of life. Quando começa a parte B do episódio, onde se vê aviões bombardeiros a atacar uma cidade, os blindados e as metralhadoras anti-aéreas a tentar derrubar os bombardeiros, eu fiquei sem palavras. O anime no quesito histórico esteve excelente (dentro dos limites do estúdio em termos de animação), poucas são as pessoas, que sabem, que os oficiais nazis antes da invenção das câmaras de gás, tinham quotas de execuções de judeus, ciganos e outros povos que Hitler e Himmler consideravam inferiores. Muitas das vezes, estes mesmos oficiais e seus subordinados obrigavam as suas vitimas, a cavarem a sua sepultura e depois executavam-nos. Foi durante uma destas execuções, dessa vez numa vala comum, que Himmler levou com um salpico de sangue na cara e ganhou nojo do sangue dos judeus. Foi assim que nasceram as câmaras de gás, as primeiras experiências foram feitas com fumo de escape dos camiões de transporte de tropas (onde as vitimas morriam asfixiadas por inalação de gases venenosos), mas este método era demasiado custoso em termos financeiros. Dai surgiu a ideia de usar gases venenosos, proibidos na Convenção de Genebra,nas câmaras de gás, o pensamento dos nazis devia ser este “já que não posso usar estes gases nas munições de artilharia, vou usá-los para matar povos inferiores”.
    Antes de passar ao resto do episódio, vou falar apenas um pouco sobre os uniformes, armas e tácticas empregues no flasback do presidente. Por momentos pensei que aquele oficial nazi, que estava a executar os anjos, fosse algum dos lacaios do Estaline que costumavam fazer as purgas, mas não, quando o oficial aponta a matar com a sua Luger PO8 9 mm Parabellum, eu percebi que o flashback era sobre os nazis e o Holocausto. Essa história da quota de execuções sumárias por parte dos oficiais nazis, também tinha muito a ver, com aquilo que os nazis consideravam desperdício de munições e desgastes das armas. Quanto aos uniformes, eles estavam bem feitos, tanto o do oficial nazi centauro, como o das tropas que o acompanhavam (note-se o esforço do estúdio, em colocar moldes em formato de orelhas nos capacetes). Os uniformes dos soldados americanos também estavam muito bons e as armas também (uma pequena curiosidade, aquela barra de chocolate que o soldado centauro deu à criança anjo, equivalia a uma semana e meia da ração de açúcar daquele soldado). Outra coisa que foi bem feita, foram os blindados mostrados no episódio, naquela parte da invasão das ruas por blindados, esses deviam ser das primeiras versões dos panzer, blindados leves, excelentes para romper sobre as linhas do inimigo. Aqueles blindados que atacaram o campo de concentração, eram blindados pesados Sherman, excelentes para fazer ataques críticos, tanto nas fileiras de blindados do inimigo, como destroçar as linha inimigas de infantaria. Outra coisa que gostei, foi do detalhe das bombas saírem com o bico para cima dos bombardeiros alemães, isto na sua maioria dos casos deve-se à forma como as bombas foram arrumadas, a outra é que se a bomba caísse logo com o bico para baixo, havia a hipótese do detonador ser accionado antes de tocar no solo, devido à pressão do ar. Mas por mais que perfeito que o episódio tenha sido, ele errou numa parte do armamento, nenhum país que a Alemanha invadiu durante a segunda Guerra Mundial, tinha aquele tipo de metralhadoras anti-aéreas (estas foram inventadas pelos alemães e mais tarde uma cópia americana surgiu no final da guerra).
    Agora a parte que mais mais gostei do episódio, a parte do campo de concentração (e que traria à baila o tema do Holocausto a este episódio). Eu achei que o estúdio suavizou a parte da chegada dos presos àquele campo de concentração, eu não sei como é no mangá, mas aquele portão do campo, parecia que ia ser semelhante ao portão do campo de concentração de Auschwitz (como tu bem referiste no artigo). Outra coisa que achei que o episódio suavizou, foi a forma como todas aquelas pessoas foram transportadas no trem de transporte e a entrada no campo de concentração. Os judeus e outros povos inferiores (como os ciganos romenos) eram amontoados como sardinhas em cada vagão de trem de carga e quando chegavam aos campos de concentração, haviam sempre fileiras de soldados de ambos os lados, para quando alguém tentasse fugir, ser executado na hora. Isto e as equipas médicas que costumavam estar presentes nos portões dos campos de concentração (uns de forma obrigatória e outros por prazer de praticar o mal, o doutor Josef Mengele que o diga), para fazerem a triagem inicial, todos que apresentassem marcas de deficiência, velhos, doentes mentais e homossexuais eram os primeiros a irem para as câmaras de gás. Para os ciganos e outras minorias , estes eram esterilizados (principalmente as mulheres) e os homens usados para trabalhos pesados (para no fim de morrerem de fome e desidratação). Como o episódio bem mostrou, a vida num campo de concentração nazi não era fácil (pior que estes, só gulags na Sibéria), onde as crianças e adultos de meia idade e velhos sofriam mais (como o episódio fez a questão de mostrar no emagrecimento extremo do presidente que ainda era criança e dos outros prisioneiros). O episódio suavizou bastantes referência ao terceiro Reich nesta parte, mas mostrou aquilo que mais caracterizou o Holocausto nazi, a barbárie dos campos de concentração, a existência de colaboradores (ou bufos) e até mesmo o pequeno detalhe que tu citaste e bem no artigo, o corte do halo, da cabeça dos anjos Isso para mim equivale ao uso da estrela de David cozida na roupa que os judeus tinham que usar na Alemanha Nazi para se identificarem. O anime não teve medo de mostrar, o que a fome fez aqueles prisioneiros, desde do emagrecimento extremo ao sistema injusto de distribuição das rações por espécie, gerando assim a revolta geral entre os prisioneiros. Aquele centauro, que era colaborador do oficial nazi, que ia matar o presidente, não era mau diabo, ele agia assim, para viver mais um pouco, já que ele sabia que não ia sair vivo dali nem daquela guerra. A atitude dos outros prisioneiros em relação a este centauro colaborador dos nazis era normal, fome, junto de sede e falta de liberdade, geram descontentamento e revolta. Quando se deu aquela briga entre o centauro bufo e os outros, deu até dó, de ver a única criança ali, a tentar parar aquela briga, imagine-se o que as crianças sentiam, naqueles campos quando os adultos perdiam a razão e partiam para a pancada. Aquela parte, em que o presidente, já não tem forças para segurar na picareta, devido à fome, desidratação e subnutrição foi de doer o coração, nos campos de concentração era trabalhar até morrer e o anime não teve medo de mostrar isso. Foi nessa parte que o centauro colaborador fez a sua última boa acção, ele não era mau, as circunstâncias é que ditaram que ele se tornasse um servo dos nazistas. Outra coisa que me marcou nesta parte, foi aquela conversa entre o demónio de óculos e o presidente, o demónio começa por dizer, que mesmo que eles fossem idênticos, os outros começariam a brigar por causa de roupas, status social, tudo para dizer que o ser humano é egoísta e mesquinho e que isso nunca iria mudar.
    A parte da libertação do campo de concentração pelas forças de libertação (aliados) foi muito bem feita, mas se bem que aqui em termos históricos houve um erro perdoável, já que como tu bem referiste quem libertou os campos de concentração foram os russos, mas estes não queriam saber daquelas pessoas para nada. Foram os americanos que receberam todos os prisioneiros de braços abertos, dando-lhes asilo e ajudando-os durante e após o final da guerra. O presidente teve sorte, que aquele soldado (que também era um centauro, olhem bem a ironia do destino neste episódio) o ter salvado daqueles prisioneiros maníacos que tinham sangue nos olhos. Aquilo que esses prisioneiros fizeram ao centauro colaborador foi aquilo que já naquela altura e ainda hoje se chama, crime de ódio. Se não fosse aquele soldado, aquela criança teria sido enforcada como um animal injustamente. Esse mesmo soldado teve a excelente, atitude de oferecer um lar ao presidente, que naquela altura da guerra, já não tinha nada, além de memórias amargas do tempo em que esteve naquele campo de concentração.
    Com este flashback as palavras que o presidente disse ao seu secretário, quando este se dirigiu a ele com umas toalhas húmidas para o presidente limpar as mãos depois de ter apertado as mãos do anfíbio Rousseau, ficaram com um significado mais sério e uma mensagem importante para quem viu o episódio. Como tu bem referiste na legenda da sétima imagem do artigo, não é a raça que define o carácter e o valor de alguém. Só esta tua simples frase descreve o episódio inteiro com uma exactidão assustadora.
    Antes de terminar tenho que destacar o uso de preto e branco no flashback do presidente, o enquadramento das expressões dos prisioneiros do campo de concentração, tudo isto deixou o episódio melhor e mais sério, tornando assim o episódio 9 de Centaur No Nayami um caso especial entre os especiais. Quem nunca viu o filme da Lista de Schindler, que ganhe vergonha e vá ver, eu já vi esse filme 5 vezes e me impressiono e emociono sempre.
    Obrigado pela recomendações dos filmes, eu Hotaru no Haka já vi e não tenho palavras para o descrever. Ainda estou para ver os dois filmes de Gen Pés descalços mas tenho receio que o choque que eu vá apanhar seja enorme (eu sei que um desses filmes, mostra uma cena horrenda, das pessoas a serem devoradas pela bomba atómica).
    Como sempre mais um excelente artigo de Centaur No Nayami Fábio. Peço desculpa por este comentário enorme (o meu maior comentários até hoje), mas quando algum anime toca sobre algo sobre a Segunda Guerra Mundial eu vou à loucura.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Esse episódio foi realmente uma exceção da exceção, o episódio seguinte já está no clima de Centaur normal novamente – e com uma das piores animações da temporada, o que também é um grande contraste com esse maravilhoso episódio 9.

      Eu não sei se o Rousseau batráquio de Centaur no Nayami tem a mesma filosofia do francês insuportável, mas ele com certeza é um exemplo acabado da filosofia do “bom selvagem” deste. Eu, que defendo que ofereçamos a civilização aos povos que ainda vivem nas trevas da pseudociência (mas não que a forcemos goela abaixo deles) acho essa visão rousseauniana extremamente preconceituosa. Mas o personagem do anime sem dúvida é bondoso, bem intencionado e inteligente (não inocente), então eu relevo esse seu background de criação.

      Quando vi a cena do aperto de mão da primeira vez achei que fosse um desrespeito, preconceito do presidente (o preconceito do avesso, comum no mundo de Centaur no Nayami). Mas havia algo estranho. Quando ele recusa o lenço para limpar as mãos eu finalmente entendi que ele não estava sendo hipócrita – embora talvez tivesse forçado a barra, sim. Então veio sua história terrível de infância e aí tudo fez sentido. O aperto de mão foi repetido, do outro lado, e eu tive certeza que estava diante de um dos melhores episódios de anime produzidos nesse ano inteiro. Esse anime tem recursos reduzidíssimos e a história que adapta não é das melhores, é mais confusa do que realmente boa, ainda que tenha muita coisa interessante, mas o diretor do anime é alguém para ficarmos de olho em futuras obras. Pelo menos o diretor desse episódio (não sei se foi diferente do diretor do anime, depois vou verificar).

      Os antárticos com certeza estão envolvidos com a tribo dos anfibianos. Não sei se estão estimulando a guerra diretamente, mas os estão dotando de recursos para realizá-la, caso desejem. O povo-cobra é o elemento mais incompreensível do anime, e é uma pena que ele está para acabar sem termos sequer um vislumbre do grande quadro que é os planos que eles têm para o resto do mundo.

      E foi para ler essa aula de história – e para que ela esteja aqui disponível para os leitores do blog – que eu pedi que comentasse! Muito obrigado =D

      Sobre o campo de concentração, tenho certeza que o estúdio suavizou. Tanto para diminuir o custo de animação quanto para não produzir um conteúdo demasiadamente pesado para a TV em comparação com o resto do anime. Mas acho que mesmo assim conseguiu ser feliz em transmitir o desespero e a desumanidade – tanto dos alemães quanto dos prisioneiros que se voltavam uns contra os outros. Em naufrágios muitas pessoas se afogam porque outras as usam como boia, empurrando-as para o fundo da água. É parte de nossa trágica e egoísta condição humana. Acho que isso serve como um complemento ao que o prisioneiro demônio disse – no fundo, sempre vamos nos machucar. Se não tivermos motivo para isso, arranjaremos algum. Nesse sentido foi muito triste sim ver o centauro morrer, mas foi muito caloroso ver o garoto não apenas sobreviver, como ganhar uma família feliz, ser bem criado e ter sucesso na vida – e se tornar uma boa pessoa em parte por causa da terrível experiência que viveu.

      Sobre Gen Pés Descalços, acredite: o pior nem é a bomba atômica. Assim como o pior em Túmulo dos Vagalumes não são os bombardeios incendiários. Pelo menos Gen é no geral mais positivo, já que o protagonista sobrevive (é semi-autobiográfico, afinal), enquanto Túmulo é de fazer se trancar no quarto e chorar até dormir.

      Muitíssimo obrigado pela visita e pelo excelente comentário! =) Desculpe a demora em responder, mas ainda ando ocupado com várias coisas, inclusive do blog, sabe como é!

      • O filme do Túmulo dos Vagalumes, não é para qualquer um. Mesmo eu, que estou acostumado a ver documentários sobre a Segunda Guerra Mundial e todas as atrocidades cometidas durante a mesma, me emocionei várias vezes, durante esse filme. O filme de o Túmulo dos Vagalumes engana um pouco, ele supostamente era para maiores de 13 anos, mas o estúdio Ghibli e o director Isao Takahata, não tiveram pudores, em mostrar a crua realidade da guerra e as consequência da mesma na vida das pessoas. Custa-me um pouco, ver aqueles críticos de meia tigela da internet, que dizem mal deste filme, onde a desculpa maior, é o uso de crianças para causar comoção no público. No filme como se bem se vê, a maioria dos homens estavam na guerra e as mulheres muitas morreram nos bombardeios, como o protagonista do filme e a sua irmã iriam estar acompanhados por algum adulto (em certa parte do filme, até estão, mas esses adultos eram uns interesseiros).
        Um dia verei os dois filmes de Gen Pés Descalços, quando estiver bem preparado emocionalmente.
        Pelo que vi, este episódio de Centaur, foi mesmo o único episódio sério e bem feito (os que se seguiram, usaram a receita de sempre, o que é triste). Este episódio, mesmo feito com animação chinesa (o estúdio de Centaur é o Haoliners, certo?), cumpriu bem o que queria mostrar. Vou guardar este episódio na minha memória.
        Eu é que agradeço o teu convite para eu comentar este excelente episódio (tive muito gosto em escrever, o meu comentário, neste blog até agora).
        Sem, problema, eu sei que tens uma vida muito atribulada (boa sorte na construção do novo guia da próxima temporada).

      • Fábio "Mexicano" Godoy

        Túmulo dos Vagalumes é uma história que precisa ser contada. A danem-se os críticos. O então editor da poderosa Shounen Jump disse isso sobre Gen Pés Descalços, inclusive. Um mangá que não fazia muito sucesso na revista, mas ele manteve-o na revista até o fim: era uma história que precisava ser contada. Esse nono episódio de Centaur no Nayami é quase um anime à parte, e outra história daquelas que precisam ser contadas.

        Não reclamo do nível do resto do anime, estou me divertindo bastante, mas esse episódio foi mais do que especial.

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