Violet Evergarden – ep 2 e 3 – A primeira carta
Bom dia!
Eu quase me esqueci que ainda não havia escrito sobre o segundo episódio de Violet Evergarden. Essa fase de começo de temporada é sempre confusa desse jeito. Para complicar, esse é um anime episódico, e as histórias do segundo e do terceiro episódios são largamente distintas. Mas há uma continuidade cronológica e tento tirar proveito disso. Vamos lá!
A essa altura já dá para imaginar qual será a estrutura padrão dos episódios desse anime: um cliente pede para a Violet escrever uma carta e enquanto tenta decifrar os sentimentos dele a protagonista descobre um pouco mais sobre os seus próprios. As histórias são episódicas, fechadas, mas o desenvolvimento da Violet é contínuo. Isso ainda não começou, mas já quase meio que foi assim, não é? No terceiro episódio, eu digo.
A Violet tentou escrever uma carta para uma cliente no segundo episódio mas o resultado foi um fracasso retumbante. Não é o caso da Violet ser uma pessoa com defeito, ou não ter sentimentos (dá para ver no rosto dela o quanto ela tem sentimentos e o quanto não entender isso é doloroso para ela), ou com alguma deficiência mental ou trauma ou coisa que o valha. Bom, ela possivelmente tem Transtorno de Estresse Pós-Traumático, como é comum que soldados tenham, mas não é por isso que ela tem dificuldade em compreender sentimentos. A pista para o que acontece com a Violet está em sua profissão de ghostwriter: a linguagem.
O Determinismo Linguístico, a ideia de que o pensamento deriva da linguagem (e, portanto, é limitado por ela), oferece uma explicação para o comportamento da Violet (fun fact: versões reformadas ou mais “leves” da teoria, que postulam apenas influência, e não limitação, costumam ser chamadas de “Relativismo Linguístico“; a ideia geral é bem parecida, mas os termos usados fazem parecer que são hipóteses antagônicas – ah, a linguagem!). Se nosso pensamento é moldado por nossa linguagem, e se a única linguagem que a Violet aprendeu foi a militar, que prescinde de emoções, incertezas e floreios, então é óbvio que a garota não vai conseguir entender sentimentos – isso está fora do vocabulário, e portanto do conjunto de conceitos, que a linguagem dela é capaz de descrever. É a mesma ideia da teoria que diz que, em tempos remotos, a humanidade não sabia identificar a cor azul porque não tinha uma palavra para ela.
A Violet não entende sentimentos porque a linguagem que aprendeu não tinha “palavras” para descrevê-los. Claro que isso é um exagero, soldados em campo de batalha certamente estão carregados de sentimentos e os transbordam o tempo todo, e usar esses sentimentos a seu favor é parte importante do trabalho dos comandantes militares, mas esse é o detalhe fundamental que Violet Evergarden pede para que ignoremos e apenas “sigamos com o jogo”. No episódio 2 a Violet não entendeu uma vírgula dos sentimentos que a mulher narrou para ela, porque oblíquos demais, e se concentrou no que ela entendeu. O resultado foi catastrófico.
No terceiro episódio ela foi para uma escola para ghostwriters, mas em todos os aspectos técnicos ela já era a melhor da turma – só precisava aprender mesmo a traduzir sentimentos. Mas isso, pelos motivos acima descritos, era muito mais difícil para ela do que para todas as suas colegas de classe. Violet está efetivamente aprendendo uma nova linguagem. Não foi à toa que ela tenha conseguido finalmente escrever sua primeira carta de sucesso quando lidou com o caso de um ex-soldado.
Ela não entende sentimentos muito bem, mas ela entende as circunstâncias e as expectativas de um soldado. É claro que a Luculia ama seu irmão, mas de amor a Violet ainda não entende. Contudo, ela entende o que é se sentir necessário. A sua carta foi o bastante para que Spencer se sentisse necessário, ou em outras palavras, querido, bem-vindo, pela irmã. Sim, ele não pôde salvar seus pais. Ele voltou da guerra com essa culpa e com uma perna amputada. Ele se tornou um bêbado, desempregado que só arranja briga fora de casa e dá trabalho para a irmã. Mesmo assim, Luculia é grata por ter ele ao seu lado. E Violet deu seu pequeno passo de formiga para aprender o significado de “Eu te amo”.