Bom dia!

Esse foi o melhor episódio do anime até aqui? Na minha opinião, foi sim! Meus argumentos você pode ler a seguir, mas gostaria de comentar como, em se tratando de anime para TV, isso é muito positivo. Os produtores japoneses em geral estão cientes da famigerada “regra dos três episódios” que parte do público segue, e isso leva a existência da “maldição do quarto episódio”, pela qual normalmente os animes diminuem de qualidade – às vezes de forma dramática – em seu quarto episódio. Meus motivos para achar que esse foi o melhor episódio de Mahou Shoujo Site dentre os quatro até então têm muito mais a ver com o roteiro e a direção, mas a arte também continua impecável.

Claro que tudo sempre pode piorar no próximo episódio, mas esse é um dos poucos animes da temporada que não me decepcionou em nada até agora.

Claramente, esse foi um episódio de transição. Nada poderia indicar isso de forma mais indisputável do que o contraste entre o bom humor e a esperança da Aya (sentimentos que talvez há anos ela não sentisse) e o colapso da Tsuyuno – bem como a revelação de seu lado sinistro. Acrescente a Sarina se tornar uma garota mágica, e mais do que isso, a nova Magical Hunter, por pedido do próprio Administrador, e a Nijimin pausar sua carreira de idol para caçar a Rina – que é a única das garotas mágicas que terminou o episódio exatamente do jeito que começou. O que para ela é bem ruim, que se note.

Valeu a pena, Tsuyuno?

Tudo isso bem orquestrado ao longo do episódio. Esse é o primeiro trabalho de Tadahito Matsubayashi como diretor de anime para TV, e ele está impressionando. Antes disso só havia dirigido o especial Tokyo Ghoul: Pinto, além de ter vários trabalhos como diretor de animação e de episódio. A forma como as cenas são orquestradas, os storyboards, é tudo meticulosamente planejado para amplificar a sensação de desespero que a situação significa para a Aya em particular, e para todas as garotas mágicas em geral, além de manter o mistério elevado sem se tornar irritante por parecer que está escondendo informações da audiência de propósito e de forma artificial.

A movimentação do Administrador ficou incrível, passa a sensação de “criatura de outro mundo” perfeitamente

E todo esse apuro técnico a serviço de entregar uma boa história, que é multifacetada e caótica como a movimentação dos diversos personagens e a própria construção das cenas, só revelando exatamente sobre o que se trata na hora certa. E esse episódio foi a hora certa. É como se várias peças de um quebra-cabeças tivessem finalmente se encaixado e só agora fosse possível enxergar a imagem e compreendê-la. A história, ao menos até aqui, é sobre a tragédia pessoal da Aya, e sobre como ela ao mesmo tempo é apenas muito azarada por estar sempre no lugar errado, na hora errada, e como todos esses lugares errados e horas erradas são na verdade sistêmicas. Muitas pessoas podem estar sofrendo o que a Aya está sofrendo, ou se ela não sofresse, outros sofreriam em seu lugar. O mundo é um lugar ruim, e a soma de todas as pessoas, por suas ações e omissões, é o que o torna ruim.

O primeiro episódio havia deixado a impressão que o professor da sala da Aya é uma má pessoa. Bom, ele é, mas não da forma como pareceu antes. Não é que ele faça o mal para seus alunos. Ele sinceramente acredita que está fazendo o melhor, eu aposto nisso. O prego que se destaca é martelado, e uma aluna como a Aya, na sociedade japonesa, precisa mudar por conta própria. Nesse episódio ele nota como ela melhorou e fica sinceramente contente pela garota. Mas a escola não é o começo do inferno na vida dela, isso vem de bem antes, de sua casa.

O pai da Aya se projeta no irmão mais novo da garota, e quer que ele seja um excelente aluno para, provavelmente, ter uma posição na vida adulta melhor do que ele próprio jamais conseguiu. É uma típica família de classe média japonesa, o pai deve ser um assalariado de escritório e está, acredita, moldando o filho para ser um executivo ou coisa que o valha. Melhores notas, melhores faculdades, melhores empregos. Se a pressão fosse só psicológica já seria ruim, mas é pior do que isso. O pai espanca Kaname, e a mãe não faz o suficiente para proteger o filho. Toda a dor e frustração do garoto se transformam em raiva e agressividade, e ele encontra na irmã mais nova a válvula de escape que ele sente que precisa. Não me entenda mal, ele é um monstro e o fato de ter uma razão para ter se tornado um não diminui em nada sua culpa. Mas é importante entender como alguns monstros se criam.

Kaname é um monstro. Mas vindo de uma família assim isso infelizmente não é inesperado

Vítima de violência doméstica, Aya reage de forma diferente do irmão. A Tsuyuno já disse isso, mas a Aya é impossivelmente bondosa. Ela sofre, sente medo e dor, mas em nenhum momento isso se transforma em raiva e violência, ao contrário de Kaname. Mas o mundo real está cheio de gente ruim e nenhuma boa ação passará impune. Aya desenvolve ansiedade social extrema, e ao combinar isso com a atitude blasé de todos os seus professores, que não se limitam a não ajudá-la mas a colocam constantemente em situações angustiantes (e é provável que achem que assim a estão “ajudando” a “superar” qualquer coisa, isso quando não estão apenas exercendo seu mesquinho pequeno poder, claro), a garota se torna presa preferencial de valentões na escola. E ela tem uma bastante sádica e violenta em sua sala: Sarina.

É possível que, tivesse agradecido a valentona naquela ocasião fatídica, ela não tivesse se tornado vítima de bullying. Não naquele momento. Mas é provável que cedo ou tarde isso acontecesse de qualquer jeito. Ou isso, ou ela reagiria mal, se tornando mais uma pessoa ruim, outra capanga da Sarina. É assim que o bullying se reproduz e se pereniza. Por tudo isso junto e combinado, a Aya era uma vítima perfeita. Mas ela não é a única.

Aya estava condenada. A pergunta não era como, mas sim quando

Todas as demais garotas mágicas têm seus próprios problemas. Não se sabe ainda quase nada da história da Nijimin, da Sarina ou da Rina, e o que se sabe da Tsuyuno é muito menos complexo (e muito mais traumatizante) do que o caso da Aya. Mas todas elas – exceto a protagonista! – estão nessa pela vingança. Tsuyuno sadicamente mantém vivo e sofrendo o assassino de sua família. Sarina quer se vingar de Aya e Tsuyuno, e Nijimin quer se vingar da Rina – de quem não sabe-se nada ainda, mas é certo que não tomou lá decisões muito boas.

Essa combinação pode causar muito problema

É notável que na sociedade conforme vista em Mahou Shoujo Site todos descarregam suas frustrações em outros, mais fracos do que eles, incapazes que são de se vingar diretamente de quem os violenta física ou psicologicamente. E as garotas mágicas não são diferentes, apenas tem o poder de se vingar com muito prejuízo. Com mais poder, as pessoas se tornam ainda piores. De um jeito ou de outro, todos estão apenas reproduzindo um ciclo degradante de violência. Exceto a Aya. Por enquanto.

Não é como se Aya fosse um anjo altruísta também, ela apenas desenvolveu outra forma de lidar: ela se culpa por tudo o que lhe acontece

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