Legend of the Galactic Heroes: Die Neue These – ep 11 – Uma investida esquizofrênica
Como dizem as mais fervorosas regras de etiqueta, “Não entre na casa de alguém sem um presente.” É claro que a Aliança adentrou no território do Império sem ser convidada, mas foi muito imprudente ao não considerar a possibilidade de um vazamento de informações, o qual daria tempo e condições para a construção de um plano bem elaborado para desmantelar a ofensiva inimiga, mesmo que as custas do sofrimento do próprio povo. Aliás, se eles são tiranos opressores, por que hesitariam em usar as massas para obter a vitória? A investida esquizofrênica da Aliança caminha a beira da morte!
Confesso que ri quando percebi o que o império estava tentando fazer ao usar o povo para forçar um aumento da necessidade de provisões, o que além de mais gastos, traria colapso ao abastecimento da Aliança e também proporcionaria melhores condições para um previsto contra-ataque. E não só isso, mas, se você recebe alguém de fora que promete te ajudar, mas não te dá condições dignas de se manter, por que trocaria isso por quem já te mantinha mesmo que as condições não fossem boas?
Uma investida militar com cunho ideológico, cuja execução prática não sustenta o que prega é um tremendo tiro no pé na abordagem mais coloquial da frase, pois não só você demonstra ineficiência para guerrear, como não passa nenhuma segurança em seu discurso, sendo exatamente isso o que a Aliança fez ao se meter no território do inimigo achando que ele aceitaria uma invasão sem fazer nada, ou se achava que poderiam haver represarias, não se preparou para o pior dos casos. Em uma guerra, quem não prevê os passos inimigos ou não toma o dobro de cautela está fadado a derrota!
O que acho mais engraçado disso tudo é que a Aliança defende a bandeira da democracia e liberdade para todos, mas não levou em conta no seu plano as variáveis imprevisíveis que dizem respeito justo a esses dois pontos. Não é possível mudar um regime político de uma hora para outra, para isso se faz necessário tempo de adaptação e outras condições propícias, como, por exemplo, uma melhoria nos recursos – não sua precária manutenção ou seu decréscimo. De que adianta ser livre e morrer de fome? De que adianta a igualdade de direitos se a miséria não te dá a chance de compartilhar nada?
Foi muita imbecilidade, ou uma sabotagem minunciosamente elaborada, a investida não levar esses e tantos outros fatores em consideração. Tanto que a brilhante estratégia do Reinhardt perdeu até um pouco do seu brilho, porque o inimigo foi burro demais para ver um palmo do que estava a sua frente e oferecer resistência a armadilha. O único que ali demonstrava capacidade de antever e até anular os passos inimigos, Yang Wen-li, teve as mãos atadas e o máximo que pôde fazer foi pedir a necessária retirada, que, pelo jeito como foi barrada, escancara a sabotagem interna no comando.
Vou estranhar muito se o Comodoro Falk não estiver trabalhando para o Adrian ou não for um lacaio do Império, porque só assim para justificar tamanha escrotice ao bolar um plano e sua insistência em mantê-lo mesmo quando a derrota é iminente. Sua convulsão não engana ninguém e o Comandante Supremo estar desacordado tornou tudo ainda mais estranho – piorando de vez o que já estava ruim.
Não, não quero dizer que o roteiro desse episódio foi ruim. Pelo contrário, as atitudes da Aliança que foram horríveis em sua maioria, o que é interessante porque foi o lado mais explorado desde o início do anime e que defende o que é via de regra em praticamente todas as nações do planeta, tornando a “sólida democracia” que deveria ser por nós admirada, algo hipócrita e condenável, o que não quer dizer que eu torça pelo Império. Não é bem por aí, mas com certeza em (quase) nada apoio a Aliança.
Acho essa uma sacada muito boa, a de tornar o lado pelo qual seria mais fácil de criar empatia o mais aversivo, fazendo com que o público ou tenha que torcer pelo Império ou se desprenda de vez dessa noção de que um lado tem que estar certo para o outro estar errado – se afeiçoando muito mais aos personagens de ambos os lados e as tramas deles. Acredito que o segundo caso seja exatamente o desejado e que a obra é bem-sucedida em fazer o público torcer pelo Yang, não pela Aliança; assim como torcer pelo Reinhardt – e até pelo próprio Kircheis –, não pelo Império. Os dois lados existirem e guerrearem é importante, mas o mais importante é como isso afeta os personagens dessa história.
No final das contas, a história está ótima e a forma como a trama se desenvolve é muito consistente, sempre deixando algo de interessante a ser questionado sobre a guerra. Como, por exemplo, qual é exatamente o jogo de interesses que há por trás de tudo? Para quem esse Comodoro Falk trabalha? E aquela parlamentar, está associada a ele? Essas e outras coisas precisam ser respondidas para que o anime termine bem ou, se não isso, para que se desenvolva bem – podem explorar isso nos filmes.
O problema – ou seria solução? – é que a Aliança tem Yang Wen-li ao seu lado e ele, como fantástico estrategista que é, deve pensar em algo para aliviar um pouco o peso da derrota praticamente certa. Além disso, por ter sido mais explorado e ter se mostrado um personagem tanto interessante quanto cativante, fica difícil não torcer por ele, afinal, o que ele deseja – o fim da guerra – é algo pelo qual o telespectador costuma torcer – me incluo nisso. Nesse episódio ele pouco apareceu e pouco fez, mas é bem óbvio que terá grande participação no próximo e deve se chocar mais uma vez com Reinhardt, pois o anime acaba semana que vem. Estão ansiosos? Eu espero outro episódio como foi o primeiro, um duelo de gênios que explore bem a personalidade de ambos com as estratégias que eles criarem.