O episódio 12 é concentrado em Kaos-chan e em seu bloqueio criativo para dar sequência a Comic Girls. Com a boa recepção à primeira parte, a solicitação de sua continuação deixa a menina em pânico. Falar em Kaos, é falar em ansiedade crônica. Um tipo de personagem complexo (em seus nuances, em sua correspondência com o público) que necessita da empatia dos telespectadores. Em ficção, identificação e projeção em relação às personagens fazem parte da equação. Caso não haja o mínimo de interesse por aquelas vidas retratadas, é complicado o embarque satisfatório em seu enredo. O autodesprezo e o humor autodepreciativo de Kaos são as suas marcas, com a tensão e a pressão que as atinge. Em Kaos, há muito dos receios de um artista, de quem não é um astro natural ou um competente artesão, um talento em sua essência ou a soma de todos os esforços e sacrifícios. Kaos carrega um pouco de cada um que admira o palco, mas teme os holofotes, que precisa superar suas dúvidas, entraves e fragilidades (na verdade, é sempre acompanhado por elas).

No início do episódio, temos as mangakás se despedindo do dormitório Bunhousha, que, em realidade, passará por uma reforma e será reaberto no próximo semestre. Esse momento encontra Kaos em crise para a continuação de seu primeiro manuscrito publicado e elogiado. Não é apenas o peso de emular o pequeno sucesso conquistado, para Kaos, é uma provação de suas habilidades. Mas ela se entrega à angústia diante de seu notebook. No dormitório, permanece somente a zeladora Ririka, não como obrigação, mas por apoiar e respeitar os sentimentos das autoras que estão sob os seus cuidados. Ririka incentiva a garota, chega a expressar um tipo de ternura típico de uma mãe.

O fechamento do dormitório (para o seu renascimento): Kaospiral de emoções.

Falando em mãe, a própria genitora de Kaos-chan surge durante o período mais intenso de seu bloqueio criativo, em que a solidão e a rejeição já adiaram suficientemente a investida final para conseguir entregar no prazo os desenhos. A presença dela mostrando fotos da bebê Kaoruko tem uma dupla função: a do acolhimento. Alguém que deixa claro que retornar para casa não é demérito. E a da recordação e afirmação de quem testemunhou o quanto à filha dedicou-se àquele propósito e que, no fundo, desistir não é uma opção. Nunca foi! Essa emocionante passagem ainda coloca em posições contrárias os sentimentos de Tsubasa a respeito de sua família, que exige que ela se mantenha distante dos mangás (como meio de vida seria uma afronta descomunal) e o carinho e a manifestação de orgulho que Kaos recebe daquela que a carregou no ventre. A mulher chega a comprar a revista em que Kaos foi publicada para distribuir em sua confeitaria. Assinala-se, aqui, que fica menos tortuoso alcançar o êxito em companhia.

Suzu Fuura, de poucos e excelentes momentos. O terrir em prazerosas doses.

Ainda que a energia transmitida pela sua mãe e pela zeladora tenha dado impulso à garota e mostrarem-se um alento em um mar de confusão, Kaos continua refém de sua falta de confiança. Sem a ajuda de suas talentosas parceiras (o primeiro manuscrito recebeu a colaboração delas com planos de fundo e retoque nas personagens), Kaos permanece em sua espiral de emoções cruzadas que invariavelmente a levam ao esgotamento nervoso.

Adeus, adoráveis e talentosas mangakás!

Ao receber uma mensagem de Koyume e Tsubasa, e ficar sabendo que todas compraram a revista com a primeira parte de sua série limitada, Kaos reconhece a generosidade e a fé que elas têm em seu trabalho. É o impulso final para que concentrasse suas forças no término do manuscrito. Kaos usou suas experiências e memórias na história que se tornou Comic Girls. Então, ao receber o calor novamente emanado pelas amigas, ela consegue finalizar sua tarefa, liberar sua arte.

O último episódio lança Kaos em sua ansiedade e vulnerabilidade, em um momento agudo de sua caminhada rumo ao seu principal objetivo, o de ser uma mangaká. Sem a dinâmica entre as garotas do dormitório, principal qualidade do anime, temos Kaos indo ao limite, para, então, encontrar uma luz e seguir conforme a sua própria vontade. Todo o estímulo que Koyume, Ruki e Tsubasa sempre foram capazes de oferecer a Kaos, movem-na e mostram que ela tem consciência que é possível a partir de um mínimo de autoconfiança dar conta de seus temores. Um passo gigantesco para alguém com um seríssimo problema de autoestima.

O drama de Kaos: o vazio, a solidão, a pressão e o bloqueio criativo. O último esforço para a glória.

O novo semestre chega e é hora de se reunirem no novo dormitório (com Ririka mantida como zeladora). Kaos ainda tem que lidar com a rejeição de seus manuscritos pós-primeiras publicações. Uma serialização é um sonho distante. Mas esse fato mantém Kaos em seu trilho de introspecção e luta. Agora sabe que confiar em suas habilidades e agir sem medo do fracasso são formas de controlar sua ansiedade. O questionamento da mãe da garota a respeito de desenhar mangá ter deixado de ser divertido e se tornado um peso faz sentido. É preciso sofrer para criar, mas também sorrir. E é isso que Kaos tem ao lado de Koyume, Ruki e Tsubasa: suporte emocional e diversão.

O tocante momento mãe e filha. “Nenhum ser humano é uma ilha”.

Um final não tão afiado em seu humor, no entanto, pungente a respeito de como a solidão e a pressão podem afetar alguém com variados desconfortos psíquicos e comovente em sua apresentação da amizade. Mas não de uma simples amizade, mas aquela que somente o fato de existir já é um motivo para se sentir confortável e em segurança.

Apesar das lágrimas constantes e situações em que o desespero conduziu Kaoruko a sua espiral de tensões, motivos válidos para ser indiferente ou desprezar sua dor (do ponto de vista da audiência), há que se considerar que uma jovem longe de casa, em um lugar novo, que necessita confirmar a aposta que fizeram nela ao credenciá-la a um espaço entre talentos de todo o país em busca do sonho de ser mangaká, que abre mão de sua zona de conforto e precisa interagir com desconhecidas, mesmo sofrendo de ansiedade social e autodepreciação, merece empatia por encarar esses desafios.

Entre lágrimas e sorrisos. A expressão de quem sente no corpo e na alma o significado da palavra amizade.

Um ótimo final para um anime de “meninas fofas” que soube lidar com suas pretensões, principalmente no que tange à inspiração de ter o 4-koma como referencial para a animação e um texto que procurou destacar os percursos na busca pela autoconfiança e como o sentimento de encorajamento daqueles que têm fé em nosso talento é combustível para  enfrentar o medo, que, diga-se de passagem, não é completamente dissipado de nossas vidas, mas passa a servir como impulso para nos compreendermos e testar nossos limites.

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