Bom dia!

O anime de “garotinhas sofrendo” da temporada acabou! Na próxima tem outro. Não serão garotas mágicas, mas acho que não vai faltar terror por causa disso. Na verdade, pode ser até mais aterrorizante, não é?

Mas isso é temporada que vem. Agora é hora de lidar com esse último episódio de Mahou Shoujo Site. Achou bastante terrível? Normal para o anime até agora? Acima do nível? Abaixo? Continue lendo para saber o que eu achei.

Em termos meramente formais, esse episódio se destaca do resto da série. Vimos lugares novos (aquele lugar maluco todo branco com um olho gigante de lavagem cerebral), um tipo de batalha nova (a Tsuyuno andando pela parede e perseguindo a Aya quase como se fosse um vilão de filme slasher com certeza foi diferente), e… poderes novos? O que foi que a Aya fez para salvar a Tsuyuno mesmo? Bom, não importa tanto o que aconteceu de fato. Aliás, essa é a diferença fundamental desse episódio final para o resto da série: não importa o quê, tudo o que aconteceu no resto do anime foi real (dentro do mundo do anime, claro). Nesse episódio tanto os Administradores no começo quanto a Aya no final nos transportaram para um mundo surreal. Não dá para saber o que aconteceu de verdade, mas sabemos quais foram os seus efeitos e, mais importante, quais os seus significados.

As Administradoras definitivamente são mais legais quando parecem saídas de um filme de terror

Se o primeiro episódio do anime chocou com seu excesso de violência, esse episódio final tentou encerrar com uma mensagem de esperança. No começo, a Aya era oprimida pelas forças do mundo, e mesmo se transformar em garota mágica não mudou muito isso. Ao longo da série ela aprendeu, às vezes na marra, a tomar o controle de seu destino, e nesse episódio derradeiro ela foi além do que deveria ser capaz de ir, superando todas as suas limitações e quebrando as correntes que a prendiam (a abertura desse anime é maravilhosa, espero que você não seja do tipo que pula aberturas). A Aya transcendeu, ainda que tenha sido apenas por um momento, apenas para salvar sua melhor amiga.

Ou será mais do que amiga? Bom, o anime não diz nem deixa de dizer, mas a possibilidade de que a Aya tenha se apaixonado, no sentido romântico mesmo, pela Tsuyuno, é bastante real. Ela a conheceu em uma situação típica de casos de Efeito Ponte Suspensa, afinal. Já viu isso citado em animes, não? É a ideia (aparentemente amparada por pesquisas) de que sob situações de estresse, ansiedade ou medo uma pessoa está mais sujeita a se apaixonar. O nome técnico e bem menos legal disso é Atribuição Incorreta de Excitação, e não se limita apenas à paixão, mas em anime aparece com muita frequência nesse contexto. Lembra como a Aya conheceu a Tsuyuno? Ela estava encurralada pela Sarina no banheiro, que estava a ponto de fazer-lhe um corte horrível na bochecha com um estilete. A Tsuyuno não só apareceu naquele exato instante como a salvou. Depois de tudo dito e feito, continuou na vida da protagonista, e se aproximaram cada vez mais. Não acho exagero especular que ali, naquele momento, a Aya se apaixonou, ainda que talvez tenha demorado bem mais para entender isso. Já a Tsuyuno, na minha hipótese, se apaixonou pela Aya de forma mais convencional mesmo, aos poucos, percebendo cada característica positiva da amiga e se afeiçoando a ela.

Aya divide sua vida, divide seu amor, com Tsuyuno

Não que isso faça muita diferença. Seja amor, seja uma amizade excepcional, Mahou Shoujo Site não esconde que o sentimento entre as duas é muito forte. Pelo contrário, o anime se esforça para destacar isso em vários momentos. E agora essa pessoa especial havia perdido suas memórias, sua cor, e estava tentando matar a Aya para se transformar justamente naquilo que elas estavam combatendo. Fosse qualquer outra garota mágica talvez a protagonista tivesse apenas fugido e avisado as demais. A última vez que ela tentou proteger um ente querido (seu irmão, apesar de tudo) resultou em retumbante catástrofe, afinal. Mas era a Tsuyuno. A Aya poderia ter deixado a Rina morrer no episódio anterior. Poderia se lamentar pela morte da Sarina, caso o pior acontecesse. Mas era a Tsuyuno.

Antes da Tsuyuno, a vida da Aya era apenas desespero. E quanto mais ela apenas aceitava seu destino terrível, pior ele ficava. Seu irmão batia mais nela quanto mais ela aguentasse. As valentonas da escola mataram o gato de quem ela cuidava. Chamaram um bandido para estuprá-la. Iam fazer um corte profundo em seu rosto. Ela queria morrer. Se não a matassem antes, provavelmente não faltava muito para que ela se suicidasse. Talvez no começo do próximo período escolar, quando as taxas de suicídio no Japão aumentam? Mas foi precisamente porque ela era assim tão desgraçada que ela pôde conhecer a Tsuyuno.

Esse foi o sentido dela ter se negado a entregar seu “infortúnio” para as Administradoras, junto com a Tsuyuno. Que, ela também, antes de conhecer a Aya, não tinha nenhuma perspectiva positiva para a vida. Tudo o que ela queria era viver o máximo possível para aproveitar cada dia torturando o homem que matou sua família. Um sentimento negativo, violento, sórdido, criminoso, era a única coisa que a mantinha de pé. A Aya mudou isso. E ela também só pôde conhecer a Aya porque foi até o inferno e voltou. Ou melhor, voltaram: foi no momento mais escuro de suas vidas que elas se conheceram, e de lá uma ajudou a outra a levantar a cabeça e enxergar uma luz débil, quase se apagando, à distância. Uma luz tão longe e tão fraca que se estivessem sozinhas não teriam forças para chegar até ela de todo modo. Mas juntas, elas deram as mãos e andaram na direção da esperança.

No final, Aya salvou Tsuyuno mais uma vez. Depois de ter sido salva por ela no episódio anterior, não se esqueça. Uma não vai cansar de salvar a outra tão cedo, se é que irá se cansar algum dia. A última provação delas foi derrotarem juntas o mal absoluto que tentava separá-las, embora fosse contraditoriamente o que as havia unido em primeiro lugar. E por isso Aya e Tsuyuno são tão perigosas para as Administradoras: não porque são especialmente fortes, mas porque são especialmente subversivas. Elas descobriram a verdade, conheceram o sofrimento humano, mas ao invés de tentar eliminá-lo, como quer o Rei, como é o objetivo das Administradoras, entenderam que o sofrimento faz parte da vida. Na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, até que a morte as separe.

“A nossa cama, Yatsumura-san”

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