Bom dia!

Começa a sexta-temporada do Café com Anime! O mesa redonda virtual na qual eu, o Diego (É Só Um Desenho), o Gato de Ulthar (Dissidência Pop) e o Vinicius Marino (Finisgeekis) conversamos sobre alguns animes que estamos assistindo juntos.

Cada um publica em seu blog sobre um anime diferente, e nessa temporada nos dividimos assim:

Dororo no É Só Um Desenho

Kouya no Kotobuki Hikoutai no Dissidência Pop

The Promised Neverland no Finisgeekis, e

Magical Girl Spec-Ops Asuka aqui no Anime21!

Leia a seguir nosso bate-papo inaugural sobre os episódios 1 e 2:

 

Fábio "Mexicano":
Bem-vindos!

Obrigado ao Diego, Gato e Vinicius por estarem aqui comigo mais uma temporada, obrigado aos nossos leitores. Aquele outubro de 2017 em que começamos esse projeto já parece bem distante agora, não é?

O anime da temporada no Anime21 será Magical Girl Spec-Ops Asuka, ou Mahou Shoujo Tokushusen Asuka, se preferir o nome em japonês.

Não é a primeira vez que cobrimos garotas mágicas. Logo na primeira temporada do Café com Anime o Gato cobriu Mahou Tsukai no Yome, no Dissidência Pop. Em janeiro passado, foi a vez do Vinicius cobrir no Finisgeekis uma nova série de um clássico do gênero: Cardcaptor Sakura: Clear Card. E em abril o Gato cobriu mais um: Mahou Shoujo Site. Se quiserem, até o Irozuku que o Vinicius cobriu temporada passada é “garota mágica”. Então acho que estamos bastante confortáveis com o gênero.

Asuka, porém, é um dark mahou shoujo, e assim, de todos esses, guardaria mais semelhança com Mahou Shoujo Site do que com qualquer outro. E usei o futuro do pretérito porque acho que consigo listar muitas diferenças entre as duas séries, mas poucas semelhanças além do subgênero. Alguém se arrisca?

Enfim, o que acharam do episódio de estreia de Magical Girl Spec-Ops Asuka, cuja protagonista é uma veterana de guerra traumatizada que salvou a Terra de uma invasão inter-dimensional há 3 anos mas em compensação perdeu quase tudo?

Vinícius Marino:
Uma estreia com mais problemas do que consigo contar nos dedos, mas que me deixou fissurado mais do que qualquer outra. Não vejo a hora de acompanhar aonde essa história vai nos levar. Acho que isso significa que gostei. Para caramba. 😀

Mahou shoujos, na minha experiência, variam muito dependendo do tipo de garota que tomam de protagonista. A fórmula “clássica”, exemplificada por Sakura e outros, fala de meninas relativamente felizes, lidando com as angústias da adolescência e aprendendo lições sobre virtude humana (“Pelo poder do amor…etc”).

Mahou Shoujo Site nos fala de garotas destruídas, abusadas, marginalizadas. E como o poder mágico, nas mãos de alguém assim, pode exacerbar os piores vícios humanos – assim como o “poder da amizade” e a esperança podem inibi-los.

De Asuka eu realmente não sei o que dizer. Essas veteranas de guerra não parecem garotas mágicas tradicionais. Têm mais em comum, à primeira vista, com os anti-heróis problemáticos da ficção hardboiled.

Estou curioso para saber o que sairá disso.

Gato de Ulthar:
Gostei bastante desta estreia também, sempre fico eufórico com esse tipo de mahou shoujo. É prazeroso ver garotas tendo seu psicológico destruído e arruinado muahahahahahahahaha!
Fábio "Mexicano":
Que horror 😮
Gato de Ulthar:
Mas falando da estreia em si e deixando meus desvarios psicóticos de lado, sabe o que me pareceu a historia de vida da Asuka? Parece aqueles “plots” de filmes de ação dos anos 1980/1990, onde o protagonista é um ex-soldado, ex-assassino, ou seja lá o que for e tenta levar uma vida normal, mas nunca consegue, pois o seu passado sempre retorna para assombrá-lo e tem que voltar à ativa. Por isso o anime está mais para um drama militar do que um “mahou shoujo” clássico, mas isso não é um demérito, dá uma abordagem diferente ao gênero.

Gostei do visual um tanto retrô, bem como das cenas de ação, é interessante começar um anime onde a protagonista já é uma “badass”, principalmente quando se trata de um mahou shoujo. Todo o grupo das principais, as quais foram as sobreviventes da guerra passada, são bastante experimentadas. Foi curioso ver uma garota mágica participando de operações contra o crime-organizado.

Acho que um dos principais desafios de Asuka será lidar com esse desejo de voltar a ter uma vida normal e não conseguir.

Diego:
Concordo com praticamente tudo que o Gato disse (er, menos a parte psicótica 😛). Foi uma premissa bem interessante, essa mescla de garota mágica com uma história militar dos anos 1980. A única coisa que me incomodou foi a vilã apresentada ser um par de peitos enormes. Me soou um pouco caricato demais para o clima que o anime construiu até aqui.
Fábio "Mexicano":
Vamos viajar na maionese, pra começar: o que vocês acham que vai ser esse anime?

Na minha cabeça, na pior das hipóteses vai repetir esse episódio um punhado de vezes até o final, uma heroína relutante traumatizada acaba forçada a lutar pelas circunstâncias, porque só ela pode fazer o que só ela pode fazer.

Gato de Ulthar:
Se for só isso não vou reclamar, ainda mais se tiver bastante matanças e cenas de ação alucinadas 😛 Mas claro que ficaria aquém das expectativas, embora divertido. Porém não acho que o anime vá fugir muito disse, penso que ele irá enveredar por mais algumas discussões e tramóias políticas, algumas traições e plot twists, etc.
Vinícius Marino:
Nós já passamos por isso no segundo cour de Banana Fish. Acho que sobrevivemos a uma segunda dose 😛

De minha parte, acho que o maior risco seria enveredar a uma pornografia da violência, com cenas cada vez mais chocantes e absurdas das garotas e seus entes amados sofrendo. Em suma, exatamente o que o Gato diz curtir 😀 Mas estou otimista e vejo uma série de possíveis caminhos que a história pode tomar. Por exemplo:

– Uma revolta contra o “sistema” no estilo Claymore. A relação entre Asuka e o seu handler me passaram essa vibe.

– Uma história sangrenta de conspiração e super-crime com garotas mágicas no lugar de heróis.

– Uma história de vigilantismo à la Cavaleiro das Trevas.

– Uma tentativa de “fuga” do sistema, em que tanto “mocinhos” quando “vilões” são desprezados pelas garotas.

Enfim, é uma boa premissa. Resta saber o que farão com ela.

Diego:
Ao que parece o anime tratará da protagonista lidando com o crime internacional (liderado por um par de peitões, aparentemente 😛). Se irá avançar além disso… Não sei, mas por algum motivo acho pouco provável.
Fábio "Mexicano":
Só eu que fiquei desconfiado daquele povo de outra dimensão que fez o acordo com a humanidade que resultou nas garotas mágicas?

Quero dizer, em alguma medida não restou a suspeita de que poderiam estar só exportando uma guerra originalmente deles para a Terra, ou talvez tenham usado a humanidade apenas como laboratório para desenvolvimento e teste de armas mágicas?

Pelo o que o Vinicius falou, tenho certeza que ele vai reconhecer esse cenário.

Gato de Ulthar:
Pois é Fábio! Eu pensei a mesma coisa, talvez o povo do mundo da “fantasia” seja o principal vilão, que primeiro fizeram os terráqueos eliminar uma ameaça que era deles também para depois dar o bote em uma Terra enfraquecida por uma guerra.
Diego:
Sinceramente, nem me passou pela cabeça que esse outro povo poderia ser o “do mal”. Ainda que o twist do mascote fofinho ser o verdadeiro vilão não ser nada de novo (se entendem o que eu digo). E, parando para pensar, talvez até explique algo que é revelado no episódio 2. Ainda assim, por algum motivo não soa “certo”, não parece combinar com o anime, mas não sei explicar bem porquê.
Fábio "Mexicano":
Se eles forem os vilões, seriam os grandes vilões finais. Como o mangá ainda está em andamento é o tipo de coisa que talvez nem tenha sido revelada ou sequer tenha tido qualquer tipo de pista ainda. Isso torna essa minha pergunta um pouco inútil mas foi uma impressão forte que eu tive e quis saber o que vocês acharam.
Gato de Ulthar:
Já que o Diego mencionou o segundo episódio que vamos tratar mais a frente, ele reforçou essa impressão levantada pelo Fábio, há um ser que acompanha uma garota mágica do mal e que parece muito uma criatura do mundo da fantasia. A própria existência de garotas mágicas do mal seria um bom indício, pois quem conferiu o poder de todas as meninas não foi justamente um poder desta dimensão da fantasia?
Vinícius Marino:
Sem dúvida eu reconheço. Esse seria meu primeiro chute, na verdade. Tratando-se se garotas mágicas dark, a fonte do “bem” se revelaria como a origem do mal. Dependendo da obra, isto dá margem a um questionamento maior sobre a própria essência do poder.

Como um mahou shoujo que versa sobre temas militares, Asuka tem uma baita oportunidade para usar isso como reflexão sobre o complexo militar-industrial e nossa relação com a violência legítima.

Diego:
Acho difícil o anime questionar o exército. A mídia num geral não costuma enveredar por esse caminho, e quando o vai a crítica é geralmente direcionada à guerra em geral, ou a algum outro exército (real ou fictício). Uma história que pinte o próprio Japão com tons negativos nesse aspecto… olha, só me vem à mente Outbreak Company, e alguém assistiu essa coisa? 😛
Fábio "Mexicano":
Eu já estou contente que o anime até agora não parece glorificar o exército. Isso é uma moda que tem crescido no Japão. Pelo menos estão em uma posição, por enquanto, ambivalente. Algo como um mal necessário.

Bom, vamos para o segundo episódio então?

A garota mágica da injeção gigante apareceu. Foi uma forma um pouco canhestra de forçar a Asuka a voltar a agir, mas não estou ofendido por enquanto. A Asuka pediu para a Kurumi se tornar garota mágica, e ela se tornou. E depois a Asuka quis se aposentar, embora ainda haja muito trabalho para as garotas mágicas – trabalho que talvez nunca vá acabar?

No final fiquei com a impressão que a Kurumi está com razão de se sentir magoada sim, mas ela se aproveita também de sua situação para chantagear emocionalmente a protagonista. Tem mais coisa acontecendo nesse episódio, mas vamos começar pela Kurumi, falem aí suas impressões sobre ela ☺️

Diego:
Acho que não foi a intenção da Kurumi chantagear emocionalmente a Asuka, ao mesmo tempo que esse efeito era meio que inevitável. Acho que ela só quis dizer algo que estava “guardado”, especialmente após a amiga sumir e após uma nova experiência de quase morte nessa última batalha. Ela estava fragilizada e meio que só “pôs pra fora”.
Fábio "Mexicano":
Eu me refiro especificamente à última frase dela. Já estava tudo praticamente certo. A Asuka não havia confirmado nem nada ainda, mas até aí, continuou até o final sem confirmar. O fato é que elas haviam conversado, relembrado, e a Kurumi já tinha pedido pra ela voltar – ou, mais precisamente, para “cumprir sua promessa” (de protegê-la).

Então a Kurumi se aproxima e sussurra sorrindo no ouvido da Asuka:

 

Gato de Ulthar:
Quase em todos os mahou shoujos darks há lampejos de shoujo ai, só eu senti uma tensão esquisita nesta cena?

 

 

Mas concordo em parte com o Fábio, só que acho que não intencionalmente a Kurumi manipulou a Asuka, foi algo natural de seus sentimentos, da até para ver como a Asuka fica incomodada com a presença dela.

E um detalhe aleatório, adorei essa referência! Fico imaginando a Sakura surgindo do nada com as Cartas Clow e enfrentando essas criaturas!

 

Fábio "Mexicano":
“Venha comigo lutar nessa guerra que envolve toda a humanidade contra criaturas extra-planares?”
“Mas eu sou fraca….”
“Eu preciso de você!”

Isso totalmente é fanservice shoujo ai 😛 Talvez a Kurumi tenha sentimentos pela Asuka de verdade sim.

Vinícius Marino:
Eu amei a Kurumi – e esse diálogo – por outro motivo. Eu tenho uma queda por personagens fracas obrigadas a confrontar sua própria fraqueza. Isso tem a ver, acho, com a minha própria concepção de heroísmo. Nós, humanos, não somos fortes, nem física nem psicologicamente. E é nas qualidades para desafiar essa fraqueza intrínseca – determinação, coragem, resiliência – que medimos o caráter de uma pessoa.

Mahou shoujo geralmente nos dão protagonistas que caem do outro lado. Elas são super poderosas, a ponto de conseguirem reescrever a própria realidade. Interessante ver uma garota mágica (se bem que uma coadjuvante) encarando essa barra com limitações mais humanas.

Fábio "Mexicano":
E sobre o tom do anime, quão dark acham que ele se mantém? Eu fiquei sob a ligeira impressão que esse segundo episódio foi menos tenso, psicologicamente, e teve mais ação e gore (até tortura). Será que o anime vai ser sério, vai se tornar trash, ou vai se equilibrar na fina linha entre os dois, como Mahou Shoujo Site fez?
Diego:
Acho bem altas as chances de se tornar algo mais trash, ou talvez algo mais balanceado. Sério eu duvido muito. Todo esse universo, personagens, vilões, tudo ainda é bastante “anime”, então não espero grande seriedade para além dos elementos que já tivemos.
Vinícius Marino:
Mahou Shoujo Site, tal como seu predecessor, Mahou Shoujo of the End, é o tipo de obra que parece muito vulgar até considerarmos o quão bem ele equilibra as coisas. Não sei se Asuka conseguirá manter a mesma harmonia, mas estou com bons pressentimentos.

Ele é “sério” por ser “dark” e “edgy”; de fato, não porque possa ter alguma grande complexidade argumentativa. Como o Diego disse, é bastante anime. Mas mesmo animes zoeiros como Zombieland Saga são capazes de grandes momentos de sobriedade, como provamos na temporada passada.

Eu acredito que descambar para o trash será o maior risco que correremos. Não excluo um ou outro momento de “namoradas na geladeira”, com alguma garota mágica (ou personagem coadjuvante) sacrificada por efeito. A morte dos pais da Asuka no episódio um foi basicamente uma versão light dessa trope.

Gato de Ulthar:
Para mim, sempre terá algo trash em alguma medida, os dois primeiros episódios já mostraram isso. E essa situação não é o problema em si, tudo depende se Asuka entregará algo mais que isso, e não apenas uma sequências de massacres e torturas.
Fábio "Mexicano":
Boas respostas, dá pra concordar com todo mundo 😃

Hora da previsão do futuro: o que acham que são os inimigos, afinal?

1. Terroristas ou lunáticos desse calibre

2. Estados tentando usar ou controlar a tecnologia das garotas mágicas

3. O povo da dimensão paralela que deu essa tecnologia para a humanidade em primeiro lugar

Eu vou de 3, porque estou desconfiado delas desde que as vi no prólogo =P

E quem mais teria capacidade de criar novas garotas mágicas, como aquela doida assassina parece ser? Minha teoria conspiratória vai mais longe. Elas são uma raça que coloniza ou se reproduz submetendo outras, criando uma sociedade hierárquica semelhante a uma colméia – por isso elas têm “rainhas”. Os disas não são outra espécie, mas machos da mesma espécie – o grandão do vulcão era o “rei” deles. Alternativamente, são criaturas feitas por elas mesmas.

Diego:
Não ponho a mão no fogo por ninguém no momento. Mas esse povo da dimensão de fantasia foi tão brevemente apresentado que não consigo imaginar eles tendo uma grande importância na história, ao menos não agora.
Gato de Ulthar:
Eu vou de 3 também, tive a mesma impressão do Fábio, mas não descarto a segunda, não me parece implausível que governos ou grupos estejam recriando tecnologia diversa por meio de engenharia reversa. Se bem que parece que a Rainha busca algo como vingança pelo resultado da guerra, por isso a terceira opção é mais tentadora.
Vinícius Marino:
Acho que seria um grande desperdício de vilões se as criaturas extra-dimensionais não fossem apropriadas no conflito principal. Então vou de 3, ou talvez de 1, se falarmos de terroristas que, de alguma forma, se apropriaram de sua tecnologia. Tal como terroristas contemporâneos sonham com armas nucleares “sujas”, é possível que os desse anime tentem colocar as mãos em seja lá o que está por trás desses invasores.
Fábio "Mexicano":
Seria inclusive uma excelente justificativa para o que o Diego apontou como um problema para a hipótese: elas apareceram pouco. Acho que aparecer pouco depõe contra elas. É algo como a Pistola de Chekhov: não está lá à toa, se apareceu, é porque terá função.

Enfim, é esperar os próximos episódios e descobrir. Até mais!

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