Bom dia!

Bem-vindo a mais uma sessão do Café com Anime! A mesa redonda virtual na qual eu, o Diego (É Só Um Desenho), o Gato de Ulthar (Dissidência Pop) e o Vinicius Marino(Finisgeekis) conversamos sobre alguns animes que estamos assistindo juntos.

Cada um publica em seu blog sobre um anime diferente, e nessa temporada nos dividimos assim:

Dororo no É Só Um Desenho

Kouya no Kotobuki Hikoutai no Dissidência Pop

The Promised Neverland no Finisgeekis, e

Magical Girl Spec-Ops Asuka aqui no Anime21!

Leia a seguir nosso bate-papo sobre os episódios 8 e 9:

 

Fábio "Mexicano":
Quanto mais a gente aprende sobre o mundo, a magia e as garotas mágicas, mais tudo parece sujo, feio, cruel, corrompido. A Kurumi por exemplo, não só parece uma yandere, mas é de verdade uma sádica, capaz de infligir dor a outras pessoas aparentemente sem nenhum impedimento moral. Resultado dela ter sofrido bullying, provavelmente, e confesso que fiquei um pouco chocado ao descobrir que ela ainda sofria bullying mesmo depois de virar garota mágica. Quanto ela não teve que se segurar para não fazer besteira?

E pela primeira vez vemos o lado dos vilões. Eles também sofreram, e foi nas mãos de seres humanos mesmo, não de criaturas de outro mundo. O horror é que a história da Chisato não é lá muito diferente da Kurumi, por exemplo. Ela só foi recrutada “pelo outro lado”. Mesma coisa o Geiss. E vai saber que outras garotas mágicas, de um lado ou de outro, não se encaixam nesse padrão.

Na minha opinião tudo indica que a Brigada de Babel não tem necessariamente a intenção de conquistar nada. Mas querem reiniciar a guerra, e dessa vez contra o próprio mundo espiritual que os salvou dos disas. Parece-me claro que Francine foi salva da morte e descobriu uma verdade muito inconveniente. Ou fingiu a própria morte depois de ter descoberto. Será que a Tamara abriu a mala? A presença dela ali, nessas circunstâncias, é uma incógnita.

Diego:
É bastante comum que histórias envolvendo salvar o mundo (ou mesmo algo menor, como um país, uma cidade, um bairro…) eventualmente levantem a pergunta de se este é mesmo um mundo que vale a pena ser salvo. E o que eu venho gostando em Asuka é que ele apresenta muito bem os dois lados da moeda. Há muito de podre no mundo, mas a interação da Asuka e da Kurumi com suas duas colegas de sala são um lembrete constante de que, apesar disso, ainda há coisas que vale a pena proteger. É um trabalho muito bem executado de show, don’t tell.

Mas falando sobre os vilões, acho que o plano deles está ligado justamente a essa desilusão de que salvar o mundo de um inimigo não elimina todos os outros problemas que já existiam. Ou talvez o ponto seja uma lógica mais distorcida, algo como “enquanto tínhamos um inimigo em comum, as coisas estavam melhores”, o que poderia explicar o porquê de querer recomeçar a guerra.

Ah, e mais alguém ficou confuso com o que sentir com a cena de tortura? Ela me pareceu meio gratuita: sabemos que a Kurumi tem um soro da verdade, o que quer dizer que ela só tava a fim de torturar essa menina. Por outro lado, essa “menina” é uma assassina serial que tinha matado, com gosto, um monte de policiais antes das garotas chegarem. É pra eu achar que ela teve o que merecia, ou é pra eu achar que a Kurumi é uma doida varrida? Porque eu tendi muito mais pro segundo 😛

Fábio "Mexicano":
As pessoas não aguentam muito depois de aplicado o soro, ela disse isso. Fora que a garota era mágica, isso podia prejudicar a eficácia do soro. Mas sim, eu tenho certeza que a Kurumi gosta de machucar os outros. Não é inesperado para alguém que sofreu o tipo de bullying violento que ela sofreu.
Gato de Ulthar:
Para mim esse foi o episódio que mais se assemelhou a outros dark mahou shoujos famosos, como Mahou Shoujo Site e Madoka, já que vimos claramente uma menina completamente ferrada emocionalmente e fisicamente ser aliciada para virar uma garota mágica, e sabemos que nos dois animes citados esse é um dos requisitos, mesmo que haja exceções, para uma garota aceitar os encargos que a vida de garota mágica lhe dá. Engraçado como a menina do episódio aceitou tudo relativamente fácil, mesmo sabendo que faria coisas que a sociedade encararia como moralmente errôneas, e isso faz sentido levando em conta a vida de violência e humilhação que ela teve, a menina simplesmente alienou-se dos padrões morais e éticos. E é interessante compará-la com a Kurumi, uma das estrelas do episódio, ela pode até trabalhar para o governo, mas os seus métodos também são moralmente questionáveis, ela é claramente uma sádica, também em virtude da violência que sofria.

Acho que o anime tentou comparar as duas, tanto a nova garota mágica em uma perna e a Kurumi, para mostrar que não importa o lado que você esteja, sempre há serviço sujo a ser feito.

Fábio "Mexicano":
O episódio com certeza comparou as duas. A diferença entre elas é que a Kurumi não precisou passar por uma iniciação que envolvesse matar pessoas – pelo contrário, mostrou que ela, no mínimo, contempla a questão, mas rejeitou por qualquer razão que seja tornar-se uma assassina. Por tudo o que ela é sádica, no final ainda restaurou o braço da garota capturada, o que a faz parecer menos pior.

Isso, a disposição para matar, pode ser a diferença entre a vida e a morte. Eu imagino o anime caminhando por um de dois caminhos: ou a Kurumi está com uma death flag na cabeça, ou seu instinto assassino vai tirar o melhor dela e veremos a queda de uma garota mágica.

O que pensam a respeito?

Vinícius Marino:
Eu me pergunto se tudo é parte de uma razão maior ou se é apenas sinal de que os roteiristas estão se divertindo demais com seu trabalho. Como o Diego, eu também achei a cena de tortura gratuita. Não apenas ela, contudo, mas várias das (muitas) crueldades que o episódio trouxe.

Comecemos pela própria tomada, que foi tão enlaçada de sex appeal que poderia servir de prólogo a um hentai.

 

 

Então temos a história da Chisato, que parece uma versão de Emergence escrita por alguém que achou o dito mangá leve demais para seu gosto. Ver o pai vender uma filha cadeirante a um prostíbulo – e ouvir o cafetão replicar que até a tomaria, não fossem os riscos legais – é chocante de tal maneira que soa ridículo. É o valor de choque que eu esperaria de uma paródia, ou de uma obra muito, muito depravada que brinque com isso como fetiche.

Por fim, a história do garoto-soldado da Somália, que compensa a falta de detalhes gráficos com minúcias de arrepiar. Só para lembrar: ele matou os pais e estuprou a irmã (que, a julgar pela cena, era uma criança menor que ele).

 

 

Olha, eu até compro o assassinato. Dê uma arma na mão de alguém e é fácil apertar o gatilho. Mas não é fácil estuprar uma pessoa. Sobretudo uma criança ligada à você por sangue, com uma arma apontada para a sua cabeça, tremendo de estresse a olhos vistos.

Há um verniz inconfundível de sensualidade que perpassa todo esse episódio. Tomando-o como um todo, não consigo afastar a impressão de que a intenção ulterior é nos excitar. Coisa que a tomada de fanservice na praia apenas ressalta. Bola fora, na minha opinião. Asuka pareceu encarnar os mesmos excessos das garotas mágicas “dark” que o primeiro episódio de Mahou Shoujo Site provocou.

Fábio "Mexicano":
Estou escrevendo sobre o episódio nesse exato instante, e também acho que pegaram pesado no fanservice, especialmente na cena da tortura. O resto do episódio ou foi o que já vimos (as garotas de biquini) ou só dito, não mostrado (o pai da Chisato querendo vendê-la e o guerrilheiro mandando o Giess estuprar sua irmã).

Mas ainda enxerguei nele um paralelo forte entre Chisato e Kurumi. Não é nem um paralelo “tirando o fanservice”, mas com fanservice e tudo: a Chisato virou uma garota mágica hiper-sexualizada, como a Abigail, aliás.

Vinícius Marino:
Fico feliz que você tenha trazido isso à tona, pois esse é um excelente exemplo de fanservice que agrega à obra.
Fábio "Mexicano":
Quero dizer, ela tem até um chicote, por favor, né? E a Kurumi, que sabemos nutrir sentimentos bastante carnais pela Asuka, veste um clássico dos fetiches: uniforme de enfermeira.
Vinícius Marino:
É obviamente uma fantasia sexual. Mas esse é o ponto: elas estão na posição de ter essas fantasias (como a Kurumi, obviamente, tem).

Tornar-se uma garota mágica, afinal, é uma forma de wish fulfullment. E não há nada de errado (nem de incomum) em uma adolescente desejar se tornar uma mulher adulta, no domínio da sua sexualidade. Você vê isso desde Majokko Megu-chan (1974), em que a persona da mahou shoujo esbanja naturalmente sensualidade.

 

 

Já tivemos um exemplo do tipo em Mahou Shoujo Site. Uma garota (não me lembro seu nome) usou a varinha para assumir a forma de uma colega mais bonita. Eu citaria ainda Okusama wa Mahou Shoujo/Bewitched Agnes, em que a fantasia sexy aparece de forma irônica, um símbolo da adolescência que a protagonista (uma mulher à beira dos trinta anos) reluta em largar.

Fábio "Mexicano":
Acho que, como Mahou Shoujo Site, esse episódio sozinho parece um exagero. Vamos ver nos seguintes se tudo isso foi por nada ou se realmente teve um propósito.
Diego:
Eu diria que apesar do exagero, o episódio é mais focado em mostrar a podridão do mundo justamente para levantar a bandeira do “vale a pena salvar essas pessoas?”, que foi exatamente o que a Kurumi pensou quando sofria bullying enquanto tendo de lutar para proteger o mundo. A cena de tortura foi claro fanservice, mas os demais elementos que o Vinicius listou – o pai querendo vender a filha a um prostíbulo, a história do menino da Somália – todos me parecem ir muito mais por esse lado de mostrar o que há de errado no mundo do que pelo lado da sexualização de fato.
Fábio "Mexicano":
E se formos ficar com a conclusão da Kurumi, parece que não vale a pena. Ela está nessa pela Asuka e apenas pela Asuka.
Gato de Ulthar:
É difícil eu achar algo exagerado em termo de violência 😛 Mas falando de forma séria, acho que ainda está condizente com o que a série vem mostrando desde o começo, e ela não poupou violência visível para demonstrar como os seres humanos, com ou sem poderes mágicos, são criaturas capazes das coisas mais terríveis. Claro que dá para contar isso sem toda essa overdose de situações chocantes, mas para esse anime creio que seja a melhor abordagem.
Fábio "Mexicano":
Ok, dilema moral da semana: vocês estão exatamente na posição da Chisato. O Giess aparece e explode a cabeça do seu guardião (pai ela não tinha, a mãe dela não sabia quem era o pai). Vocês recebem a oferta exatamente da forma como ela. O que vocês fazem?
Diego:
E você vai falar não pro robô de dois metros que acabou de explodir a cabeça do seu guardião? 😛
Fábio "Mexicano":
Ok, você tem um ponto 😛 Mas a Chisato em particular pareceu que teria dito sim mesmo se ele fosse aquele somaliano raquítico (eu teria preferido se ele tivesse mantido sua forma humana, aliás, mas daí ia ficar uma coisa meio “garoto mágico”, suponho).
Vinícius Marino:
Não quero monopolizar a discussão em cima disso, mas gostaria de me explicar uma vez mais, pois acho isso importante (mais importante, ao menos, que qualquer mensagem pseudo-profunda que esse anime pode vir a trazer).

O problema não é o exagero de violência. É o tom com que essa violência – grande ou pequena – é mostrada.

Há trabalhos sensíveis sobre crianças na África forçadas a viraram soldados e cometerem estupro (Chimamanda Adiche tem um belíssimo livro sobre isso). Há trabalhos sensiveis sobre mulheres forcadas à prostituição (Les Misérables é o exemplo mais famoso).

Asuka, pelo contrário, foi celebratório. Da cena de tortura ao fanservice desnecessária na praia ao lesbianismo fake da Kurumi o episódio pareceu tirado de um hentai. Foi uma violência pornografica, feita para excitar. (E, se você acha que não, por favor me explique os closes na bunda durante a cena de tortura.)

O Gato gosta de brincar dizendo que curte ver meninas sofrendo. Embora para a gente isto seja piada, há sim uma fantasia misógina que tira prazer em ver mulheres sofrendo – em especial, mulheres reduzidas a seus atributos sexuais. O episódio dessa semana foi um prato cheio a quem se excita com esse fetiche. Eu acho isso revoltante.

Agora sobre a decisão da Chisato: eu me mataria. Ou provocaria o troglodita para que me matasse.

O dilema, para mim, não foi convincente. Uma coisa seria ela matar o pai que a abusou e tentou prostituir. Outra é ir atrás das quatro pessoas (aliás, carro tem quatro volantes? Estavam dirigindo um no colo do outro?) já condenadas por provocar o acidente.

Eu compro a truculência da Yuyuyu de Mahou Shoujo Site, cujo algoz era um psicopata. Já a Chisato abusa da minha confiança.

Fábio "Mexicano":
Eu pelo menos disse “exagero” me referindo mais ou menos a isso. Acho que exagero não descreve bem, mesmo.

Mas aí está, comentem sobre o que o Vinicius colocou, acho importante. E acrescento, não sei se ele concorda comigo, me parece que essa fetichização da violência é parte do que torna o dilema da Chisato menos interessante.

Quero dizer, seria perfeitamente possível dar um desenvolvimento diferente, no curso de um episódio mesmo, e fazer com que a escolha fosse mais difícil no final – para ela e para nós. Eu não sei se eu me mataria porque eu nunca me mataria, por outro lado a Chisato já havia aceitado a morte, então né, há uma dissonância aí que talvez não houvesse se estivessem mais preocupados em delinear as circunstâncias com mais cuidado, escrevendo melhor todo esse desenvolvimento, e menos em fazer a cena de tortura parecer saída de um hentai BDSM.

Gato de Ulthar:
Confesso que achei esse desenrolar da Chisato um tanto “cringe” demais para mim. Ok, eu não nego que seria tentador aceitar a proposta do Giess para virar uma garota mágica, ela não tinha nada a perder mesmo, além disso ganharia uma perna super tecnológica, para ela é só vantagens. Nessa hora, acho que quase ninguém negaria, só se mataria quem realmente não tivesse mais nenhuma vontade de viver, e acho que a Chisato ainda possui uma pequena centelha de vontade de levar uma vida diferente. Contudo, aquela cena dela matando o pessoal que estava no carro foi demais para mim, não faz muito sentido aquela facilidade dela vilar uma assassina em série.
Diego:
Eu só meio que aceitei essa cena dela matando os quatro. Acho que é compreensível ela ter rancor das pessoas que mataram a mãe dela. E o episódio foi tão over the top em tantos outros momentos que esse acabou sendo só mais um pra mim. Destoaria numa obra mais séria, mas aqui…
Fábio "Mexicano":
Quando foi que Asuka deixou de ser sério? Eu tinha a impressão que, mesmo nesse episódio, o anime queria ser levado à sério.
Diego:
Olha, de minha parte, Asuka deixou de ser sério no momento em que decidiu mostrar a grande vilã como apenas um par de peitos, lá no final do primeiro episódio 😛 Foi até um pouco decepcionante ver ali um line up de inimigos tão estereotipicamente “anime”, mas foi o sinal pra mim de o quão “a sério” o anime quer ser levado 😛
Gato de Ulthar:
Para mim ele tenta sim ser uma anime sério, não apela nem um pouco para a comédia ou para simplesmente uma fanfarronice de violência. Está certo que há os exageros, mas isso eu considero aceitável.
Vinícius Marino:
Acho que o problema é justamente ser sério. Volto aqui à comparação que fiz uns episódios atrás entre as cenas de amputação em Scarface e Kill Bill.

Na primeira, o protagonista, ainda um criminoso iniciante, é emboscado durante uma venda de droga e presencia seu colega decepado por uma serra elétrica. É uma cena visceral, que escancara a violência do mundo do tráfico. Também nos prepara para o final inevitável do filme, quando Tony Montana, após construir um império, termina ele próprio assassinado.

 

 

A segunda cena é até mais gráfica que a primeira, mas de uma maneira tão caricata que nos faz sorrir e dar risada. Vemos uma vilã (Sofie Fatale) ter o braço decepado. Uma batalha se segue, em que outras dezenas de capangas sofrem o mesmo destino. A tomada é tão irreal (e, eu diria, até artística) que em momento algum temos a impressão de assistirmos um filme sério sobre os yakuza.

 

 

Em forma, Asuka é puro Kill Bill. Em conteúdo, ele flerta com Scarface, trazendo temas sérios (as crianças-soldado na África, PTSD, estupro) para tentar apimentar sua fantasia com alguma medida de relevância. O fato desta fantasia ser abertamente misógina é apenas a cereja do bolo.

Voltando a sua pergunta, Fábio, eu concordo que o anime sempre tentou ser sério. Mas saber equilibrar isso com o tom exploitation das suas cenas de violência é um equilíbrio tênue. E, nesse último episódio, Asuka despencou de vez.

Fábio "Mexicano":
A questão toda talvez se resuma então a uma dissonância, ou a várias dissonâncias. Tem essa óbvia, que está fazendo o Diego questionar a seriedade do anime e nos empurrou nessa discussão sem fim. Tem a menos óbvia, uma dissonância de valores entre nós e os japoneses, uma do tipo que vem causando muitas diatribes ultimamente. Como o autor de Sword Art Online que disse que usava estupro como mero instrumento de enredo para colocar seus heróis em ação.

No Japão esse tipo de coisa parece ter pouca repercussão, então tudo isso passa e, eventualmente, pode chegar até nós, onde seria muito mais difícil passar em primeiro lugar. Se vocês lerem o link acima ou se já tiverem lido a respeito antes, verão ainda que o autor, Reki Kawahara, associa isso a um “feitiço” provocado pela experiência dele com material que teve a sua disposição quando era um adolescente consumidor de light novels e produtos semelhantes. É algo que ele não diz, mas certamente soa como inexperiência como criador. Pode muito bem ser o caso do autor de Magical Girl Spec-Ops Asuka também.

Vinícius Marino:
Parece-me forçado atribuir isso aos “valores japoneses”, pois esse mesmo tipo de trabalho (e o mesmo tipo de desculpa) aparece na mídia ocidental o tempo todo. E não falo apenas da trope das Namoradas em Geladeiras, em que uma mulher é brutalmente morta ou violentada para desenvolver uma personagem masculina. Mas também casos em que o estupro é usado para que a própria vítima evolua. O reboot de Tomb Raider anos atrás foi atacado por conta disso. A série True Detective fez a mesma coisa na sua segunda temporada.
Fábio "Mexicano":
Certamente é mais complexo do que isso. Mas aqui sai uma coisa assim e, se for minimamente popular, não dá uma semana para ter gente reclamando. Pelo menos pelo pouco que ficamos sabendo do Japão, muita coisa passa anos com esses temas e elementos impune, e é preciso uma adaptação para anime para que, aqui no ocidente, alguém finalmente reclame. Em mais de um caso saem notícias falando sobre como “os japoneses não se importam” com respeito a uma ou outra polêmica surgida entre o público ocidental.
Gato de Ulthar:
Isso tudo me enche o saco falando francamente, sendo ficção tudo é válido, quem se sente ofendido que não consuma! Há materiais para todos os gostos! Eu pelo menos penso desta forma, mas entendo que certas obras ou temáticas causem alvoroços em determinados públicos e até mesmo para a segurança da carreira dos autores devem ser evitadas ou restringidas.
Diego:
Acho que essa é uma discussão que nem cabe muito a gente ter aqui. Concordo que a máxima devia ser “vê quem quer”, mas convenhamos que também há liberdade de, uma vez tendo visto, falar mal. Minha posição é como disse: desde o final do primeiro episódio eu ajustei o quanto “a sério” eu devo levar esse anime. Ele toca em alguns pontos interessantes, não sendo apenas um mindless gorefest, mas ainda é bem “anime”.
Fábio "Mexicano":
Eu nunca sugeri que algo “deve” ou “não deve” ser feito. No fundo, estou pensando no bem da própria história. Asuka quer sim se passar por um anime sério, mas ele se trai ao cometer esses deslizes. Não é que não pode, que deveria ser proibido. É que o anime seria melhor de outra forma. Ou é possível a solução trash também, se assume de vez como não sério e aí vale tudo. Equilíbrio não é andar um pouco de cada lado do muro, é andar em cima dele.
Vinícius Marino:
“Não assistir” não é uma opção para mim. Estou cobrindo esse anime, afinal de contas. 😜 O que posso fazer é externalizar minha opinião para que outras pessoas com sensibilidades parecidas às minhas decidam se Asuka é ou não uma série para elas. De resto, faço minhas as palavras do Fábio. Uma série 100% respeitosa ou 100% trash não me incomodaria de forma alguma. O problema foi o desnível tonal.
Fábio "Mexicano":
Esse assunto rendeu hein? Bom, enquanto não sai o próximo episódio, que eu vou emendar aqui, digam aí se já tinham notado esse problema antes em outros episódios. Eu acho que coisa ou outra pode ter tido, mas no geral a série vinha razoavelmente sólida. De todo modo, fiquei com impressão que esse episódio tentou contar muita coisa ao mesmo tempo, então ele não foi um dos mais iluminados do anime sob qualquer ângulo que se analise.
Vinícius Marino:
Não tinha e inclusive já disse isso aqui, várias vezes. Até agora, Asuka soube equilibrar seu conteúdo pornográfico com uma justificativa que o redimisse. A violência gráfica o diferenciava de outros mahou shoujo. O fanservice sexual agia como escape cômico para a seriedade da trama. Os uniformes risqué atendiam um propósito dentro da fantasia que as próprias personagens vivem.
Fábio "Mexicano":
Inclusive eu cheguei a elogiar o anime por isso antes, não foi? No episódio da tortura da Nozomi. Aquilo era a desculpa perfeita para torture porn, mas Magical Girl Asuka fez só o suficiente para comunicar a gravidade da situação sem parecer apelativo. Bom, vá entender, talvez seja o caso do autor do mangá ou os produtores do anime serem cuidadosos com inocentes, mas chutarem o pau da barraca com as vilãs – ainda que uma vilã em gestação, como foi o caso da Chisato?

Enfim, o Diego já havia dito de todo modo que trata o anime como trash desde o começo, e o Gato não parece se importar tanto, então já saiu o episódio 9 e vou passar para ele, ok? Quero dizer, se quiserem podem falar sobre isso ainda, acho que o novo episódio também dá essa oportunidade.

Não vou fazer nenhuma introdução dessa vez, apenas digam aí quais foram as suas impressões, por favor.

Vinícius Marino:
Que banho de lore, hein? Digo isso no bom sentido. Nunca antes estivemos tão bem informados sobre o que acontece no universo de Asuka.
Fábio "Mexicano":
Isso, e todo mundo fica molhado pela Asuka.
Vinícius Marino:
Considerando que a mãe espiritual das garotas mágicas é uma elfa tarada semi-nua… acho justo, na verdade 😀 Estão só seguindo o exemplo da senpai.
Fábio "Mexicano":
Faz muito sentido. Enfim, esse fanservice pode até entediar às vezes, mas não é ruim. Mas foi sim interessante descobrir que a “elfa tarada semi-nua” é só uma general de apenas um Estado do outro mundo. Importante descobrir isso até, eu diria.
Vinícius Marino:
Na Terra, as garotas mágicas enfrentam burocracias, divisões políticas, regulamentos. Interessante saber que nem mesmo os seres mágicos (que, supostamente, são nossos superiores) estão livres disso.
Gato de Ulthar:
Eu queria ser apertado pela Tamara como esse bicho de pelúcia.

 

 

Por um breve segundo eu cogitei a possibilidade dela estar prestes a fazer sexo com um Disas… 😛 Dá um roteiro de doujin…

Falando seriamente, foi uma enxurrada de informações e de fanservice. E quanto ao fanservice, bem, Asuka é um anime, as coisas podem ser exageradas e não fazer sentido, como todo aquele conteúdo sexualizando a Asuka nos desejos íntimos de todas, então o jeito é curtir.

Diego:
Yep, Asuka é 100% trash 😃 Mas não digo isso de forma necessariamente negativa. Esse lado bem “anime” até que serve bem para dar uma maior leveza a uma história que, sem isso, poderia muito bem se tornar excessivamente pesada (ainda que o slice of life dos primeiros episódio já estivesse cumprindo bem essa função…).

 

 

Agora, a Tamara abraçando o bichinho me incomodou pra caramba. Não pelo fanservice – meio que Asuka já demonstrou que ele veio pra ficar desde o começo -, mas mais pela lógica. A garota passou um bom tempo lutando uma guerra infernal contra bichos de pelúcia gigantes e ainda assim só consegue dormir quando seminua e abraçando um? Ok, né…

Fábio "Mexicano":
Pois é, eu totalmente pensei que o segredo terrível dela era ter um disa 😛 Talvez fosse a irmã dela transformada e o tal objetivo secreto dela fosse descobrir como retorná-la ao normal? Casaria muito com o a luta que ela mesma teve contra o cara que virou um monstro e lembrou-a de que jamais poderia voltar a ser humano. Bom, talvez ainda seja o caso da irmã dela, ela só não é aquele bicho de pelúcia gigante 😛
Vinícius Marino:
Já me queimei duas vezes tentando assistir à Asuka em público. Já entendi que é um anime para portas fechadas… Nesse sentido, não vejo motivos ulteriores nesse disas de pelúcia da Tamara. Acredito que seja só para alimentar a mente de escritores de doujin mesmo.
Fábio "Mexicano":
E o que estão achando da Chisato até aqui? Ela não fez quase nada, mas está o tempo todo com aquela cara perturbadora, parece ter virado uma pessoa maligna de uma hora para a outra.
Diego:
Até aqui ela meio que só existe. No próximo episódio devemos vê-la em ação, e ai vamos descobrir qual o nível de psicopatia da criatura. Mas imagino que seja um pouquinho mais baixo que o da garota das tesouras 😃
Gato de Ulthar:
Digo o mesmo que o Diego, até então me parece apenas que ela está começando a aproveitar a nova vida e que gosta muito do gigantão, e vai ser mais um baque para ela ter esse momento feliz transformado em carnificina.
Vinícius Marino:
A Chisato… Para ser sincero, não pensei muito sobre ela. Meu medo é que ela se torne apenas um repeteco do péssimo episódio que a transformou em garota mágica. Uma desculpa para a violência pornográfica pretensiosa que já vimos até aqui.

Meu grande problema com essa personagem é que ela me parece transparente. Já tivemos um flashback choroso, uma história de origem, um vislumbre dos seus motivos atuais. O que esperar daí? Uma criatura que se rebela contra o criador? Uma Abigail com esteroides, como sugeriu o Diego? Não consigo imaginar nada muito diferente, e isso me frustra.

Fábio "Mexicano":
Tenho que concordar. E isso me faz pensar em quão rasa a Rainha, a grande vilã, provavelmente também é. O Mal nesse mundo parece só pretexto para o sofrimento dos bons – em particular, das boas garotas mágicas. E isso diminui tanto o peso de qualquer desenvolvimento ou caracterização delas que me passa uma sensação triste de desperdício.

Se fossem demônios, que são criaturas feitas de Mal, eu aceitaria isso. Se fossem monstros de verdade. Mas são humanos tornados monstros. Não consigo não esperar mais do que o anime está entregando.

Vinícius Marino:
É engraçado que seja assim, pois Asuka já tem os demônios perfeitos. Os Disas são incríveis como antagonistas por conta da dissonância moral. São bichinhos de pelúcia capazes das piores atrocidades. Quão mais interessante seria se eles estivessem com a faca e o queijo nas mãos?
Fábio "Mexicano":
Até o povo do mundo espiritual poderia ocupar esse lugar – e, aliás, era a minha primeira aposta. Talvez eles ainda sejam vilões, mas esse arco meio que “humanizou” eles, no sentido de revelar que vivem em uma estrutura social semelhante à humana, então eles não servem mais como monstros perfeitos.
Gato de Ulthar:
Devo concordar com você, no fim das contas parece que os inimigo em Asuka são todos muito rasos, com motivações não muito interessantes, querendo apenas causar o caos. O que me dá um mínimo vislumbre de esperança é aquele segredo que tinha na mala que a Tamara pegou, mas até agora nada….
Fábio "Mexicano":
Eu até acho que as motivações são melhores do que só “causar o caos”. Os disas queriam os humanos como combustível (e certamente há entre o povo espiritual quem tenha essa intenção também, como a troca de pessoas por itens mágicos pela máfia russa revela). A Rainha “tem um objetivo”, que ainda não sabemos. Mas é só olhar para a Chisato: ok, ela se converteu ao mal porque salvaram ela e a deram poder. Digo, ok mesmo? Isso é tudo? Só por causa disso ela está disposta a matar pessoas, e com aquela cara de sonsa?

Para um monstro, um motivo simples é suficiente. Eles são monstros e humanos são humanos, tratar humanos como descartáveis é o que os torna monstros. Mas e para um humano? Não vale dizer que o humano em questão “virou um monstro”, porque para isso também seria necessário uma motivação melhor. É até pior se a escolha for retratá-los assim. Acho que a Sandino foi a mais equilibrada até agora, mas talvez seja só porque ela apareceu muito pouco. Ela só odiava o exército americano, mais nada, e a gente quase consegue comprar a desculpa dela para isso. Em compensação, teve aquela lá cujo nome nem vou me dar ao trabalho de recuperar, que trabalhou com os russos e nem motivo nenhum tinha até onde sabemos. Ela tinha uma varinha de soltar fogo e achava legal explodir coisas e pessoas com ela.

Diego:
Ah sim, a garota de calcinha que a Kurumi ficou espancando numa cena que mais parecia saída de algum hentai 😛

Bom, eu faço coro com os demais. Até aqui, os vilões são bem raros. O que é triste, especialmente porque os mocinhos eu acho razoavelmente bem feitinhos. A Asuka eu acho uma boa personagem. Quanto à Kurumi o roteiro extrapola um pouco, mas não diria que é ruim. As amigas da Asuka e o pessoal do exército não são um poço de complexidade, mas parecem pessoas normais, com seus próprios interesses, ideias, ideais… Esse contraponto me parece tornar os vilões rasos ainda mais frustrantes, porque é como se o anime falasse que sabe fazer o razoável, mas prefere fazer o medíocre mesmo.

Fábio "Mexicano":
Essa mesma. Enfim, esse foi um par de episódios menos inspirado, e olha que teve até história de origem de personagem e revelações grandes e importantes.

Mas o que discutimos mesmo foi sobre a natureza de Magical Girl Spec-Ops Asuka. Aguardemos para ver o que nos reservam os próximos episódios, até!

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