Bom dia!

Isso deveria ser rápido mas já perdi algumas horas brigando para deixar os dados em uma forma apresentável. Queria fazer várias tabelas, mas só consegui terminar uma em tempo razoável, e é essa que você vê como capa do artigo.

Em todo caso, a planilha de dados está disponibilizada também para sua conferência. Não é nada complexo, recomendo que dê uma olhada.

Por que tudo isso em primeiro lugar? Desde o começo desse ano eu vinha com a impressão de que a quantidade de animes diminuiu bruscamente. Não é que veio diminuindo ao longo das temporadas: a minha sensação é que esse ano caiu de uma vez só.

O que os dados dizem?

Versão resumida: Eu provavelmente me equivoquei.

Versão longa: Vamos lá. Se quiser abrir a planilha, agora é a hora, clica aqui.

Fonte dos dados: MyAnimeList. Mais especificamente, as listas de animes por temporada do site. Como é uma impressão que eu tinha, e como acompanho temporadas realmente de perto desde que o blog está no ar (o Anime21 entrou no ar em Setembro de 2014), o período analisado é de 2015 até hoje.

O MyAnimeList tem uma série de filtros em suas listas de temporada, e eu estava interessado principalmente em animes para TV e em ONAs (animes direto para a rede, como os produzidos direto para plataformas de streaming).

Os animes para TV são a maioria da produção, de longe, e os ONAs se tornaram importantes nos anos recentes por dois motivos: o maior deles é a produção chinesa. A quase totalidade dos animes chineses é lançado como ONA, ou pelo menos é assim que são cadastrados no MyAnimeList. O segundo motivo é o advento dos animes originais Netflix – e me refiro aos originais mesmo, lançados diretamente na plataforma, não aos que têm transmissão na TV japonesa normalmente, mas aqui no Ocidente ficamos chupando o dedo esperando alguns meses até que saiam no Netflix.

Além disso, para melhor filtrar os dados, eu separei os animes que o MyAnimeList classifica como infantis, porque parte deles nunca chega aqui, e em sua maioria são animes bastante simples que normalmente não damos atenção. Eu pelo menos não costumo dar atenção, então não seria pela falta deles que me pareceria haver menos animes.

Filtrar isso foi chato. Há a opção “Kids” no MyAnimeList que faz exatamente isso, mas é um filtro aditivo: além dos animes normais, ele mostra também os infantis. Então para saber quantos são apenas os infantis eu tive que calcular a diferença.

Outra coisa que precisei calcular foi animes que estreiam em cada temporada e animes que continuam na temporada (tendo começado em alguma anterior). Para isso não há filtro, eles ficam apenas separados e eu tive que contar quantos estavam ali e quantos aqui, não teve jeito melhor. Sim, eu contei os animes de 2015 até hoje.

E aí é importante notar um detalhe: o MyAnimeList só faz essa separação (novos versus continuação) nos animes para TV. Nos ONAs, a menos que eu verificasse um por um, não há meio fácil de saber. Eu não verifiquei um por um.

Por fim, também contando no olho, eu anotei quantos ONAs com 6 episódios ou mais (o número 6 foi uma escolha arbitrária minha) estrearam por temporada. E nos ONAs fiz a separação dos infantis também.

Todos esses dados estão na planilha.

Daí vem a pergunta de um milhão de reais:

 

O que dizem os dados?

Se você olhar o gráfico da capa do artigo, irá notar que a diferença entre a quantidade de animes por ano é muito pequena. Esse gráfico foi feito apenas com animes novos para TV por temporada, não infantis.

Há três coisas que se destacam.

2015 teve relativamente menos animes nas duas primeiras temporadas do ano. A temporada de Primavera/Abril se destaca mais por não seguir a curva dos anos seguintes, mas considerando quão abaixo foi a temporada de Inverno/Janeiro daquele ano em comparação aos anos seguintes, a temporada de primavera parece estar de acordo.

A partir da temporada de Verão/Julho de 2015 é que a curva padrão do gráfico se estabelece, e se mantém praticamente a mesma até 2018. O número de animes em Janeiro varia de 47 (2016) a 50 (2018), em Abril de 60 (2016) a 69 (2018), em Julho de 50 (2016) a 56 (2018), e em Outubro, 2016 é um grande ponto fora da curva com 68 novos animes, mas 2017 e 2018 são rigorosamente iguais (e iguais a 2015 também), com 57 animes.

Há um crescimento ano a ano, mas é bem pequeno. Com exceção da anormal temporada de Outubro de 2016 e da temporada de Julho de 2015 (na qual a curva padrão começa), ano após ano, em temporadas equivalentes, em 2018 há mais animes que em 2017, que tem mais animes do que 2016, que por fim tem mais do que 2015.

Que apenas duas temporadas estejam fora da curva em 16 temporadas consecutivas faz parecer que há uma tendência sem fim de crescimento. Mas é um crescimento muito pequeno, tão pequeno, de fato, que talvez possa ser explicado pela imprecisão dos dados do MyAnimeList – você não acha que ele é completo, acha?

E isso é particularmente importante para o terceiro ponto.

Em 2019 há uma queda notável, especialmente na temporada de Primavera/Abril. Ou isso é o que o gráfico, feito com dados do MyAnimeList, mostra.

Mas será que há mesmo? Como acabei de alertar acima, o MyAnimeList não é exatamente completo, a plataforma não esgota a totalidade dos animes. Boa parte dos animes em todas as temporadas são comédias para a família, curtas, coisas bastante japonesas em geral que nunca chegam no Ocidente. E muito disso está cadastrado no MyAnimeList, mas não me escapa a possibilidade que boa parte disso só seja cadastrada depois. Talvez bem depois.

Assim, a conclusão que estou autorizado a ter nesse momento é que, aparentemente, há uma diminuição sim, mas não é muito grande. Parece ser significativa em abril, mas é bom aguardar alguns meses para ter certeza (ou usar outras fontes de dados mais confiáveis e completas).

 

E os ONAs?

Os ONAs são um fenômeno à parte. Não criei um gráfico com eles, mas os números na planilha não deixam dúvida: houve um crescimento explosivo em 2016, que parece ter recuado em 2019.

De novo, pode ser apenas o caso de muita coisa não ter sido devidamente cadastrada no MyAnimeList ainda, por isso parece haver menos ONAs nesse ano. Certeza sobre isso só daqui a alguns meses ou consultando dados melhores.

 

O efeito da parceria Crunchyroll/Funimation na percepção da quantidade de animes

Por fim, embora eu assista animes em qualquer idioma, de modo que a ex-parceria entre Crunchyroll e Funimation faça pouca diferença para mim, é fato que apenas o Crunchyroll transmite animes em português em simulcast.

Quem depende dessa plataforma notou um grande crescimento na quantidade de material disponível com o firmamento da parceria, e no começo desse ano, com o fim dela, notou uma grande diminuição.

Esse caso não tem nada a ver com o volume de produção no Japão, mas pode afetar percepções.

 

  1. E aí peoples Boooom diiiaa!!!

    Olha que resenha interessante!!! Então eu fui consultar a importantissima consultoria Mays & Mays Partners Inc. para saber o que sabiam do assunto e a resposta foi essa…

    “Constatação 1.
    Não há um orgão auditor da industria que produza uma massa de dados que revele alguma tendência ou viés de alta ou baixa. Se bem que o apresentado está bem consistente, considerando todas as fontes de produção e formas de comercialização de obra.

    Constatação 2.
    A industria do anime no mercado produtor (neste caso o Japão) ficou aferrado a um modelo de comercialização de obra desde os anos 60. Os canais de televisão (primeiro as abertas e depois as fechadas – cabo) tinham o “air time” os estúdios produziam o anime, o canal comprava e vendia inserções comerciais e fazia acordos de merchandising de produtos licenciados. Esse modelo perdura até hoje, mas não está sendo mais o preponderante. Todos os envolvidos tem a segurança neste modelo, mas ele se prova limitado pq “air time” de TV é limitado. E ele vai continuar por muito tempo assim como emissoras de AM analogicas por lá.

    Constatação 3.
    Somente no inicio dos anos 2000 é que comercialização de obra adquiriu status de produto de exportação pelo METI (Ministério Indústria e Comércio do Japão).

    Constatação 4.
    O que vemos é um processo de reacomodação devido ao surgimento de novas plataformas de broadcasting. Em que o “air time” é substituido pelo “on demand” em que o tempo não é limitado pelo broadcaster, mas sim pelo tempo do espectador em acompanhar a obra. Esse tempo de espectador é que é disputado, o que leva a mais tempo de analise por parte dos produtores em acertar qual obra mereça o investimento ou não. Um fato que deva ser levado em conta: as grandes plataformas de streaming (neste caso em especial o Netflix) apesar de oferecerem o capital para realização de obras e projetos elas estão a começar um processo de endividamento e alavancagem que pode se manifestar em futuro próximo. Se não equalizarem isto o cenário pode ser desastroso, mas pouco provavel a curto prazo. Então junto com a reacomodação já existe um movimento de cautela em relação a financiamento de produções novas.

    Constatação 5.
    Tudo o acima é passivel de verificação mais profunda e contestação. A Mays & Mays Partners Inc. não cobrará pelo desserviço prestado a este comentário e site e agradece futuras contribuições para o tema porque somos apenas diletantes nesta area.

    Atenciosamente,”

    Bem foi isso aí que recebi…

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Olá James, tudo certinho?

      Pelos relatórios da AJA a produção parece ter se mantido constante, o que está de acordo com a minha pesquisa no MyAnimeList (e lógico que os dados oficiais são muito mais confiáveis do que a minha pesquisa, de todo modo).

      O modelo na TV é o mesmo há décadas, mas outras pequenas revoluções, técnicas e comerciais, alimentaram a explosão nas produções após o final dos anos 1990. E foi aí que os problemas trabalhistas, já latentes, explodiram.

      Há mais animes hoje, a exigência da arte para eles é maior, não obstante animadores seguem ganhando basicamente o mesmo salário. Nesse sentido as plataformas online, como o Netflix, têm vindo para ajudar, mas não são suficientes e não são seguras – o Netflix pode contratar animação em qualquer parte do mundo, afinal.

      Enfim, esse artigo foi especulativo. A minha intenção foi só usar o meu próprio exemplo para tentar demonstrar como nossa impressão subjetiva nem sempre está correta. Por enquanto, pelo menos, nenhum sinal consistente de redução na produção de animes.

      Obrigado pela visita e pelo comentário!

  2. Grande “Mexicano” obrigado pelo tempo e atenção em resposta a este prolixo que vos fala….Primeiramente é perfeito o vosso raciocinio, sim foi no final dos anos 90 que a industria explodiu…O caso da Netflix ela pode e contrata (taí o Pachamama), e é notório que ela vai buscar produções de gosto mais regional (não somente na animação como em live action)…Mas o investimento nestes nichos vai dar retorno? Eu espero realmente que sim…
    E acho ainda que a terceirização ainda vai ficar por um tempo nas animações in between no sudeste asiatico. Os japoneses sabem que para exportar o produto pronto o selo Made in Japan ainda é valorizado. Mas a China já tá correndo atrás…
    Mas aí e ver o preview do balanço da empresa que pode sair em agosto ou setembro…E assim ter um cenário mais consolidado de que rumos as streaming vão tomar…

    E seu artigo não é especulativo é deliciosamente especulativo! Pq quem admira anime tem de saber que atrás das menininhas fofinhas, magos, monstros e tudo aquilo que nos diverte por trás está uma maquina de moer gente Abçus!!

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Em um mundo globalizado sempre haverá terceirização, o problema é que da forma como ela ocorre hoje a conta não fecha para a indústria anime japonesa. Implica em salários muito baixos para a base da carreira que é a principal da indústria. Nem todo animador vira diretor, decerto, mas muitos diretores são ex-animadores.

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