Araburu Kisetsu no Otome-domo yo – ep 11 – Cesse tudo o que a musa antiga canta
Bom dia!
Quem estava acompanhando a minha série de artigo sobre Araburu deve ter notado em primeiríssimo lugar a mudança no título. Alguns descobriram de onde aqueles títulos estavam vindo, outros não, mas mesmo assim notaram que pareciam vir de uma mesma fonte.
Esse se destaca. Não vem do mesmo lugar. Sabe de onde vem? E os outros vinham de onde? Joga no Google que você descobre, é divertido 😊
O fato é que eu tinha uma concepção do anime até agora e o final desse episódio mudou tudo. Não chega a ser uma mudança de gênero, mas foi uma mudança de foco bem grande. Você sabe do que estou falando.
Mas vou começar esse artigo como se fosse qualquer outro, porque o episódio começou como se fosse qualquer outro.
O episódio 10 encerrou com cada garota por si e o mundo contra todas.
Sugawara tentou seduzir Izumi para fazer sexo com ela. Foi rejeitada, sentiu que tinha deixado de ser quem sempre foi, e nesse estado de decomposição de sua identidade ainda escutou a Momoko se declarar para ela.
Hongou levou o professor Yamagishi até o motel e quase fez sexo com ele. Quero dizer, tecnicamente quem levou quem está invertido, foi o professor quem a levou, porque ele é um irresponsável. Inexperiente, ela se frustrou por ele não estar imediatamente ereto quando ela o atacou e parou. Nada aconteceu.
Momoko entendeu a sua sexualidade no exato momento em que suas amizades estavam em perigo. Principalmente a sua amizade com a Sugawara, e é justamente dela quem ela gosta. Ela pretendia conversar de novo com a amiga para tentar manter o grupo unido mas havia um Sugimoto no caminho, que a atacou verbal e fisicamente, deixando-a uma pilha de nervos, e então ela acabou se declarando para a Sugawara.
Essas três encerram o time das rejeitadas, ou, como disse o professor Yamagishi, das “perdedoras”.
A maior preocupação da Onodera é uma calcinha legal para fazer sexo com o namorado (ela não combinou nada disso com ele ainda, é só a insegurança a empurrando).
A Sonezaki foi impactada tanto pela Hongou, a quem ela viu entrando em um motel com o professor, quanto pela Juujou, sua recém-amiga, e pessoa importante para que ela decidisse mudar, que engravidou de seu namorado e saiu da escola. A sua vida amorosa em si não poderia estar melhor.
E o mundo não iria permitir que isso continuasse assim.
Mas cada coisa a seu tempo.
No dia imediatamente após os atos das garotas do clube de literatura, e no dia em que Sonezaki e a escola inteira soube que a Juujou engravidou porque um professor não viu problema nenhum em expô-la para fazê-la de exemplo, Momoko e Hongou tentavam pelo menos dar a impressão de que suas vidas continuavam normais, enquanto Sugawara faltou.
A escola inteira discutia sobre Juujou, e claro que não foi diferente no clube de literatura. Sonezaki, mais aberta ao amor do que nunca e amiga de Juujou, a defendia, enquanto Hongou a criticava. Moto-contínuo a Sonezaki quase denuncia Hongou, por saber o que ela fez na noite passada, para dizer que é melhor uma relação aberta, não proibida. As duas brigam.
Mais uma separação.
A Onodera depois conversaria com Momoko, e essa tenta se abrir sobre seu lesbianismo apenas para escutar da amiga que aquilo não é normal. A Onodera parece ter percebido que a Momoko estava com algum problema, mas não tinha a menor ideia de qual seria. Ela vai para o abraço de sempre, mas Momoko esquiva.
Mais uma separação.
Sugawara procura Saegusa, disposta a fazer sexo com ele para não “perder a sua juventude”. Ela ainda está presa na armadilha mental que ele criou para ela, mas se por um lado ainda não está pronta para escapar, por outro pelo menos percebeu que fazer sexo com o pedófilo ali não iria mudar nada em sua vida, e desistiu.
Ela usa uma metáfora nojenta envolvendo pelos de nariz para explicar isso depois, e é bastante adequado.
Ela também se abre para Onodera sobre amar Izumi, e sobre querer se declarar a ele, mesmo sabendo que ele a irá rejeitá-la. A Onodera continua sendo a garota mais boazinha daquele clube e absolutamente não consegue ser honesta com Sugawara, não consegue dizer que isso a incomoda, a irrita.
Onodera está insegura. Ela tem medo de perder Izumi, mas ela também tem medo de machucar suas amigas. Então ela diz umas platitudes com fundo de verdade que deixam Sugawara emocionada e depois vai embora correndo (faz tempo que não a víamos correr!), xingando mentalmente, direto para a casa do Izumi. Se eles fizerem sexo, vai ficar tudo bem.
É notável que por motivos completamente diferentes todas elas estejam procurando sexo para se reafirmar.
Onodera quer fazer sexo para não perder o Izumi.
Sugawara quis fazer sexo para não perder a juventude em vão.
Hongou quis fazer sexo para não perder para a professora Tomita.
Momoko não sei se quer fazer sexo, mas ela não consegue não pensar em como o sexo define a sua identidade como lésbica. Se ela gosta de garotas, ela tem que fazer sexo com garotas.
Sonezaki é a única que está seguindo um caminho mais natural. Nem pressa, nem medo. Deixados aos próprios caprichos, Sonezaki e Amagi eventualmente fariam sexo quando ambos sentissem que chegou a hora e é isso que os dois querem.
Sonezaki é a única feliz nesse momento.
E isso não será permitido.
É claro que alguém viu ela e Amagi na zona de motéis quando ela perseguiu Hongou porque estava preocupada com a amiga. Combine isso com uma garota que recém saiu da escola por engravidar e com uma direção absolutamente machista e despreparada, e temos a receita para uma tempestade perfeita.
Primeiro, quaisquer relacionamentos amorosos são proibidos na escola.
Segundo, a Sonezaki e o Amagi serão expulsos.
Era isso que aguardava a Juujou caso ela tivesse tentado continuar cursando a escola, não é? Não sabemos se ela escolheu sair para se casar cedo e se tornar logo uma dona de casa ou se a escola a expulsou, mas sabemos que ou a escola a expulsou ou a escola a expulsaria. É assim que eles cuidam de seus alunos – e especialmente de suas alunas. O contrário, se um aluno seu engravidasse uma garota de fora, provavelmente não ensejaria expulsão.
Consigo imaginar o cenário. Dariam uma bronca nele, com certeza, mas agora que ele vai ser pai e chefe de família, “precisa se formar e se tornar logo um homem responsável” e mais um monte de bobajada desse tipo. Garotas que se lasquem.
Esse é o ponto de inflexão no anime. O professor Yamagishi tenta conversar com diretor e vice, mas eles deixam bem claro que não importa o que a Sonezaki realmente fez ou deixou de fazer. Sua expulsão é útil para meter medo no resto dos estudantes e “colocá-los na linha”. Nunca se preocuparam com ela. Nunca se preocuparam com Juujou.
Nunca se preocuparam com nenhum de seus alunos mas em particular nunca se preocuparam com nenhuma de suas alunas.
Eu não sei se as garotas já perceberam que tudo o que as separa, tudo o que as aflige, vem de fora. É a escola, é o professor Yamagishi, é o pedófilo do Saegusa, é a normalização da masculinidade tóxica do Sugimoto, são as expectativas sociais em geral.
Com todas essas forças atuando contra elas, seus laços, tão mais especiais porque todas se sentiam párias nesse mundo, estavam sendo esticados, se esgarçando e começando a se romper.
Onodera, Sugawara, Momoko, Sonezaki e Hongou estão descobrindo agora o que é a sexualidade, o sexo, o romance. Mas antes disso elas já precisavam de amizades, que elas sabiam muito bem o que é mas cada uma por um motivo ou outro tinha dificuldade com isso.
Antes de serem corpos sexuais, elas são indivíduos que precisam de um lugar ao qual pertencer. O sexo em si é só um pretexto para que elas sejam submetidas, mas no fundo ninguém se importa desde que elas atuem de acordo com seus papeis designados.
A escola não se importa com sexo. Lavou as mãos sobre a Juujou, e pretende lavar as mãos sobre a Sonezaki.
Rejeitada pelas amigas por ser “anormal”, Momoko sempre poderia se deitar com o Sugimoto ou qualquer outro idiota que ninguém iria se importar.
Hongou chegou onde chegou em primeiro lugar porque seu editor a incentivou a ter sexo, e depois seu professor não a parou quando devia. Talvez ele se sentisse bem sabendo que a aluna tinha um crush por ele, mesmo que ele não sentisse nada por ela. Sentir-se bem deve ter-lhe dado a auto-estima necessária para se aproximar da professora Tomita. E a Hongou que se lasque – ele até acha que é “bom” para a criatividade dela.
Onodera se reaproximou de Izumi porque o ama, mas, de verdade, ela só não queria ter perdido sua amizade em primeiro lugar.
Conscientes disso ou não, a provável expulsão da Sonezaki foi a gota dágua. Deixando suas diferenças de lado, Onodera, Sugawara, Momoko e Hongou se entrincheiraram na escola e fizeram o professor Yamagishi de refém.
Exigem que Sonezaki não seja expulsa e que a estúpida proibição a relacionamentos entre alunos seja removida.
Outro valor mais alto se alevanta.
James Mays
Gente…O Fábião foi “killer” nessa…
Até o momento o que melhor define esse anime “é um contentamento descontente”….
Olha, acho que a Sugawara encontrou sua redenção…Já tirei do meu “Femme Fatale Death Note”…
Mas uma cena do ep.10 me deixa encafifado…Quando a Sonezaki e o Amagi estão na…cof cof…”Area de móteis” (tá prometo melhorar na próxima) nessa cena eles estão de costas e pára um senhor de avolumadas formas por segundos e fixa o olhar no casal (esse senhor está fora de foco), a presença dele não é notada pelo casal…Não sei…
Enquanto isso sigo minhas minhas elucubrações do evento no ep. 11 ter algo relacionado com outro evento ocorrido em 25 de Novembro de 1970 ser alguma homenagem (ou pelo menos uma menção) a um vulto da literatura japonesa (quase um Prêmio Nobel de Literatura) e que possuia uma sexualidade digamos “meio controversa”. DE qualquer forma, fica a recomendação de assistir “M. uma vida em quatro tempos” do Paul Schrader de 1985
E o Amor é fogo que arde sem se ver…
Abraços a todos!!!