Por algum acaso, vocês tem alguma noção de como passar os seus dias num ambiente totalmente natural e incerto, onde nada está a mão ou fácil de conseguir? Se não tem, eis aqui um manual instrutivo bem diferenciado e divertido, mas se tem, venha ver do mesmo jeito. Contando a história de um quarteto bem inusitado de garotas, Sounan Desu ka veio como uma boa opção de “slice” aventureiro e cômico, nessa última temporada de verão.

Assim que foi anunciado, o anime me chamou atenção pela ideia de trazer esse tema de sobrevivência de uma forma mais leve, me remetendo rapidamente a Yuru Camp. Fiquei ciente também de que eventualmente haveria ecchi em um certo nível, mas mesmo assim não me abalei para julgar a obra com tão pouca informação – e digo que é o melhor que qualquer um pode fazer.

Adapatando o mangá de Kentarou Okamoto, a série se debruça a mostrar o cotidiano das adolescentes recém perdidas – graças a um acidente – numa ilha deserta. Homare, Asuka, Mutsu e Shion tem personalidades bem distintas e noções de vida mais opostas ainda, mas o que torna a história mais interessante, é exatamente o fato de todas estarem debaixo de um mesmo problema, sem experiência ou sequer o psicológico necessário para lidar com a novidade.

Apesar de estudarem juntas, nenhuma delas se conhece nem de longe e creio que o maior tempero da obra está aí, na forma como elas de fato tiveram que abraçar o aprendizado e a mudança, se introsando, ao passo em que vão descobrindo como se virar. Todo esse processo de construção delas é o que dá o tom divertido da série, já que existe uma série de ações bizarramente funcionais para as necessidades e outras desastrosamente toscas, mas todas igualmente humanas.

As protagonistas tem seu carisma e cada uma explora bem seus clichês e estereótipos, na hora de criar movimento. Homare é a líder do grupo e a responsável pelo bem estar e instrução das colegas, sendo certamente a mais icônica de todas, pela sua natureza sem filtro, junto as soluções absurdas e involuntariamente vergonhosas que inventa em alguns dos episódios.

Tudo o que ela sabe tem origem nas suas jornadas ao lado do pai, também explorador, amante do ar livre e maior incentivo da garota no mundo da sobrevivência. Por ter um jeito mais reservado e muito conhecimento prático, no começo é perceptível que ela trata as demais como pessoas que precisa proteger e nada mais, se moldando e se abrindo, conforme as demais vão reagindo a convivência.

Pelo tempo que passou longe de tudo e apenas na companhia paterna, Homare pouco sabia como se comunicar ou dialogar com garotas normais da sua idade, até se perdendo na compreensão de dilemas ou desconfortos que só elas compreendem pela experiência comum. As outras três são aquelas que mesmo estando ali para aprender dela, também tem a função de ensinar, já que elas são a ponte que constroem o lado social deficiente da amiga.

Asuka apesar enérgica é muito tonta e tem uma função mais braçal, Mutsu serve como uma espécie de faz tudo, por ser a que melhor se adapta e entende o que cada momento exige – sendo também a voz da razão que equilibra o grupo. Já Shion evolui de parasita a pessoa esforçada, decidindo mudar quando sacou que não podia continuar inerte e mimada, frente as dificuldades que envolviam todas ali.

Um outro elemento que me agrada bastante, é a capacidade do anime de se levar a sério dentro de suas próprias limitações. É notório que mesmo nas horas em que “viajam” mais, as soluções arranjadas tem o pé na realidade e mostram o trabalho de pesquisa do autor – que inclusive me diverti bastante analisando e comentando semanalmente no “Manual de Sobrevivência da Homare”- , em conjunto com o ecchi que é muito bem encaixado e diria até que providencial.

Em alguns dos poucos momentos de tensão real, também existem sentimentos tangíveis e sem exageros nas garotas, preocupações normais que vão sendo trabalhadas em cima dos obstáculos individuais que elas precisam superar – ainda que sem tanta profundidade, dadas as condições.

O tempo apesar de parecer um inimigo pelo pouco que oferece, me pareceu um aliado, já que o anime não dispõe de um enredo tão elaborado e detalhista, a ponto de precisar de mais que 12 minutos para trabalhar o “problema do dia” e criar piadas pontuais.

Ainda nesse tópico da comédia, apesar de entreter bastante, humorísticamente falando a série é bem linear e mediana, contando com alguns poucos momentos de inspiração maior. Portanto, para que o aproveitamento e a diversão sejam maiores, sugiro que entendam esse fator cômico como um complemento e não a base da história.

Resumindo, Sounan Desu ka é bom dentro do que se propõe a fazer, e está mais do que recomendado para quem curte algo simples, que explora uma temática legal e com conteúdos interessantes no caminho, de brinde.

Agradeço a quem me acompanhou e até o próximo artigo!

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