Primeiramente, não subestimem Fate, é uma das franquias mais incríveis já feitas na terra do sol nascente. Ouso afirmar, se for para comparar com coisas ditas “ocidentais”, que é semelhante em importância e epicidade a Star Wars, ou mesmo Star Trek, mas ao invés de ser uma ópera espacial, é uma ópera heroica.

Outra coisa, sei que existe uma gama de otakus mal resolvidos e cheios de coceiras críticas que transpiram por seus poros intelectuais de julgamento moral e de valor, aonde a maioria nem se dá ao trabalho de absorver a obra para além de suas opiniões sobre ela, normalmente mal desenvolvidas e nebulosas, enfatizando ou materializando negatividades que por vezes são preconceitos camuflados, ou seja, realizam uma análise já direcionada e com pouco interesse em pensar sobre o que a obra propõe.

 

Mash

 

Para iniciar de fato meu relato de impressão desse primeiro episódio, gostaria de iluminar o anime pelo seu título. Babilônia. Uma cidade quase lendária, mas real, berço da multiplicidade e da permutação cultural e comercial. Onde o mito de Babel, a busca por Deus, culmina no desfecho onde todas as línguas e todos os povos se depararam na encruzilhada da convivência e do conflito.

Será Fate G.O uma torre que conecta todos os andares e linguagens da franquia? Onde está Deus? O que isso quer dizer? Bem, pelo clima que senti no episódio, não tem nada de ingênuo por parte da franquia escolher esse nome, a intenção desse anime, assim como já vem sendo costurado lentamente em todas as outras sagas, tais como O Fate extra, o Apocrypha e até mesmo o El Melloi II, que acabou de sair do forno e ainda nem esfriou; a intenção desse Fate G.O é exatamente conectar o universo total da franquia, contextualizando o berço dos espíritos heroicos com algo que já havia sido introduzido a muito tempo na franquia.

 

 

Lembram da profissão do primeiro Archer, vulgo, Shirou Emiya? e não o apelão do rei dos heróis. Mas sim, Shirou é um herói multi temporal e até mesmo dimensional, que vaga entre conflitos na história humana como um mercenário a serviço de uma organização que me escapa da memória agora, não sei ao certo, mas tem vínculos, ou é uma segmentação, um dos braços, da Torre do Relógio de Londres, que por sua vez é um dos berços mágicos mais importantes do cenário.

 

 

É bom lembrar também dos diversos tipos de magias já trabalhados até então, com destaque para os homúnculos dos Einzbern, ou mesmo para a utilização destes em Fate Apocrypha, ou seja, enquanto a Illyasviel era um homúnculo artificial, criada como vasilhame para o conteúdo do cálice sagrado, os homúnculos de Apocrypha são criados como soldados descartáveis, mas, ao mesmo tempo, uma anomalia possibilita que um deles incorpore o poder de um servo.

 

 

Já em Fate G.O, temos a junção dessas duas coisas, ou seja, humanos criados em laboratórios, num misto de técnicas cientificas com magia incorporada ao processo, uma tecnomagia que gera uma Designer Baby, ou seja, um receptáculo para a invocação forçada de um espírito heroico, o qual nada mais é do que uma partícula identitária que circula nas linhas dimensionais de força do universo, como bem desenvolve Fate Extra, ou seja, é uma identidade difusa que do limbo se materializa para revestir e coabitar o seu vasilhame, lhe concedendo poder. Na série clássica de Fate, esse vasilhame era sustentado pelo poder do Graal, já nessa nova abordagem, ela pode também ser alocada a um homúnculo que sustenta a sua permanência no plano material. Nasce assim um semi servo, que nada mais é do que uma usurpação da identidade, do poder e da personalidade heroica que ressoam na existência presente, uma espécie de alma que pode ser trazida de volta a vida, mas que deve se manter sob a tutela e controle daquele que lhe concedeu morada, o vasilhame.

 

 

Como isso é possível? Com um profundo entendimento do cálice sagrado, e ainda mais, com a utilização do mesmo para garantir a estrutura necessária para que avanços nesse campo fossem alcançados.

Chaldea é a organização e estrutura que tem como objetivos a correção dos erros no passado, e com o propósito de observar e prever o futuro, para assim guiar a humanidade. No entanto, ao fazer isso, se descobre que a humanidade entrará em colapso. Tudo isso deverá ser melhor trabalhado no decorrer do anime. Lembrem que Fate Extra é a história após Chaldea, onde a humanidade já cumpriu o seu papel e deixou de ser protagonista no palco da existência.

 

 

Por entre as inúmeras reflexões que esse primeiro episódio nos oferece, aliás, destaco, o potencial filosófico e existencial, aquilo que a franquia Fate nos coloca à mesa sempre com primor, se mantém em todas as adaptações da série. Aqui em G.O, não é diferente, esse episódio já vem com os dois pés no peito aos nos apresentar uma reflexão sobre o altruísmo, o como uma pessoa pode ser humana ao ser “fraca” e escolher ajudar outros em vez de ambicionar conquistas particulares, ou mesmo o quanto a jornada para se tornar um humano, no caso percorrida por um ser artificial, se deve, e muito, aos laços desenvolvidos, e o como essa pessoa enxerga o mundo e aquilo que o compõe, ou seja, o como essa pessoa valoriza, ama e respeita o mundo, e consequentemente, aqueles que nele habitam e vivem.

 

 

A série nesse primeiro episódio, já nos joga na cara a sua intenção de amarrar as múltiplas linhas de tempo e dimensionalidades que a franquia vem trabalhando. Parece que vai valorizar e dar maior destaque a muitos dos personagens, no caso os servos heroicos, que protagonizaram as diversas ramificações da franquia.

 


 

Poderia me estender ainda mais e comentar outros personagens ou momentos do episódio, mas prefiro que vejam com os próprios olhos e tirem as próprias conclusões, mesmo que seja para serem otakus que gostam de cultivar sentimentos e opiniões negativas sobre as obras, obras às quais, sem nutrirem ressentimento recíproco, e assim como a Mash, continuam nos abraçando e nos cedendo a gentileza de uma humanidade que muitos humanos estão longe de alcançar ou entender.

P.s: A insert song complementa e muito a ambientação e mensagem do episódio, ou mesmo do anime, se pretendem ou puderem assistir, deem preferencia à versão de um fansub, ou uma que contenha a tradução da música. Recomendo.

 

 

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