Tivemos um episódio focado em dois núcleos. Um deles com o Kyogoku, e outro com a Irene Adler. O engraçado é como realmente são duas histórias sendo contadas ao mesmo tempo de maneira independente. E ainda assim cheio de esquisitices. Esquisitices independentes.

Irene Adler tinha seu paradeiro conhecido por Jack, o que fez com que ela tivesse que se esconder em algum lugar. No caso, foi a casa do Sherlock o local escolhido.

Aqui um ponto muito importante da trama já é colocado em cena. O Jack quer o cartão de memória, que em teoria foi entregue ao prefeito. A possibilidade de o cartão esconder algo sobre Jack é grande mas como Jack sabe que o cartão entregue era falso? Isso é um ponto importante.

Enquanto Irene cuidava de tudo, Watson foi ignorado o episódio inteiro. Isso, nesse sentido, criou um terceiro foco narrativo, embora os problemas de Watson estão estritamente relacionados com a defesa da Irene Adler.

É aí que entra o segundo foco desse episódio: Kyogoku. É, o cara de óculos. O romance dele com aquela “garota” é desenvolvido. O anime tratou isso com bastante humor. Mas, mesmo com as cenas típicas desse anime, no final, não passou de uma grande história paralela. Uma história que em nada contribuiu, nem para o anime, e nem mesmo para o episódio em si.

Me parece que eles tinham um personagem que ainda não tinha tido nenhum episódio para si, então decidiram colocar a história aí para completar espaço. Ao menos nesse sentido, foi melhor do que se fosse um episódio inteiro. E talvez teria ficado muito monótono se tivesse somente a perseguição do Jack por todo o episódio. Então foi uma grande enrolação, mas ao menos no caso Jack houve um foco claro e preciso, sem perdas desnecessárias de tempo.

Também temos a óbvia distração feita pelo Moriarty. Ele fez com que Sherlock, Irene e Watson saíssem juntos para revirar a casa atrás do cartão de memória. Na verdade, o verdadeiro plano consistia, ao que parece, em levá-los para longe enquanto seu cúmplice adentrava o local e tomava o cartão à força. Mas talvez a insistência de Watson tenha forçado uma mudança de planos. Sai plano A, entra plano B.

Isso forçou o grupo a levar Irene imediatamente para um local novo e secreto, que somente eles tinham conhecimento. Lá, Irene, em teoria, ficaria completamente segura.

Mas, como esse anime conta uma história em paralelo, não é possível a ignorar, de modo que é necessário no mínimo citá-la. Temos o caso do Kyogoku, com seu corajoso pedido de casamento. Ele pediu aquela “garota” em casamento. Pois é, ela negou, mas parece que ele ganhou uma amiguinha, que vem com um amiguinho. Enfim, cada um faz a dieta que lhe for preferível, eu é que não irei palpitar sobre a alimentação alheia. Cada um come o que quiser.

Mas vamos retornar ao ataque à Irene. Sherlock e Watson foram distraídos, enquanto Jack atacava Irene. Primeira dúvida: seria mesmo Jack? Enfim, Irene foi esfaqueada. Quando Watson chegou já era tarde demais, porém, ele não foi o primeiro a chegar lá. Moriarty já havia chegado antes. E o que Moriarty estaria fazendo por lá? Essa é a segunda dúvida. Mas que seja, Irene Adler foi assassinada. Ela está morta. Ela está mesmo morta? Essa é a terceira dúvida.

Vamos tentar entender a primeira dúvida. Seria Jack, em pessoa, aquele que golpeou Irene? E se for, qual é a relação de Jack com Moriarty? Fato é que Moriarty poderia passar informações para o Jack, de modo que mesmo que ele fosse inocente do ato ainda seria culpado pelo complô.

A segunda dúvida é sobre o motivo de ele estar por perto. Talvez ele não tivesse a intenção de matar Irene, mas apenas pegar o cartão. Então, talvez tenha alguma coisa lá sobre o próprio Moriarty. Ou Jack tenha alguma relação que o permita comandar Moriarty de alguma forma, e desse modo pegar informações e controlar suas ações, talvez algo como uma chantagem ou ameaça. Ou, claro, Moriarty é o Jack e ele é quem está usando outras pessoas para cumprir seus objetivos.

Ainda assim, sua revelação no final do episódio foi um tiro no próprio pé. Ou seja, se esse foi seu plano, então ele deu errado, já que ele se revelar foi algo muito suspeito. Foi algo tão suspeito que o próprio Watson foi capaz de perceber, quem dera o Sherlock. Na verdade, já faz bastante tempo que o Sherlock está dando algumas olhadelas no Moriarty, como se ele suspeitasse de alguma coisa. E aí vem o próximo ponto.

Estaria Irene Adler mesmo morta? Se Sherlock foi capaz de suspeitar de Moriarty, seja como culpado principal, ou como cúmplice, não estaria ele então sendo extremamente descuidado? Se Moriarty não for Jack, mas sim um cúmplice, então faria sentido ele usar Moriarty para capturar seu real objetivo: Jack, o estripador.

Estaria Irene assistindo filmes em algum lugar?

Então, aí voltamos ao tema da morte. Sherlock pode ter armado a confirmação da morte de Irene Adler, tanto para mantê-la segura, quanto para concluir seu objetivo de capturar Jack. Então, se isso for verdade, ele provavelmente já teria um plano muito bem elaborado.

Esse até que foi um excelente episódio. Em um dos casos tivemos uma investigação até que levada a sério, e do outro uma grande e desnecessária esquisitice.

Agora uma curiosidade. O anime citou o baritsu, em que Sherlock aqui é um mestre. Eu disse “aqui” por um motivo. O baritsu foi citado por Arthur Conan Doyle, autor de Sherlock Holmes, em que seu famoso detetive disse ter certas habilidades, mas nada demais, é só “aqui” que ele é especialista mesmo.

Aliás, na época de Doyle (era vitoriana) o baritsu era muito popular e conhecido. O baritsu (ou bartitsu) é um estilo de arte marcial que utiliza diversas técnicas de outros estilos, as combinando e criando uma forma de autodefesa original. O seu criador, Edward William Barton-Wright, desenvolveu a técnica a partir de sua vivência no Japão, que durou três anos.

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