Bom dia!

Bem-vindo ao Café com Anime, um bate-papo que eu e Vinicius (Finisgeekis), Diego (É Só Um Desenho) e Gato de Ulthar (Dissidência Pop) temos todas as semanas sobre alguns animes da temporada. Cada um publica em seu blog as transcrições das conversas sobre um anime diferente.

No Dissidência Pop vamos acompanhar Hanebado!. No É Só Um Desenho vamos acompanhar Shoujo Kageki Revue Starlight. No Finisgeekis vamos acompanhar Happy Sugar Life. E aqui no Anime21 vamos conversar sobre Banana Fish.

Nessa edição do Café com Anime, leia a nossa conversa sobre o episódio 3.

Fábio "Mexicano":
Falem sobre spoiler enganoso! Eu vi aquela cena do beijo antes de assistir o episódio, fiquei até um pouco frustrado porque pareceu-me importante (e foi), mas não houve paixão nenhuma naquilo, foi só um despiste do Ash para passar uma mensagem para o Eiji. Suponho que quem cresce em um ambiente hiper-sexualizado (“crescer em um ambiente hiper-sexualizado” é um excelente eufemismo para a vida que o Ash teve, hein?) tenha facilidade em usar isso como ferramenta, sem nenhuma implicação sexual verdadeira muito menos romântica. Ou isso ou fica tão traumatizado que não pode nem pensar no assunto, mas esse não é o caso do Ash.

Mas e o caso do Eiji? Tenho certeza que ele entendeu rápido (e entendeu mesmo, qualquer confusão de sua parte e poderia ter estragado os planos do Ash ali), mas como explicar isso para sua mente, para seu coração, para seu corpo?

Na outra linha de enredo relevante do episódio, Ash conhece alguém que tem profunda ligação com seu irmão, e que está há anos pesquisando pela droga Banana Fish – que é o nome de uma pessoa ou organização, parece. Esse sujeito acontece de ter se tornado um repórter e ter se envolvido em uma briga com um policial e sido preso. E é conhecido e reconhecido na prisão! Ainda que não tenha lá muito poder naquela sociedade. Tudo somado, um presente caído dos céus para o Ash.

Diego:
O Ash encontrando o companheiro de tropa do irmão na prisão, que por coincidência só estava lá por ter agredido um policial, fora o fato dos dois caírem na mesma cela… É o tipo de conveniência que soa um tanto quanto forçada quando você para para pensar a respeito. Felizmente, durante o episódio eu só aceitei 😛 (mas não podia deixar de apontar o detalhe).

Num todo foi outro ótimo episódio. A cena do beijo dos dois foi de fato um spoiler que circulou a internet, mas que se mostrou completamente fora de contexto – então ao menos se manteve a surpresa da engenhosidade do plano do Ash (que conseguiu escrever uma bíblia numa longa tira de papel e ainda assim escondê-la dentro de uma pílula minúscula, mas ta, releva 😛 ). Melhor ainda foi o Eiji prontamente entendendo do que se tratava – já pensou se ele engole a coisa! Mostra que o japonês é ligeiramente mais astuto do que parece.

Gato de Ulthar:
O tipo de encontro como o que ocorreu entre o Ash e o amigo do irmão dele é o tipo de coincidência típica em obras de ficção, e no meu caso, nem perco tempo em me chatear com isso.
Fábio "Mexicano":
Exatamente. Teria sido melhor se fosse de outra forma mais crível, mas não atrapalha a história principal, que é o que importa. O risco é acumular esse excesso de coisas super convenientes e começar a alienar o espectador por causa disso, e como animes são séries curtas isso às vezes é bem difícil de evitar. Mas parece que Banana Fish terá dois cours, então menos pior.
Gato de Ulthar:
Sim, terá dois cours, pelo menos vinte e tantos episódios.

E falando do beijo, sim, o beijo foi polêmico, e talvez isso tenha dado no mangá a fama de yaoi para essa obra? Foi uma bela atuação do Ash, e naturalmente o Eiji ficou sem jeito com o ocorrido, mesmo dando conta de que era uma mensagem escondida. Para mim, é cedo para afirmar que os personagens nutrirão alguma relação homossexual. Mas falando do episódio em si, foi mais um bem interessante, descobrimos que Banana Fish é uma organização e que o Eiji ficou bem enrascado, e que por enquanto o Ash ainda vai sofrer na cadeia.

Fábio "Mexicano":
Não deve ficar só nesse beijo, estamos no começo da obra ainda, se só isso tiver sido suficiente para o selo Boys Love™, então no passado as pessoas se contentavam com pouco, hein? Acredito que dados os sinais (“POSSO PEGAR NA SUA PISTOLA”) e o comportamento do Ash o anime deve sim ter pelo menos uma subtrama romântica homossexual entre os dois, ou uma tensão sexual sensível.
Gato de Ulthar:
“Posso pegar na sua pistola” estou rindo muito disso.
Fábio "Mexicano":
A melhor parte nem é essa, mas sim:

“Acho que ele gostou de você”

“Por quê?”

“Porque nunca deixa ninguém pegar na pistola dele”.

Vinícius Marino:
O excesso de conveniências é típico de thrillers que enfiam muita coisa em pouco tempo. Tal como o Gato, é algo que eu aprendi a relevar. Não estraga em nada a imersão. Prefiro desenvolvimentos convenientes à toque de caixa que um build-up moroso. Pelo menos em séries desse gênero.

E quanto ao beijo? É puro yaoi-bait. Sério, a galera que assiste isso não vê animes com frequência. ? É o truque mais velho do manual, e é feito religiosamente por trocentas séries toda temporada. Não acreditam? Olhem só os outros animes que estamos cobrindo para o Café. Vai me dizer que Hanebado! e Revue Starlight também não nos metralharam com yuri-bait?

Felizmente, Banana Fish foi sagaz o suficiente para não perder tempo com picuinhas. Sim, o beijo foi um plano astuto do Ash para passar uma mensagem ao Eiji. Não sei se beijar outro homem e pegar em sua bunda na prisão seja uma decisão muito acertada. Na vida real, isto o tornaria um alvo ainda mais fácil. Mas fez sentido no episódio, e pôs um sorriso no meu rosto. Gosto de protagonistas inteligentes. Sobretudo quando eles se mostram inteligentes de verdade, e não pessoas de intelecto mediano em uma turba de ignorantes (LOGH, estou olhando para você).

Aliás, falando em sagacidade, o anime me fez tirar o chapéu. Não conhecia o conto Um Dia Perfeito para Bananafish do J.D. Salinger. Quem disse que anime não é cultura?

Fábio "Mexicano":
Acho que Banana Fish está indo relativamente rápido em sua história sem que pareça que está correndo muito rápido, e em parte isso é possível porque as coisas todas estão se encaixando sozinhas em seus lugares. É como se todos exceto Eiji e Ash fossem apenas contra-regras e assistentes de palco, deixando tudo pronto para que os dois façam apenas o que eles têm que fazer, e o que só eles podem fazer. O que inclui, claro, fanservice yaoi.

A minha primeira reação ao plano do Ash, confiando que um moleque que veio do outro lado do mundo e não entende nada de nada consiga dar conta de manter sua droga secreta protegida, foi pensar no quanto aquilo não parecia inteligente. Mas que escolha o Ash tinha, realisticamente? Polícia, maloqueiros, mafiosos, em quem ele realmente pode confiar? Talvez fosse mais inteligente, dada a situação, não fazer nada, mas se ele decidiu que o melhor era agir, e isso é perfeitamente compreensível e defensável, o Eiji, sendo alguém totalmente de fora, é a única pessoa que serve a esse papel.

Esse é o problema que o Ash tem em suas mãos, a questão imediata. A outra é o que raios é essa droga. Ele está um pouco mais perto de descobrir, mas uma vez que descubra, o que será que irá poder fazer com essa informação? Tendo em mente que seu objetivo é vingar-se do Papa Dino, e por acaso ele descobriu que aquela mesma droga também está ligada ao incidente com seu irmão.

Vinícius Marino:
Sem dúvida alguma, ele não conseguirá fazer nada sozinho. Ele precisará reorganizar uma base de atuação, agora que sua gangue foi comprometida pelo Papa Dino e pelas maquinações do Arthur. Ele ainda tem apoiadores espalhados por Chinatown, como vimos no final do episódio. Antecipo que algum outro aliado de peso grudará nele nos próximos episódios e lhe dará uma luz de onde seguir.

Repare que a série tem muito de 91 Days, mas a missão do Ash parece ser muito mais difícil. Em 91 Days, Angelo tinha o disfarce perfeito. Ele conseguiu se infiltrar na mesma gangue que queria destruir, e passou boa parte do anime “incognito”, manipulando seus inimigos sem que eles soubessem. Já Ash está por fora. Ele precisará começar do zero, ou encontrar uma forma muito escalafobética de reconquistar seu poder.

Gato de Ulthar:
Ash tem duas necessidades prementes, uma, escapar da prisão (ou ser solto), a segunda, reformar o seu bando e dar início a uma guerra de gangues. Creio que o Eiji pode se muito útil nesta empreitada, já que o rapaz é simpático e demonstra boa vontade, embora esteja sempre se metendo em confusões. Enquanto o Ash não conseguir sai do xadrez, o Eiji é o seu perfeito representante no lado de fora.
Diego:
O problema é a pergunta de o que exatamente uma guerra de gangues faria. Ash poderia reconquistar seu poder com isso, mas e depois? Vamos lembrar que mesmo quando ele controlava todas as gangues de jovens delinquentes da cidade ele ainda assim não tinha poder o suficiente para ir contra o Papa Dino.

Francamente, eu acho que nesse ponto da história nem o próprio Ash sabe realmente qual é o seu plano. Ele sabe que existe algo de muito errado envolvendo uma droga provavelmente produzida por esse “banana fish”, e que o Papa Dino quer essa droga. Para além disso, porém, ele está tão no escuro quanto nós. Então imagino que o “plano” seja tão somente conseguir mais informações torcendo para que isso de alguma forma lhe dê a cartada que precisa para se impor contra o Papa Dino.

Fábio "Mexicano":
Ele não saber qual o plano me parece algo bom. Ele não é um gênio enxadrista que planeja vinte passos à frente, ele é só alguém um pouco acima da média que tem um objetivo e vai fazendo o que julga ser útil para tanto no momento. Ele é muito mais realista do que muitos personagens “inteligentes” que costumamos ver em animes.
Vinícius Marino:
Ah, tem um montão de coisas que um chefe de gangues pode fazer. Arregimentar outras gangues. Buscar influência na política. Monopolizar o mercado negro. Já assistiram ao seriado Peaky Blinders? É sobre uma gangue de ciganos em Birmingham nos anos 1920. Parte da graça é ver como, a cada temporada, seu líder se safa de enrascadas e aumenta sua influência com todo tipo de tramoia. Em uma ocasião, corrompe a polícia para ficar a seu favor. Em outra, manipula comunistas para fazer a “revolução” nos negócios de seus inimigos. Em outra ainda, busca favores no governo e se lança deputado.

Tem um arco super divertido sobre a tentativa britânica de restaurar a monarquia russa após da Revolução de Outubro. O líder da gangue primeiro se voluntaria para roubar blindados e entregá-los aos monarquistas, depois aceita ajudar os comunistas para destruir o comboio. Tudo lucrando em cima, claro.

Enfim, o que eu quero dizer é que o Ash só precisa ser criativo. O anime começa com uma operação militar, afinal de contas. Não é insensato supor que venha a se meter com o complexo militar industrial – e todas as benesses que ele traz para quem esteja disposto a sujar as mãos.

Fábio "Mexicano":
É quase certo que os militares estejam envolvidos nos negócios relativos a essa droga, e por mais poderoso que Papa Dino seja, aposto que as Forças Armadas dos Estados Unidos são mais.
Gato de Ulthar:
Falando sobre droga e o governo americano, não é muito um segredo que a maior parte da guerra contra as drogas não funcione justamente pelo interesse estatal em tais entorpecentes. Não é de hoje que suspeita-se que os EUA se beneficie e proteja instalações de cultivo e produção de drogas no Afeganistão e no Iraque, principalmente a papoula, para a produção de heroína, e, curiosamente, o Banana Fish se mostrou primeiramente no Iraque, uma baita coincidência.
Fábio "Mexicano":
Bom, mas no mangá originalmente é o Vietnã, lá se produz drogas também? E vale lembrar ainda que os EUA se meteram lá para limpar a bunda dos franceses, que não aguentaram o tranco, e tudo na verdade foi uma guerra indireta contra o bloco comunista. O cenário muda completamente quando substitui-se o Vietnã pelo Iraque.
Gato de Ulthar:
Sempre me esqueço que é uma adaptação de um mangá mais antigo que a própria guerra do Golfo, que também se passou na região 😛 Mas veio bem a calhar essa mudança, já que o Iraque e região são fortes produtores de droga.
Fábio "Mexicano":
Ou veio bem para confundir 😃
Diego:
Acho que esse é o tipo de confusão que veremos bastante no anime. Vamos lembrar que ele vem dos anos 1980, mas foi modernizado para o nosso tempo – mesmo que com toneladas de anacronismos. Quem garante que o Iraque não foi a guerra escolhida em parte porque bateria com o plot da fabricação da drogas por esse Banana Fish? Vai ser difícil identificar intencionalidades em uma obra como essa 😛
Vinícius Marino:
O pessoal do ANN chegou a dizer que prefere interpretar a série como “uma década de 1980 alternativa em que existiam smartphones”, tamanho é o número de anacronismos. Eu não poderia me importar menos. Como já disse aqui, acho até charmosa essa vibe pseudo-retrô.
Fábio "Mexicano":
Bom, eu não conheço nem a velha nem a nova Nova Iorque, então para mim tanto faz como tanto fez 😃 Mas notar grandes (Guerra do Vietnã que virou Guerra do Iraque) e pequenas (a cidade) diferenças provocadas pela adaptação parece que vai ser uma das graças do anime.

Então até semana que vem!

Comentários