Tudo foi muito complicado nesse final. Babylon acabou e nos deu um último episódio cheio de discussões e possíveis teorias. Então, vamos arregaçar as mangas e destrinchar o que teve e até o que não teve nesse último episódio.

Logo no início Alexander evita que uma garota, Kanae, cometa suicídio. Eu não gostei da resposta dele, mas ao menos a garota não se matou. E logo após isso ele teve uma epifania, ele entendeu o que é o bem. Continuar, isso é o bem.

Ah, tudo resolvido… se não fosse pela Magase. Ela revirou esse episódio de ponta cabeça. E também revirou muitas cabeças, entre elas a do próprio Alex. Ele foi tentado a provar da morte. Bem, tiremos um tempo para falar sobre a Ai.

A influência da Magase, e digo mais, a própria personagem não corresponde àquele mundo. Ela é uma personagem criada para ser usada de maneira simbólica, para ser uma metáfora, ou quem sabe uma grande alegoria.

Seizaki matou Alex, pois se isso não fosse feito seria passado a todas as pessoas do mundo a mensagem de que o “suicídio é bom”, o que seria catastrófico.  E em seu confronto com Ai é questionado sobre o bem e o mal. Ele diz que são “continuar” e “acabar”, respectivamente. A última frase da Ai, com todos os problemas da tradução, me parecem querer dizer que o mal seria feito, que ela iria matar, ou deixar-se matar.

No fim, poucos que ouviram falar dela sobreviveram, e a população civil nunca ouviu falar dela mesmo com seu grande papel na lei do suicídio. Ela é um fantasma, uma força das sombras. E não acho que isso foi acidental. Eu parto da ideia de que Magase é mais que uma personagem, ela é um símbolo.

Aliás, Babylon esbarra em um certo problema da moral. Ainda que se saiba o que é o bem, quem diz que nós iremos sempre o escolher? O desejo, a tentação, é isso que o anime nos lembra. Ai falava sobre tolerar quem quer o mal, e de fato, Seizaki nunca soube responder esse problema.

E aqui entra o paradoxo. Se para evitar o “acabar” fazemos algo “acabar”, criamos um ato que é ao mesmo tempo moral e imoral. E pior, já que o “acabar” não se pode fazer “continuar” pois estaria impedindo o próprio “continuar”, sendo assim uma ação má. Complicado…

Aliás, a moral está nas consequências de um ato ou no ato em si? Ou seja, é a intenção do mal que conta ou as suas consequências? Não lembro se o anime levantou esse ponto, mas isso justificaria os atos do Seizaki. Ainda que eu seja mais atraído pela ideia de que tanto a intenção quanto as consequências importam.

No final das contas, Babylon deixa diversas pontas soltas. É discutível se Babylon falha ao abordar a questão do bem e o mal, porém sua importância na trama e suas contradições não deixam de ter grande valor.

Mas o grande problema é a questão do suicídio. Esse ponto é deixado de lado, ou melhor, não é dado um desfecho satisfatório. Todo mundo queria saber o resultado da lei, mas nós não sabemos dos desdobramentos daquele mundo. Foram muitas as pontas soltas deixadas por esse final.

E no fim, os dois grandes protagonistas não passaram de peões

Mas sairei em defesa da resposta que aparenta não ter sido dada. Não sabemos o fim que a lei levou, mas a discussão sim. Pois, o começo da primeira parte trouxe o problema do suicídio, e seu final trouxe a questão moral à tona. E por fim, tanto a questão moral quanto o suicídio foram unidas. Não havia mais 2 pontos, mas somente 1.

Então, toda crítica quanto a falta da resposta sobre a questão do suicídio deve ser dirigida a questão moral e a seus desdobramentos, respostas e conclusões quer sejam ou não contraditórias.

E se tudo não passar de uma grande alegoria? Vamos lembrar que no começo, o anime trata da justiça. Esse é o grande foco do começo. Então, aos poucos a justiça é abandonada. Em parte pelos questionamentos da Magase, em parte pela própria incerteza do mal. No fim, bem e mal são compreendidos, e Magase é a grande culpada disso tudo. Pode ser feito um paralelo bíblico desses acontecimentos.

Deus seria a justiça. Seizaki seguia a justiça, ele era como Adão. Magase seria a serpente, ela seria a “tentação”. Mas “Ai” é “Amor”, amor a quem se não a Deus (a justiça)? Foi por querer conhecer o bem e o mal que Eva foi tentada pela serpente, ou seja, para querer compreender Deus. Assim como Seizaki que tentou compreender a justiça. Foi tudo pelo seu amor a justiça.

Mas no fim, por comer do fruto o homem foi expulso do Jardim do Éden. E pior, perdeu a imortalidade. Deus havia dito ao homem “…da árvore do conhecimento do bem e do mal não deves comer, porque no dia em que dela comeres certamente morrerás” e sempre quem come do “fruto” da Magase também está fadado a morte. Pois a morte é o castigo de quem come desse fruto, assim como no anime.

Ou seja, a Magase tenta as pessoas ao pecado, é a tentação de experimentar e conhecer o que não se deve experimentar e conhecer, e o que por sua vez leva até a morte. Mas claro, essa comparação é um paralelo, não estou dizendo que essa era a intenção do anime. Só é algo curioso de se pensar.

O que o anime de fato deixou claro é que o nome do anime faz referência a meretriz da Babilônia. Então o G7 seriam os 7 reis, e até aqui faz sentido, mas era para a meretriz morrer no final disso tudo. Isso aconteceu? A cena do tiro não deixa claro.

“Ara, ara” – Magase Onee-san.

Mas ela não morreu, como bem vemos na problemática cena final. Porém é como eu disse, ela é uma personagem simbólica, portanto mesmo o final pode ter valor também simbólico. Em conversa com um colega de blog, o Kakeru, me foi apresentado a ideia de que o final representava a eterna repetição do bem sendo corrompido pelo mal. Concordei de imediato, pois essa ideia me parece fazer bastante sentido.

Mas aqui vem uma coisa que tanto é um defeito quanto uma coisa muito interessante de Babylon. De fato as respostas no final falharam, porém, o anime permite que o espectador de sentido a seus acontecimentos e responda suas questões. Ou seja, é na ausência de sentido desse final que nós podemos atribuir qualquer sentido nosso.

Enfim, Babylon acabou e não teve um final muito bom, mas não diria que foi uma decepção. Foi o que foi, mas agora acabou. Obrigado pela atenção e até.

  1. [ Mɑtheus Mɑd. Silver ]

    Acho o final totalmente coerente e ele não foi ruim, o anime deu sua mensagem e esse foi o objetivo da obra desde o início. Vc pode não ter gostado do final, mas dizer que ele foi ruim, sem sentido.

    • Concordo contigo. Eu não achei o episódio decepcionante pelo que teve, mas pelo que não teve. O problema aqui foi as pontas soltas mesmo. Além que as discussões continuam válidas.

  2. Heeeellloooo Peoples!!! James chegando e já indo!!!
    Oia, sendo breve…Babylon…Um bom começo, premissa ótimas, muitas expectativas…E no final o cara se embananou…Tentou ser um Alan Moore e…Quebrou a cara!! Mas fica a experiência…E só o que tenho a dizer…A defesa não tem mais nada a contestar a corte MMº!

  3. Desde o começo o anime nunca deu respostas diretas, mas reflexivas e com sentido abrangente. O final foi tal qual o começo, deixando a forma como cada um interpreta ou encontra as respostas para as questões por si mesmo. Sendo assim, essas respostas podem diferir de indivíduo para indivíduo, pois é tudo questão de o que você interpreta como sua própria verdade, no que você acredita. Na minha opinião, o anime cumpriu o seu dever, e como você disse “há um sentido na falta de sentido”. Gosto de pensar na Nagase como um mal simbólico, como se podesse estar em todos os lugares, utilizar-se de todas as faces e excitar o mal que existe nas pessoas, fazendo-as provar do proibido e cair por ele. No fim, talvez o conhecimento seja tanto um presente quanto um mal para os seres humanos. Tudo é complexo demais para ser definido como estamos acostumados.

    • Estou contigo nessa. Até hoje ainda não tenho certeza sobre o quão Babylon é realmente confuso e inconclusivo. E mesmo se for, se até que ponto isso é proposital ou uma falha do autor. Assistir uma obra traduzida de um idioma como o japonês é muito problemática, ainda mais quando o anime já é uma adaptação de uma novel. A adaptação tem inúmeros méritos, mas sabe-se lá quantos diálogos importantes se perderam. Mas mesmo nesses casos acho que o anime continuaria válido e altamente recomendado pelas suas diversas reflexões e seus incríveis diálogos.

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