Nami yo Kiitekure (Wave, Listen to Me! é o título internacional da obra) é um anime do estúdio Sunrise que adapta o mangá homônimo de ninguém menos que Hiroaki Samura, autor de Blade: A Lâmina do Imortal, o cultuado (e ótimo) mangá que a Conrad não terminou, mas a JBC sim. Blade, inclusive, teve anime que finalizou na temporada de janeiro e você encontra no Amazon Prime Video.

E do que trata Wave (acho mais fácil usar essa abreviação)? Da vida adulta de Minare Koda, uma mulher de 26 anos que fala pelos cotovelos e terminou com o namorado. Não dizem que uma dor de cotovelo pode mudar a vida das pessoas? Pois então, é o que acontece com a vida dela. E essa mudança envolve bebedeira, rádio, pão de queijo (sim, pão de queijo) e um urso. Se beber não fale com um produtor de rádio aqui vamos nós!

O anime inicia da forma mais aleatória possível, com a protagonista falando como se estivesse transmitindo para a rádio enquanto está em uma floresta observando um urso a pouca distância. Por um momento pensei que ela estava arriscando a vida para chamar a atenção do público, mas não, o mundo do show business é mesmo uma fábrica de mentiras. Mas nem tudo foi artificial, muito pelo contrário, pois ela é sim muito engraçada.

A forma como ela fala, transbordando emoções na voz, dramatizando enquanto se expressa não só através das palavras, mas também de gestos e das mudanças na entonação é simplesmente sensacional. Estou escrevendo com os pés, pois bato palmas para a brilhante atuação da Riho Sugiyama, seiyuu da Minare.

Se você for olhar no Myanimelist vai ver que ela tem poucos trabalhos, mas, assim como a heroína dessa história, é da província de Hokkaido. Tenho certeza que ela foi escolhida afim de preservar as características de voz de uma mulher “típica” da região e posso não poder afirmar que isso foi feito, mas, de toda forma, a escolha foi ótima, pois é sua atuação de voz que dá vida ao anime.

É um pouco o que ocorre com a Kotoko de In/Spectre (Kyokou Suiri), a diferença é que no anime de youkais a voz dela não é o centro da trama, é mais posta para trabalhar a esmo. Aqui Minare fala pelos cotovelos e é justamente essa sua personalidade despojada, potencializada pela bebida (é verdade), que a joga de cabeça no mundo do rádio. De uma forma louca, não se pode negar, mas bem autêntica, não se pode negar também!

Já devo ter ouvido falar de alguma história de comunicador(a) que foi recrutado(a) assim, em uma conversa relaxa de bar, tecendo uma opinião franca sobre um assunto qualquer. Eu acho bem legal que a história de como ela acabou se transformando em radialista seja assim, porque não é comum, mas você acredita ser possível justamente pela sinceridade e personalidade que ela passa.

Não tem como não se deixar cativar ao menos um pouco pela personagem, é automático, ainda mais quando o anime começa invertendo a ordem narrativa (o que, nesse caso, caiu como uma luva), expondo o “dia a dia” dela em seu trabalho na primeira metade do episódio e na segunda contando como ela foi parar ali. Digo, expondo o que a princípio parece um ato suicida, mas na verdade é só uma atuação para lá de apaixonada.

Um comunicador (seja ele qual for, em que mídia esteja) é sempre em algum nível um personagem e a Minare não foge a regra, a diferença é que esse personagem já era uma versão do seu dia a dia. Ou se não do seu dia a dia, uma versão que ela poderia muito bem acessar fosse tomando uns drinks a mais ou em uma conversa mais íntima. Não à toa as pessoas são cativadas por essa espontaneidade.

Não que esse sucesso tenha sido mostrado no anime, mas acredito que em episódios futuros fique claro, além de que não a dariam um programa se ela não prendesse a atenção dos ouvintes, né? E um programa super inusitado que mistura leitura de cartas do público, exposição de opiniões sobre o que aflige os ouvintes e dramatização. Acredito eu que um desabafo mais franco e focado em um ou vários assuntos deva rolar às vezes.

E pronto, essa é uma das fórmulas para o sucesso. Os outros personagens têm menor relevância nesse contexto, mas foram bem usados para explicar a situação inicial e construir a situação corriqueira. Inclusive, o ex dela se duvidar foi mais personagens que todos os outros pelo tanto de vezes que foi citado, esculhambado, amaldiçoado. Ele merecia, eu sei, mas que foi engraçado de ver ela reclamando foi sim, foi muito.

Quanto a Minare, também achei legal mostrarem como ela caiu de paraquedas no mundo do rádio, como tudo foi realmente um insight do produtor. Ela já tem emprego e é em um restaurantezinho bem charmoso, o qual, inclusive, serve iguarias de outros países e, por coincidência para os brasileiros, uma das expostas nesse episódio foi o famoso pão de queijo que, independentemente de onde você more, aposto que já provou!

Se você for mineiro, então, pode até estar comendo um agora kkk… Zoeiras (ou não) à parte, assim como a Minare, não quero cair no erro de taxar indivíduos por estereótipos do lugar onde nasceram, ainda que eles sejam até uma versão piorada disso. Não que seja o seu caso, mas foi o do ex dela. Aliás, não é bem legal acompanhar um anime em que a protagonista é uma mulher adulta com problemas de mulher adulta?

Animes em que adultos são os “heróis” ou as “heroínas” não são tão comuns, ainda mais quando mantém os pés nos chão sobre os problemas que pessoas normais têm. Porque o problema da Minare, o que a levou a trabalhar em um programa de rádio, é um problema normal para qualquer pessoa normal da idade dela. Quem nunca sofreu de dor de cotovelo que atire o primeiro pão de queijo que eu abocanho!

O que mais posso comentar sobre Wave? Que curti as citações a estrelas (sejam japas ou internacionais), que me diverti e ri horrores com o falatório frenético da protagonista, que adorei o delicioso elemento “pão de queijo”, mas o que me ganhou de cara foi a aproximação do urso e a luta com ele? Sim, tudo isso e um pouco mais. Wave não é para amadores, apenas para profissionais em bons animes, pois é um achado daqueles!

E você deu sorte de acompanhar anime de temporada justo na época em que ele está sendo lançado, então está esperando o que para acompanhar essa história para lá de pitoresca e ler os meus artigos sobre o anime (e sobre outros animes também, preciso vender meu peixe) aqui no Anime21?

Caro(a) leitor(a)! Eu vou levar a cultura otaku até você nem que eu tenha que te perseguir até os confins do universo!

Até a próxima!

  1. Realmente é bem divertido o anime ! Pena que eu tenho que pausar quase toda hora para ler a legenda pois ela fala muito rápido e é quase impossível acompanhar a legenda e olhar para as cenas ao mesmos tempos porém sinto que isso é mais umas das coisas que te cativa no anime. Estarei pronto para as próximas análises !

  2. O anime teve uma estreia bem divertida. Só tenho pena é a velocidade com que a protagonista fala, é humanamente impossível ler as legendas e ver as personagens ao mesmo tempo. Espero que os próximos episódios nãos sejam sempre assim, é chato ter pausar o episódio toda a hora só para ler as legendas.

    A protagonista a meu ver que levará o anime adiante, de todo o episódio as cenas dela foram as que mais gostei (ela a falar pão de queijo devia ser guardado como tesouro para a humanidade).
    O design mais maduro das personagens é muito bom, em especial o design da protagonista. O que mata em alguns momentos o design dos personagens é aquela sombra maldita nos olhos deles, parecem cataratas.

    Antes de terminar, o segmento do urso foi demais, aposto que Golden Kamuy morreria de inveja se visse um tão bem feito.

    Como sempre, mais um excelente artigo de primeiras impressões Kakeru17.

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