Listeners é um anime rock ‘n’ roll, mas a música não é exatamente a finalidade da obra, apenas o pano de fundo, o conceito por trás da aventura. Uma história que mexe com a identidade, a realização de sonhos e a salvação do mundo (mas também pode ser só eu esperando demais do plot). E tudo isso animado pelo estúdio MAPPA. Quer prato cheio melhor que esse?

Na história acompanhamos Echo (que significa literalmente “Eco”, todo mundo sacou isso, né?), um jovem catador de lixo que vive em Liverchester (uma mistura de Liverpool, cidade natal dos Beatles, e Manchester, cidade natal do Oasis) e se prende a um dia a dia em que cata peças e só isso basta, mas, na verdade, ele quer ver um Player (uma espécie de herói em seu mundo) usar o equipamento que ele construiu e com ele derrotar “Surdos” (vi em inglês, então adaptei a palavra que usaram), criaturas monstruosas que atacam humanos. É ao encontrar uma Player, uma garota sem memórias, no lixão que sua vida muda para sempre.

Antes de mais nada, eu vi sim as referências a banda britânica Oasis ao longo do episódio (seja em seu título ou no nome do bar da irmã do protagonista, o Echo) e como grande fã da banda confesso que já aí o anime me conquistou, pois pode ter passado longe de ter sido uma aula de rock, mas certos detalhes foram bem espalhados ao longo da estreia e com isso não consegui desligar a trama da música enquanto seu conceito.

Até porque os inimigos são chamados de “Earless” (portanto, não “tem” ouvidos), além de que para um Player transformar um equipamento em um mecha ele precisa se conectar a ele. Um Player é uma espécia de ser híbrido que foi criado justamente para combater essa ameaça? Não sei os detalhes, mas eventualmente devem explicar melhor. O importante é como a ideia da conexão para prosperar é passada através do que ela faz.

E isso não é nada inesperado, porque um dos grandes baratos da música é justamente esse, promover a conexão entre pessoas, entre ideias, entre histórias; ainda que sem qualquer conhecimento prévio ou uma realidade que aproxime. Não sabemos nada do passado da heroína (porque foi jogada viva no lixão), mas sequer é preciso ela saber quem é para que se conecte, que se alinhe, que ressoe, com Echo. Juro que não foi trocadilho…

Quer mais uma (possível) referência? Ou seria easter egg? Myuu/Mu (não sei como está escrito no episódio que você viu) é μ, a décima segunda letra do alfabeto grego e também metade do nome do grupo que originou a franquia Love Live!, a μ’s (Muse). Além disso, Muse é o nome de outra banda de rock britânica super famosa (mas ninguém lembra dela), que, por acaso, é minha banda favorita. Não é o Oasis, mas adoro eles também.

Okay, talvez eu só esteja forçando easter egg ou coisa do tipo, mas o importante é que esses detalhes (não tanto esse, mais os outros que citei mais acima) ajudam a criar o clima, a adornar o ambiente. Somando isso a um jovem dividido entre a vida chata e medíocre que leva e sua fome por aventura, é impossível não pensar que Listeners dialoga com a música, com o rock, com essa ideia de liberdade e ousadia que cerca o gênero.

Escrevendo mais sobre os personagens e a trama, gostei bastante de como os acontecimentos fluíram, de uma forma mais jogada, mais displicente. A garota brigou com o garoto, saiu para a estação, mas daí ele foi até o tal monumento para ajudá-la e então os dois fugiram juntos sem sequer se despedir da irmã dele. É esse “espírito livre” que eu espero desse tipo de obra, esse jeitão “deixa a vida me levar, vida leva eu…”.

Porque samba também é rock, ou ao menos dá para misturar. Enfim, gostei dos personagens, principalmente do equilíbrio que vislumbro na personalidade dos protagonistas. Ele mais comedido, só que ainda assim sonhador, ela bastante passional, e até por isso preocupado consigo e no que ou quem está no entorno. É o tipo de dupla que deve passar por muita coisa e amadurecer, até mesmo se conhecer melhor, em meio a isso.

Até porque a μ não tem memória alguma e o Echo ainda vai experimentar muita coisa pela primeira vez em uma aventura que não deve fazer ele viver para sempre, mas vai marcar sua vida para sempre com certeza. Aliás, Live Forever é um dos maiores hits do Oasis e, em minha humilde opinião, a melhor música do álbum de estreia da banda, o Definitely Maybe. Se você ainda não ouviu a música ou o álbum sugiro que faça isso agora!

A referência ao Oasis é tão escancarada que a fonte usada no título em inglês do episódio é a mesma (e se não for a mesma é uma praticamente igual) a do logo da banda. Além disso, não é episódio 01, mas track (faixa) 01. É um anime musical com todos os contornos mesmo, a diferença é que Listeners não é um anime sobre bandas, músicos ou fãs; mas, creio eu, sobre o poder da música nas vidas das pessoas, como ela é importante.

Outro easter egg, esse bastante descarado, foram os dirigíveis em certo trecho na cena em que o Echo explica o mundo para a μ. Não sei se você sabe, mas um dirigível estampa a capa do primeiro álbum do Led Zeppelin e qualquer rockeiro que se preze tem que fazer essa relação, né. Quem trabalha com o anime não parece nada amador no que compete aos conhecimentos sobre o gênero então foi proposital sim, fica aí a curiosidade.

Ademais, a animação está ótima e ainda que você não goste do CG na hora em que o robô aparece e luta, não pode negar que é uma economia de recursos justa e que não está horrível nem nada assim, dá para assistir. As lutas não devem ser grandiosas nem nada assim, imagino que o desenvolvimento dos personagens e as aventuras que vivenciarem serão o foco. Quanto a trilha sonora, eu adorei o que ouvi, só faltou música do Oasis…

Zoeiras (ou não) à parte, o único quesito em que o anime não funcionou tão bem para mim foi em ritmo, pois os acontecimentos até que ocorreram de maneira “largada” e curti isso conceitualmente, como comentei mais acima, mas achei que algumas cenas não fluíram tão bem, seja por causa de diálogos ou das ações dos personagens. Além disso, os joguinhos de palavras com teor sexual me fizeram rir, mas eram mesmo necessários?

Fiquei incomodado mais por causa dessa transição entre cenas que acho que pode melhorar do que com as brincadeiras questionáveis (ou não, talvez eu só esteja me sentindo culpado por ter me divertido tanto), mas nem é por isso que não vou dar 5 estrelas a estreia e sim porque acho que poderia ter sido ainda melhor. Mas foi ótima, me diverti muito; gostei do mundo, dos conceitos e das possibilidades que o anime pode entregar.

O final com aquelas três Players não me animou tanto, imagino que sejam personagens mais ou menos antagônicas que vão aparecer para infernizar a vida da dupla, entretanto, gostei do velho ter falado em alto e bom som o nome do Player que abalou a cidadezinha de Liverchester. Por quê? Porque quando ele aparecer já saberemos quem é. E ele vai aparecer. Inclusive, deve ser importante na jornada dos heróis.

Confesso que vi o anime e passei batido pela sinopse, adorei a “capa” e comprei a ideia por ela (ainda mais por ser do estúdio MAPPA), então vim meio ignorante sobre o elemento mecha na série, mas não tenho nada contra ele e acho até bom que seja outra coisa que não vida de músico e/ou fã, apenas se aproveite da música para construir uma história que promete ser divertida e, acredito eu, tem tudo para ser boa.

Até a próxima!

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